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Entrevista Linda Martini: “Um rascunho trabalhado exaustivamente, não até ser perfeito, mas até ser nosso”

Os Linda Martini estrearam um vídeo onde nos apresentam dois temas, “É só uma canção”…

Texto de Andreia Monteiro

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Os Linda Martini estrearam um vídeo onde nos apresentam dois temas, “É só uma canção” e “Quase se Fez Uma Casa”. Neste videoclip duplo, a narrativa abre com “É só uma canção”, que nos fala sobre o peso da maldita folha em branco, onde contornam o que já fizeram e contrariam rotinas para descobrirem outro ângulo. Em “Quase se fez uma casa”, a segunda música, amachucam o rascunho para que nada fique de pé.

Linda Martini são uma banda de rock composta por André Henriques (Voz e Guitarra), Cláudia Guerreiro (Baixo e Voz), Hélio Morais (Bateria e Voz) e Pedro Geraldes (Guitarra e Voz). Após cinco discos, um trabalho que temos visto crescer desde 2003, foram até à Catalunha entre outubro e novembro de 2017 para gravar, com produção da própria banda e Santi Garcia, o quinto e homónimo longa duração dos Linda Martini, resultando num disco que soa a algo feito por quatro cabeças entre quatro paredes, sem medo que se oiça do lado de fora. É abrasivo, trazendo à memória “Casa Ocupada” pela sua urgência e descontrolo, mas revela um equilíbrio cada vez maior desses elementos com o ritmo, a melancolia e o intimismo do seu antecessor. Os Linda Martini de hoje podem ser Rock e Fado, Fugazi e Variações, Fela Kuti e Afrobeat, Tim Maia e Funk, sem nunca soarem a outra coisa que não eles.

Por agora, a banda anda na estrada a apresentar o novo álbum, pelo que podes encontrá-los em vários festivais como o Bons Sons (12 de agosto), o Vodafone Paredes de Coura (15 de agosto), O Sol da Caparica (16 de agosto) ou até na Maré de Agosto, nos Açores (25 de agosto).

Com curiosidade aguçada o Gerador foi até ao Haus falar com os Linda Martini e sentou-se numa agradável conversa com o André Henriques e o Hélio Morais para saber mais sobre este vídeo e disco.

O que é que este vosso quinto registo de originais, LINDA MARTINI, traz de novo e o que nos contam através das canções que integra?

André Henriques (AH): Traz 9 cantigas novas e a vontade que temos em não nos repetirmos e fazermos uma coisa diferente. Neste caso o Sirumba, que era o disco de 2016, tinha uma onda um bocadinho mais a travar, menos no vermelho, menos guitarras, menos barulho. Foi um exercício a que nos propusemos na altura. Neste percebemos desde cedo que, para já, a composição foi diferente de todos os discos, porque saímos da nossa zona de conforto. Saímos de Lisboa e fomos fazer duas residências, onde ficamos uma semana, em cada uma delas, inteiramente dedicados a compor. Levantávamo-nos de manhã às 9h, íamos para a sala de ensaios, só parávamos para fazer as refeições e estávamos sempre juntos. Foi ali um Big Brother interessante, mas foi muito bom porque tivemos muito tempo para explorar soluções. Enquanto, às vezes, os outros discos foram feitos numa lógica de um ensaio por semana, em que muitas vezes ao final do dia já estás cansado e tens mais tendência a cair naquilo que te é mais confortável, não tens a distância suficiente para ir para outro sítio e neste aqui tivemos isso. Foi muito insistente, duro, felizmente toda a gente se deu bem, não que estivéssemos à espera do contrário. Mas musicalmente foi muito interessante por isso. As ideias estavam ali. Fazias uma coisa de manhã e se as ideias ainda não estavam no ponto tinhas a tarde inteira ou os dias a seguir para bater mais no ceguinho até aquilo estar como nós queríamos. Acho que traz isso, uma forma de compor diferente e uma forma de gravar diferente. Fomos a primeira vez para fora. Fomos com o Santi Garcia gravar para a Catalunha, porque queríamos gravar com ele. Percebemos que o disco estava muito cru e sentimos que ele era a pessoa ideal para o fazer. O que traz de novo é isso, uma energia diferente e somos nós a tentar, com os recursos que temos e com aquilo que aprendemos dos outros discos, fazer uma coisa diferente.

Como descobriram a Linda Martini?

