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Quem disse que na Passerelle não se joga à bola? ModaLisboa Luz 2017

A ModaLisboa Luz, que decorreu entre os dias 5 e 8 de outubro, no Pavilhão…

Texto de Andreia Monteiro

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A ModaLisboa Luz, que decorreu entre os dias 5 e 8 de outubro, no Pavilhão Carlos Lopes no Parque Eduardo VII, mostrou que estes dias não se limitam a apresentar tendências e coleções, mas também a trocar ideias e discutir o papel da Moda nas nossas vidas. Este ano, o pensar a Moda esteve mais próximo de todos.


Jornalistas, fotógrafos, amantes de moda e curiosos ocupam os seus lugares. As luzes baixam e a música épica enche a passerelle. Iria começar mais um desfile, desta vez o de Nuno Gama. Ao fundo vemos personificações de estátuas brancas que se alinham com a plateia, fitando-a. De bastão elevado ali ficam enquanto outros manequins exibem camisas penduradas numa vara branca. Por entre luzes azuladas, todos se retiram da passerelle e começa o mostruário do trabalho do estilista. Todos os modelos estavam cobertos a tinta branca, que era a cor predominante das vestes que exibiam. “Of your glass hands carried” é a frase exibida na parede. Dois modelos param e colocam-se costas contra costas. Eis que começam a fazer acrobacias, tudo enquanto outros continuam a desfilar. Rodas, piruetas e saltos passaram a surpreender a audiência durante o desfile. Nunca se sabia quem iria recomeçar a corrente. Eis que dois modelos entram a jogar à bola. Que mais faltava para quebrar todos os pressupostos do que é um desfile de moda? A estrutura final em que, guiados por um guitarrista, os modelos se estratificam numa configuração heroica que ocupa toda a passerelle. Nuno Gama atravessa-os, uns em pé, outros de joelhos, e cumprimenta-nos.

O Gerador esteve à conversa com a Eduarda Abbondanza, presidente da ModaLisboa, que nos falou sobre a estrutura desta edição e das novidades que trazia. O primeiro apontamento destinou-se ao local escolhido – o Pavilhão Carlos Lopes - que veio permitir novas iniciativas. “Este ano temos um espaço que a maior parte das pessoas não conhece, porque ele esteve desabitado durante mais de 10 anos, muito central, em Lisboa, no topo de uma das colinas. Isso, só por si, é gerador de uma dinâmica e movida, também com a ajuda do universo e deste calor fora de estação, que permite que estejam muito mais pessoas aqui do que as pessoas que vêm só para os desfiles. Há muitas atividades, ou seja, as pessoas podem vir aqui e sentem-se bem, sem que haja aquele stresse de não terem bilhete para entrarem no desfile.” Eduarda destaca que esta localização permitiu criar espaços acessíveis a todos e que promovessem o bem-estar de quem ia assistir aos desfiles, mas também daqueles que apenas queriam passar por lá. “Isso tem a ver com o espaço, com o que ele permite e com termos sido inspirados por esse mesmo espaço e termos conseguido criar lounges, esplanadas, o Wonder Room pode ser cá fora, temos um calendário de ativações para o Wonder Room acessível ao público em geral e também os desfiles do LAB que são no largo lá em baixo, no meio da natureza. Como está no Parque Eduardo VII as pessoas que estiverem nas redondezas conseguem ver e, portanto, isso tornou-se muito simpático”.

