Pediram-me para trazer aqui à colação uma proposta de dieta equilibrada.
Bem lhes disse que vinha por aí o Carnaval, e que mais lá para a Quarta-feira de Cinzas falaríamos em dietas.
Mas não colheu esta sábia (desculpem a presunção) observação. Queriam mesmo umas receitas que dessem tréguas ao trabalho dos sucos digestivos. E já.
Decidi então vingar-me e propor uma “dieta” à minha maneira. É uma proposta de dieta para os dias de Carnaval que se aproximam.
Será equilibrada? Ponham as travessas à cabeça e logo verão.
Ao levantar: um Gin Tónico com pouca água tónica (lá está a dieta...ter cuidado com as quantidades!); umas amêndoas salgadas. Em sendo casado ou comprometido pode substituir o Gin por Vodka, que cheira menos a álcool. Livre-se do pão e dos croissants!
Pelas 11.00h: um café (mas curto, atenção às quantidades!), mais uma vodka bem aviada (em copo de bagaço para não aumentar a contagem calórica), um pires pequeno a médio de Azeitonas de Elvas, recheadas.
Almoçar impreterivelmente às 12.30H para dar tempo de enfiar o lanche na “matraca” antes da janta.
Sugestão para este Almoço: Tripas à moda do Porto. Dispensar o arroz branco que costuma acompanhar. Beber uma garrafa de 0,75l de Tinto feito com desengace (os bagos do engaço sempre engrossam o vinho e ao bebermos apenas 0,75 l estamos também a reduzir em muito a quantidade de líquido que é costume enfardar). Evitar digestivos ao almoço. Guardam-se para o jantar (bom senso e redução calórica importante!).
Pelas 16.30H o lanche: Duas sandes de leitão e um penalty, mas pedir para retirarem a pele. Está provado que a pele do leitão engorda bué.
Às 19.30H o Jantar: Terá de ser Peixe, para que a dieta seja mais equilibrada.
De preferência Peixe cozido ou grelhado, está claro! Assados nunca!
Recomendo então um Bacalhau Cozido com todos, mas onde se retiram as couves e as cenouras do acompanhamento. Apenas batatas, não mais do que 6 por pessoa. Também por pessoa: dois ovos cozidos, meio kg de grão de bico , e - vá lá para não ser tudo sacrifício - uma meia cebola também cozida.
Acompanhar com salsa e alho picados miúdos (está provado que são bons facilitadores do trânsito), salpicar o prato com colorau a gosto e regar com azeite virgem extra abundantemente (também facilita o trânsito).
Para servir de companhia a este sóbrio jantar , uma garrafa de 0,75 l de um branco da Cartuxa (passe a publicidade). Há aqui um truque de dietista: Ao evitarmos o Tinto guloso normalmente associado ao bacalhau estamos a contribuir para que a dose consumida do fiel amigo não ultrapasse uma travessa normal (50 cm, funda).
Às 21.30H um pouco de exercício: sentar-se em frente à TV e beber um belo whisky de malte. Mas atenção: utilizar copos de Porto e não os habituais Balões! O exercício consiste em levantar por várias vezes (as que conseguir) o copo à boca, na posição de refastelado.
Uma das recomendações de todos os profissionais da nutrição é nunca nos irmos deitar com o estômago vazio! Aconselho assim que tenham sempre à mão, perto do cadeirão, um prato de petit fours da Versailles
24.00H: Será normal aproveitarem a quadra carnavalesca para “abanar o capacete”. Não o recomendo sem garantir que intervalam sempre a cerveja com um “spacer” à vossa escolha. Como não concordo que se misture álcool, pode ser outra vez com a vodka.
Nota final: Se fizerem esta dieta durante os três dias do carnaval garanto que na madrugada de terça-feira gorda perderam (pelo menos) a vontade de comer. Podem também ter perdido a carteira e o telemóvel…E, com sorte, falaram diversas vezes com o amigo Gregório.
Em Conclusão: Após a desbunda carnavalesca, o festival romano da “carne” em todos os seus aspetos rabelaisianos mas também sexuais, inicia-se com a Quaresma um período de mais calma para o estômago, fígado e outras vísceras.
Este período anual de pausa higiénica judaico-cristã tem contrapartidas na religião muçulmana, na hindu e por aí fora, incluindo em muitas culturas aborígenes erradamente consideradas fora do “mainstream” civilizacional.
Com estas práticas de alguma prudência pretende-se dar descanso ao corpo e centralizar o espírito.
Mesmo fora de considerações morais ou religiosas, a sua observação para crentes e não-crentes tem a vantagem de preparar o saco das tripas para mais e melhores (devemos ser otimistas) aventuras à mesa (e fora dela).
Devo dizer que, se seguirem de perto as instruções dietéticas anteriores, estarão mais do que preparados para fazer um mesito de abstinência e de mortificação. Depois de terminar a dita “dieta” até agradecem uns dias de água e alface…
Manuel Luar