[fusion_text]Por Vanda Noronha
Mulher de mil talentos, guerreira de mil causas
Quem nunca gostou de se transformar noutra coisa que levante o braço? Ser herói, heroína, vilão ou bruxa no momento certo é sempre apropriado. Mas fazer disso uma arte e saltar para o palco com a coragem de quem se assume transformado, é arte. É transformismo. E a nossa mulher dos mil talentos conta porquê.[/fusion_text][separator style_type="none" top_margin="" bottom_margin="" sep_color="" border_size="" icon="" icon_circle="" icon_circle_color="" width="" alignment="" class="" id=""][imageframe lightbox="no" gallery_id="" lightbox_image="" style_type="none" hover_type="none" bordercolor="" bordersize="0px" borderradius="0" stylecolor="" align="none" link="" linktarget="_self" animation_type="0" animation_direction="down" animation_speed="0.1" animation_offset="" hide_on_mobile="no" class="" id=""]
Drag é arte, performance, ilusão e realidade. Transformações superficiais são revelações e afirmações de verdades profundas, ensaios e confirmações estéticas que permitem vislumbres identitários e de género, certezas e incertezas. Drag é erudição e alta cultura transformada e apropriada e subvertida da melhor maneira, de várias maneiras. Drag é, acima de tudo, muito mais importante do que parece.
Pausemos para definições: Drag – mais ou menos transformismo em Português – vem de uma longa tradição de pisar o palco usando vestes, vozes e gestos geralmente atribuídos ao género oposto, quando ainda achávamos que género era um binário masculino / feminino, e não um espectro onde cada qual se encaixa de sua maneira muito própria. Pode ser, e é, um jogo de exageros e de ampliação de características que se consideravam pertencer a um certo género, e a utilização dessa performance como bandeira, sátira, comédia, política. Ou, simplesmente, porque sempre quisemos sentir-nos a Madonna.
Quem nunca.
Na noite em que a hora mudou, arrancando corpos de repente da noite para a madrugada, há penas e pó e o cair lento da névoa com cheiro a quente e a cabelo no ar. No camarim pintado de azul, contornado a espelhos e a luzes, malas abertas despejam veludos, cetins e brilhantes, com balcões já cheios de pincéis, caixas coloridas, tubos cor de carne e de cigarros cinzas, de onde também se reinventa e renasce.
O tubo de cola cobre e alisa as sobrancelhas, e primário é aplicado na pele cobrindo e alisando tudo o resto. A cara uniforme e sem sombras é um papel, uma tela, uma parede em branco onde se pintam contornos e narrativas. Em feições tornadas tábula rasa desenham-se outras sombras, destaques e luzes a gosto, e a gosto também, camada a camada, se constrói uma anteface sobre a face que, mais que mascarar, revela a transparência. Olhos são abertos e delineados com riscos negros e felinos, e pestanas longas e finas como patas de aranha são coladas a olhos azuis. Lápis e batom desenham lábios por cima de outros lábios e perucas desenham penteados por cima de outros cabelos.[/fusion_text][separator style_type="none" top_margin="" bottom_margin="" sep_color="" border_size="" icon="" icon_circle="" icon_circle_color="" width="" alignment="" class="" id=""][imageframe lightbox="no" gallery_id="" lightbox_image="" style_type="none" hover_type="none" bordercolor="" bordersize="0px" borderradius="0" stylecolor="" align="none" link="" linktarget="_self" animation_type="0" animation_direction="down" animation_speed="0.1" animation_offset="" hide_on_mobile="no" class="" id=""]
É nesta nova geração que surgem e ressurgem também expressões e performances de género que ultrapassam o binário, tal como ultrapassam a obrigatoriedade de glamour, e a convenção que Drag é incarnado apenas por homens cisgénero (que se identificam portanto com o género que lhes foi atribuído à nascença, como o editor), homossexuais (não como o editor), que se transformam em divas extraordinárias (como o editor). Drag Kings satirizam a masculinidade enquanto a reclamam para si próprios, uma subversão que é em si a alma de Drag, que permite a absoluta exploração e aceitação e alívio na liberdade perfeita do encaixe de identidades internas numa demonstração externa, muitas vezes pela primeira vez, e da autodescoberta que daí advém. Há aspiração a outros estratos e outros meios e outras formas de movimento pelo mundo, há o desejo de libertação da imposição de circunstâncias sociais, económicas, corporais, mentais. Através de uma performance deliberada e através de personas com nomes, personalidades, narrativas próprias, é possível uma construção, desconstrução, experimentação e incarnação não só de outro, outra, outrx, mas também de si próprio, própria, próprix. Drag como expressão artística muda e reinventa-se tanto como quem o pratica. Drag transforma opressão em celebração, é subversivo na sua caricatura, é maior que a vida nas personagens que o definem, é tão falso e tão verdadeiro como os papéis e identidades de género que replica e repete. Se há escolas e linhas e casas em Drag são autocriadas e autodesenvolvidas entre famílias que não nascem mas se escolhem, fortalezas e portos seguros contra um mundo que mata mas que também brilha e promete, que se subverte para se emular.[/fusion_text][separator style_type="none" top_margin="" bottom_margin="" sep_color="" border_size="" icon="" icon_circle="" icon_circle_color="" width="" alignment="" class="" id=""][imageframe lightbox="no" gallery_id="" lightbox_image="" style_type="none" hover_type="none" bordercolor="" bordersize="0px" borderradius="0" stylecolor="" align="none" link="" linktarget="_self" animation_type="0" animation_direction="down" animation_speed="0.1" animation_offset="" hide_on_mobile="no" class="" id=""]
Texto e fotos por Vanda Noronha
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