Ao longo do espaço aberto a todos, tanto víamos pessoas descontraídas com as vestes do dia-a-dia, como víamos pessoas com visuais mais ousados, que contrastavam com os espaços verdes circundantes. As ruas estavam cheias e o flash dos fotógrafos era constante, quer a pessoas que não reconhecíamos, quer a famosos que por ali passaram. De todos, destacava-se um repórter de televisão que exibia uma peruca cor-de-rosa, a barba pintada de azul e um sinal na bochecha. As suas roupas também não eram discretas, de sapato salto altíssimo preto, num dia usava um vestido preto, noutro uma camisa de decote profundo e um short cueca brilhante. Para quem podia entrar no Pavilhão, a L’Oréal Professionnel oferecia penteados e maquilhagem a quem quisesse ter o look perfeito para aqueles dias.[/fusion_text][fusion_text]O Wonder Room, iluminado pelo sol, tinha entrada livre e apresentava uma seleção de marcas e designers portugueses em áreas como o artesanato, têxtil, joalharia, vestuário, acessórios e lifestyle. Dezoito referências nacionais abertas a todos, num espaço onde também tiveram lugar três intervenções: Tiago Loureiro, Constança Entrudo e Boon.

Também alguns desfiles foram exibidos fora do Pavilhão, no Jardim do Parque Eduardo VII, revelando o desejo de partilhar a Moda com a cidade. Num total de 23 desfiles, 8 foram ao ar livre para que qualquer pessoa pudesse assistir ao vivo.

“Tudo isso é a ModaLisboa a conseguir celebrar a cidade. Por isso, temos outro espaço e, esse sim, é novo – o Showcase ModaPortugal – da responsabilidade do CENIT (Centro de Inteligência Têxtil) que, de uma forma não massiva e mais ou menos controlada, também está aberta ao público”. Este espaço era uma mostra que combinava marcas industriais com a moda de autor, apresentando peças de roupa, mas também revistas para consulta. Era um espaço de networking onde se incentivava o diálogo entre industriais, criativos, jornalistas e agentes.

Existia ainda a exposição “Portuguese Shoes”, que em conjunto com a APICCAPS, apresentava acessórios e calçado nacional, no Pavilhão Carlos Lopes. Para além disso, havia a Workstation onde três fotógrafos – Arlindo Camacho, Carlos Teixeira e Pedro Silva – captavam o que apenas os seus olhos e lentes vislumbravam ao longo destes dias, resultando numa exposição fotográfica imediata e retrospetiva, disponível na área social do Pavilhão Carlos Lopes.

Numa programação e espaço em que tudo parece apontar para uma abertura da moda a todos, Eduarda fala-nos da crescente democratização desta arte com a emergência dos meios digitais. “A moda, como tudo no mundo, está num processo de uma grande democratização. O digital criou uma grande democratização de uma série de coisas e, portanto, nós vivemos essa facilitação ao acesso através do digital. Na moda, há muito tempo que fazemos as Fast Talks – o nosso ciclo de conferências aberto ao público. Ao princípio as pessoas eram mais relutantes em vir, hoje em dia as Fast Talks já são um dos nossos projetos que as pessoas acompanham em streaming ou assistem presencialmente, porque é sempre uma coisa manifestamente interessante, não chata nem pesada, são conversas que têm a ver com temas da atualidade. Mesmo pessoas que não são de moda, mas têm uma relação com o mundo das artes, vêm”. Desta vez, as Fast Talks cruzaram a moda com a política trazendo, para isso, profissionais da indústria, críticos e artistas. Num mundo global a moda já não pode ser pensada como estando fechada numa bolha e foi isso que se discutiu na Estufa Fria, na abertura da ModaLisboa. O debate público contou com a presença de Alexandra Bondi de Antoni, editora da i-D Germany, Aurélia Vigouroux, especialista em media e moda, Danilo Venturi, professor e diretor da Polimoda, Gonçalo Castel Branco, marketeer e diretor criativo e Misha Pinkhasov, consultor e jornalista. O debate foi moderado por Joana Barrios, atriz e cronista.

