Haran Amorim é um jovem ilustrador que se lembra de gostar de desenhar desde pequenino. Mais tarde dedicou-se à arte digital. Foi aluno do Faísca Gerador, de onde surgiu o livro que ele lançou durante a Birra da Cerveja, “Tempus”. Mas este dia também ficou assinalado pelo lançamento do site do Haran que podem ver aqui. O Gerador aproveitou para passar pelo lançamento para falar com o Haran.
“Tempus” é composto pelo poema Rubaiyat III, de Omar Khayyām e o Livro Vermelho, escrito originalmente entre 1048 e 1131, e com a primeira publicação em 1868, no qual foi traduzida pelo Escritor Inglês Edward Fitzgerald. A história é uma narrativa que fala sobre o tempo e como o digerimos. É um livro de reflexão com estilo gráfico inspirado no movimento musical Lo-Fi Hip Hop. O livro já está à venda aqui.
Como descobriste a tua paixão pela ilustração?
Comecei desde muito cedo. O meu primeiro desenho, que a minha mãe tem guardado até hoje, fiz com dois anos de idade. Foi um pequeno pássaro. Então, desde pequeno que gosto de ilustrar, não só em papel, mas também em tecido, diferentes tipos de materiais. Mas o papel era o mais fixe. Trabalhei com lápis, com aguarela, depois tinta acrílica, depois tinta a óleo.
Como surgiu a ideia para a história deste livro?
Na altura estava muito reflexivo, porque estava cheio de trabalhos e não estava a viver a minha vida, não estava a ver o céu, não ia à praça, não via os pássaros voar. Não estava a fazer nada, só os projetos. Aí foi muito essa questão do tempo e de estarmos alerta com o nosso tempo, que a gente acaba às vezes por gastar com coisas que são importantes, mas não nos dão prazer. Foi uma reflexão que eu tive de como nós gerimos o tempo. Na altura estava ouvindo muito um estilo musical chamado Lo Fi Hip Hop que me ajudou muito tanto na criação do estilo gráfico, como o estilo de ilustração e a narrativa, que é um poema muito antigo do ano 1040. É um poema turco e foi traduzido para diversas línguas e tem algumas alterações com a tradução, mas basicamente eles falam sobre a nossa reflexão e como a gente gere o tempo. Tem diferentes tipos de interpretação. Eu interpretei como a arte de viver o tempo.
Como é que achas que tratamos o tempo?
Hoje em dia acho que é cada vez mais corrido. A gente não vive a vida da forma que a gente vivia há um tempo atrás, como os nossos pais e avós viviam. A gente está sempre na pressão, a gente não vive, a gente só faz, executa as tarefas. Acabamos por deixar de fazer muitas coisas que nós gostamos por causa do trabalho e outras tarefas que precisamos de fazer e essas coisas não dão gozo. É aquela cena muito doentia, de deixar sempre tudo para ontem, tudo muito corrido.
Achas que isso depois também vai influenciar o tipo de reflexões introspetivas que acabamos por ter?
Sim, acho que sim. Acho que o intuito do livro é as pessoas lerem e cada pessoa ter uma própria interpretação, seja por tempo, seja por amor ou um problema pessoal que uma pessoa esteja a passar. Cada pessoa vai ter uma interpretação diferente.
Que técnica usaste para traçar esta narrativa?
Primeiramente eu comecei a fazer uma pesquisa na internet de algum estilo que eu gostasse e que eu soubesse fazer bem. Primeiro fiz sketch com lápis, depois disso fui fazendo alguns experimentos com cores que eu achava fixes e que pudessem transmitir a mensagem do livro, e depois disso passei tudo para computador onde fiz toda a finalização e a pintura digital. Utilizei a ferramenta do Photoshop.
Pensava que tinhas desenhado a pastel. Parece.
Essa é que é a cena fixe do Photoshop. Tens vários pincéis na biblioteca e consegues trabalhar com vários tipos de acabamento. Tens aguarela, acrílico, pastel e eu escolhi o pastel. Que é uma coisa crua, não tem aquele acabamento, é direto.
Foste aluno do Faísca. O que sentes que essa experiência te trouxe?
Achei muito fixe, não só pelo contacto que tivemos com as pessoas, mas foi fixe conhecermos os métodos e técnicas de ilustração. Eu optei por fazer digital, mas ter contacto com a tinta-da-china, aguarela, guache, estilo gravura, colagem e trabalhar com isso tudo gerou muita criatividade e eu achei isso bem interessante.
Mas temos tempo “antes que seque o vinho da vida em sua jarra”, Haran?
Pois… temos tempo, mas tem de saber degostar o vinho, certo? Leve o seu tempo para degostar o vinho da forma certa. Não beba rapidamente ou de uma vez. Deguste, aprecie a bebida.