Hélio Morais (HM): Aquilo é um quadro pintado a partir de uma foto que o Pedro tirou à Linda Martini, porque ela já existia quando a banda começou. O Pedro foi colega dela na faculdade, ela esteve a fazer Erasmus cá. Não sei se estava na mesma faculdade ou se era só amiga de amigos em comum, mas estava a fazer Eramus cá quando o Pedro a conheceu. Achámos piada ao nome e agora, há não muitos anos, o Pedro esteve num casamento em Tali com amigos comuns, esteve com ela, tirou-lhe uma foto e não a usámos no Sirumba, mas acabámos por a usar neste disco.

Linda Martini

O que é que ela representa para vocês?

AH: Irá representar mais para o Pedro, porque ele é que a conheceu. Nós só a vimos ao vivo uma vez, em 2007. Na altura ela estava cá e foi ver um concerto nosso na zona de Cascais. Ela foi-nos apresentada nessa altura. Quisemos logo ver o B.I. para ver o nome dela escrito. É curioso porque os italianos, pelo menos da zona de onde ela é só têm um nome e apelido do pai. Não é como os nomes portugueses em que chegamos a ter seis e sete nomes. Na altura ficamos fascinados por a conhecer, porque a banda já existia há uns três ou quatro anos quando a conhecemos finalmente todos. Na nossa cabeça ela é sempre uma memória muito distante. Quando o Pedro tirou a fotografia, há dois ou três anos, nenhum de nós se lembrava sequer da cara dela, porque a vimos uma única vez. Portanto, para nós também foi uma coisa rara de, bem é uma pessoa de carne e osso. Nós já sabíamos, mas revê-la depois de tantos anos teve um impacto diferente. A fotografia já existia há algum tempo e veio à baila quando quisemos fazer este disco. O facto de darmos o nome de Linda Martini ao disco teve só a ver com a fotografia dela. Às vezes há aquela tentação de pensar que fizeram um disco homónimo, ou porque não há mais ideias, ou porque acham que este é que é o disco a sério e um statement. Mas não foi nada disso. Foi mesmo porque achámos a fotografia tão bonita e engraçada passados estes anos todos que só fazia sentido que o disco se chamasse Linda Martini com a cara dela.

Em 15 anos muito muda na vida de uma pessoa, mas quanto à vossa determinação e gosto pela vossa música? Alguma vez isso muda?

HM: É um bocado difícil de distinguir a música da nossa vida. Hoje em dia dedicamo-nos cada vez mais tempo à banda, porque as coisas foram encarreirando nesse sentido. Também a demanda foi sendo maior, vais tendo mais propostas, concertos, outro tipo de propostas como bandas sonoras, escreveres canções para outras pessoas como no caso do André. Portanto, acabas por te envolver cada vez mais na música. Não é que tenhamos mais ou menos amor, mas é o curso normal da vida. O que nos move continua a ser a vontade de fazer música. Acho que no dia em que algum de nós deixar de ter vontade de fazer música, deixará de o fazer. Essa é a única regra. Ninguém aqui faz música para pagar contas.

Porque decidiram juntar os vídeos destas duas músicas num só?

AH: Porque não nos entendíamos (risos). É verdade. Tivemos uma reunião que era para durar uns 40 minutos e demorou 2h, em que uns achavam que o single devia ser uma dessas músicas, os outros achavam que devia ser a outra. Como ninguém se entendia alguém da nossa equipa sugeriu que fizéssemos um vídeo que metesse as duas. Foi só por isso.

O vosso vídeo faz lembrar exercícios de teatro. Têm alguma ligação com essa área?

HM: É possível, porque nós tivemos uma coreógrafa, a Mara, que nos teve a ensinar aqueles movimentos mecânicos. É possível que tenha alguma coisa que ver com isso que estás a referir, mas não tenho a certeza porque não tenho conhecimento na área.

Quando já se anda a trabalhar desde 2003, e já se conta com vários EP’s cá fora, é difícil descobrir novos ângulos?

AH: Sim, assim que fazes o primeiro e que tens de fazer o segundo disco cai-te sempre uma nuvenzinha negra em cima e começas a pensar, onde é que me meti, o que vou fazer a seguir. Tenho de me inventar outra vez, eu e os outros todos. Tenho sempre essa sensação de disco para disco. Depois passas ali um mês ou dois de merda, onde a gente ensaia e não sai nada, ou sai mas não como queres. Achas que estás a fazer o mesmo. Depois há o momento da faísca em que algo que te soa diferente, uma letra ou um beat que o Hélio faça que puxa outra coisa e abre uma porta. A partir daí as coisas começam a encadear-se e entraste naquela zona. Ia começar por te responder que é cada vez mais difícil. Pelo senso comum apetece dizer isso, porque como já tens mais coisas feitas é cada vez mais difícil. Mas a verdade é que sinto sempre esse peso e dificuldade. Não por achar que tenho de honrar as expetativas de alguém, mas porque é mesmo a nossa maneira de compor. Queremos sempre fazer coisas diferentes.