“Um país que seja evoluído culturalmente tem maior capacidade para proteger a sua moda e autores em todas as áreas e, portanto, faz parte do nosso trabalho a passagem dessa cultura ao maior número de pessoas, para ver se começam a proteger mais o património português". O debate, assim como os desfiles foram transmitidos em direto para que pudessem chegar a um maior número de pessoas, o que é valoroso de acordo com Eduarda. “Um país que seja evoluído culturalmente tem maior capacidade para proteger a sua moda e autores em todas as áreas e, portanto, faz parte do nosso trabalho a passagem dessa cultura ao maior número de pessoas, para ver se começam a proteger mais o património português. Nós portugueses não protegemos muito bem o que é nosso, não temos muitas vezes a noção. Quando estamos lá fora noutros países verificamos que eles têm sempre muito orgulho nas coisas deles e que aqui, em Portugal, é tudo mais quezilento. Esta é também uma tentativa de que as pessoas se orgulhem das coisas boas que têm”.

Muitas foram as coisas boas que se mostraram nestes quatro dias. Vimos desfiles de vários nomes, estéticas e inspirações: Patrick de Pádua, Duarte, Sangue Novo (concurso dedicado a novos talentos da ModaLisboa, do qual João Oliveira se sagrou vencedor), Kolovrat, Valentim Quaresma, Ricardo Preto, Imauve + Carolina Machado, David Ferreira, Awaytomars, Nuno Gama, Aleksandar Protic (uma das ausências nas últimas edições), CIA. Marítima, Ricardo Andrez, Christophe Sauvat, Dino Alves, Morecco, Nair Xavier X Diniz&Cruz (volta após ausência nas últimas duas épocas com a coleção “NgaKUYAA”), Eureka, Olga Noronha (ausente na última edição), Nadir Tati, Luís Carvalho, Mustra e Filipe Faísca.

Quanto às tendências para a próxima estação, Eduarda revela que há algum tempo que não trabalha com isso, mas há traços que se destacam. “A questão é criar imagens que sejam atraentes e emocionantes para os vários targets dos diferentes criadores. Isso é a moda, o impulso de comprar, o não conseguir viver sem. As tendências são tantas: colour blocks, ou seja, uma só cor em todas as peças de roupa (amarelo nos sapatos, calças, casaco), cores como o amarelo, azul, vermelho e rosa. Rosa é claramente uma tendência. Exatamente por ser uma tendência, se calhar ela vai esgotar-se antes de lá chegar. Lá vai o tempo em que as tendências eram ditadas não sei quantos anos antes de acontecerem. Pelo menos a 6 meses, ou a um ano. Hoje em dia isso já não é possível. As pessoas pegam naquilo que querem e fazem como querem. O rosa é claramente uma tendência, mas já está tudo rosa, por isso vamos ver se ela dura até lá. As calças largas, os skinny estão completamente de lado. Muitos blazers compridos e largos, paddings (chumaços), doubble-breasts acentuados e as saias bem mais compridas. Muitas sobreposições, muitos transparentes com peças mais opacas. Mas depois a nudez, com os shorts cueca, também. Portanto, parece contraditório, mas a moda é contraditória. São essas contradições que tornam a moda excitante. Também muito corpo à mostra, muitas pernas à mostra. Não há é comprimentos intermédios. Ou é mesmo short cueca, muito curto, ou então calças mais largas a arrastar no chão, saias e vestidos compridos e fluídos”.

Durante quatro dias, assistiu-se a uma programação que não deixou ninguém de fora. Nesta 49ª edição pensou-se a moda e fizeram-se questões. Fomos brindados com surpresas, momentos de humor e desfiles que desafiaram os modelos convencionais, quer pelo seu formato, quer pela variedade de modelos que apresentavam. As portas para o mundo da moda estão cada vez mais abertas a todos pela importância da democratização deste meio. Aqui ninguém se sentia excluído ou entediado. Todos tinham um lugar à sua espera, todos tinham uma inovação para descobrir e espaço para arriscar. “ModaLisboa Luz. Porque há uma luz que nunca se apaga. E há sempre uma outra que se renova”.

Texto e fotografias por Andreia Monteiro

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