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Encontrei-te na Esquina com Selma Uamusse

O Encontrei-te na Esquina #40 é dedicado ao Magafest, que a 10 de setembro entra…

Texto de Margarida Marques

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O Encontrei-te na Esquina #40 é dedicado ao Magafest, que a 10 de setembro entra no Palácio Sinel de Cordes, em Lisboa, para celebrar as Magasessions,  as sessões de música que, desde 2012, acontecem no Saldanha, em casa da Inês Magalhães.

O Gil falou com a cantora Selma Uamusse, que sobe ao palco nessa mesma noite :-)

Qual é a tua memória mais antiga?

Ainda ontem falei nela. Não é muito feliz, mas quando eu tinha quatro anos vim pela primeira vez a Portugal, porque os meus pais viviam na Alemanha, e nós fomos a... Matosinhos. Era uma feira em Matosinhos. E a minha mãe tinha, na sua infância, vivido ao lado de uma mercearia e o dono da mercearia era muito amigo do meu avô. Então fomos visitar o senhor Matos... de Matosinhos... E fomos a uma feira. O que é que aconteceu: em 1986 havia muitos poucos negros em Portugal, muito menos no norte e interior. Nós estávamos lá a ver a feira e entretanto raptaram-me. Raptaram-me porque eu era preta e dava sorte. Lembro-me perfeitamente de estar na feira, com um casaquinho branco, e houve umas ciganas que pegaram em mim porque achavam que eu dava sorte. E pronto, é a minha memória mais antiga. Depois eu dei uns berros e encontraram-me, mas é disto que me lembro.

Com que idade te sentes?

Sinto-me com a idade que tenho. Durante muito tempo senti-me muito mais velha, depois muito mais nova, mas agora não. Estou muito feliz, e talvez isso ajude também a sentir-me assim.

Uma história a que regresses, em que penses.

Olha. Os meus pais não tinham muito dinheiro quando eu era mais nova, mas sempre foram muito ligados à cultura; a minha mãe trabalhou na rádio, hoje é directora do museu de arte, o meu pai declamava poesia. Os meus pais entretanto vieram para Portugal, estavam a estudar, e queriam viajar, e o que é que decidiram fazer: a minha mãe estava a fazer mestrado, tinha 31 anos, e já não ia àquelas festas de estudantes, não é, mas inscreveu-nos de surpresa na viagem de finalistas da tuna académica da Universidade Nova. Eles estavam com falta de pessoas, aquilo era super barato. Fomos todos, ainda sem auto-estradas, demorámos para aí 20 horas... E aprendi muito aí, nessa viagem, aprendi que não precisava de dinheiro para viajar. Nós ficámos numa camarata com um estudante que aparecia sempre bêbado. Fomos a uma feira assim tipo expo, vimos montes de concertos, e eu lembro-me de estar a chegar de autocarro, ver a Torre Eiffel, e pensar: estou em Paris!

Como é o teu imaginário? O Universo da Selma?

O meu mundo é bastante espiritual. Eu sou cristã e tento contrariar a cena do negativismo e falta de esperança, tenho fé como palavra de ordem. E não é uma questão religiosa, beática, mas faz com que eu procure viver as coisas alegremente, com energia. Aquilo que as pessoas consideram o Reino de Deus, o Céu, tipo, Ah, um dia vou para o céu e vai tar tudo bem.. Se eu for para o céu já está tudo bem, por isso tenho é de encontrar um Céu na Terra, e acho que isso é possível. Pode haver dor e falta de dinheiro, mas isso tudo pode ser combatido. E acho que o meu percurso musical está muito ligado a isto. As coisas de que eu não estava a à espera de que acontecessem aconteceram, e conheço pessoas e estou em sítios, e as coisas chegam até mim não porque sou merecedora e muito boazinha, mas porque sou filha de um Deus muito especial.

A última vez que testemunhaste algo de transcendente?

Olha... Eu faço isto às vezes, até porque tenho uma vida espiritual activa. Eu tenho uma música chamada Mónica, que é sobre a primeira pessoa que me era especial e que morreu. A Mónica era muito linda, muito especial, e eu lembro-me de ficar muito incomodada com isto, pessoas boas morrerem. Eu tinha para aí 11, 12 anos. E houve um concerto, para aí há um mês, em que eu partilhei isto, dediquei esta música à Ana, que era uma fotógrafa que me estava a acompanhar, e partilhei isto porque a Mónica é uma música muito especial, e eu choro sempre quando a canto. É um memorial, mas eu tento puxar a ideia de lembrar as pessoas que já morreram pelo bem que deixaram, e tinha acontecido uma coisa trágica recentemente: eu tinha um fotógrafo que me acompanhava sempre e que se suicidou, e esta era a música preferida dele. Agora sempre que a canto, para além de me lembrar da Mónica, lembro-me também desta pessoa que foi o primeiro fotógrafo que acreditou em mim e no meu percurso a solo, e que me fotografou de uma maneira incrível, como nunca tinha sido fotografada. E houve um dia em que tive um extravasar grande de emoções, em que partilhei isto tudo num concerto, e que obviamente acabou comigo a chorar.

Entrevista por Gil Sousa

Fotografia por Matilde Cunha

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