HM: Há sempre o medo quando se vai começar a compor o disco seguinte. Tens medo de desiludires.

Qual é o vosso processo para compor canções?

HM: Tanto surgem de ideias que alguém traz de casa, como de ensaios de quatro, como em ensaios a dois. Este último disco surgiu quase todo por definirmos os esqueletos das canções os quatro, já em residências. Varia sempre de disco para disco.

O peso da folha em branco vem a preto e branco?

AH: Foi uma sugestão dos realizadores. Como eram dois vídeos em contínuo e o local do vídeo era o mesmo, havia de alguma forma que identificar ou distinguir estes dois momentos. Acho que a decisão estética era muito a de separar os dois momentos. Nunca tinha pensado nisso dessa forma, mas também nos acontece muito depois de fazermos uma coisa parecer que encontras uma justificação mais clara. É verdade que a primeira música fala desse peso que estávamos a falar de compor. Foi a primeira letra que eu fiz para o disco. E cai-te o mundo inteiro. O que vou escrever? O que é que eu vou escrever quando já escrevi sobre tanta coisa? A música fala exatamente disso, de quereres fazer uma coisa e parece depois que é um peso completamente desnecessário, porque é só uma música e são só 3 minutos da vida das pessoas que a vão ouvir. Não é assim tão importante, mas para ti é. Para quem está a fazer é uma coisa em que tu metes tudo de ti ali. Se calhar faz sentido ser a preto e branco, porque é assim uma nuvem negra a chover em cima de ti. Esses tais movimentos e rotinas que fazes para te obrigar a escrever. A inspiração, se ficar sentado, não me cai em cima. Temos de ir para a sala de ensaios ou escrever todos os dias um bocadinho para que, de alguma forma, haja o tal rastilho que depois faça resolver o puzzle.

HM: Estava a pensar e essa foi a terceira música que nós fizemos. As duas primeiras foram o Semi Tério dos Prazeres e a que ficou como bónus, a Volta.

O peso que arrastam tem juros e por isso é que não se chega a fazer uma casa?

HM: Para algumas famílias será.

AH: Nós temos letras um bocadinhos mais metafóricas e outras em que consegues perceber ali alguns personagens. Fala de uma relação que podia ter sido alguma coisa e se calhar não o foi. A casa aqui é utilizada como metáfora para a relação entre as duas pessoas. Mas agora, a frase para mim tem um significado, mas para cada um de nós terá um significado diferente. Para ti, ou para outra pessoa que vai ouvir, vai buscar significados diferentes. Acho que está mais nos olhos de quem lê do que propriamente em quem faz.

Mas será que esta tragédia adocicada se deve ao perfecionismo e exigência que têm como banda ou é mesmo um rascunho que tem de ser eliminado para que nada fique de pé?

HM: O vídeo até começou com uma ideia diferente. Mas não acho que tenha a ver com perfecionismo, acho que tem a ver com finidades e níveis de satisfações. Para todos acreditarmos e conseguirmos mostrar aquilo de uma forma convincente, todos temos de acreditar nelas. Por isso é que discutimos tantas ideias, as coisas levam tempo a ser decididas e depois ainda mais tempo para serem executadas. Este foi só mais um caso destes. Nós discutimos a ideia até estarmos todos com níveis de satisfação altos o suficiente para a conseguirmos defender e gostar dela. Foi o que aconteceu. Diria que é um rascunho trabalhado exaustivamente, não até ser perfeito, mas até ser nosso.

Depois deste jogo de tensão e libertação o que vem a seguir? Que andam a preparar?

AH: Este ano, felizmente, estamos a ter um ano cheio com coisas que queremos fazer. O grosso delas é apresentar o disco ao vivo e no meio disto tudo também têm vindo cair ao nosso colo uns projetos interessantes. Ainda a semana passada tivemos no Curtas Vila do Conde e compusemos, durante dois meses, uma banda sonora original para musicarmos um filme. Correu muito bem. Existem também uns projetos paralelos que ainda não podemos dizer para já, mas há umas coisas em calha. O que se pode esperar é tocar o disco ao vivo, temos ai muitos festivais e concertos para fazer. Depois de setembro estamos a planear algumas coisas, mas que não podemos avançar muito para já.

HM: Para já temos planos até abril. Vamos ver se os conseguimos concretizar todos. Nem todas as ideias vão avante. Mas no caso até achamos que vão.

Entrevista por Andreia Monteiro
Fotografia de Ângelo Lourenço

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