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Sozinho num quarto não existes – Raquel André

Raquel André, artista, performer e colecionadora de pessoas volta a trazer dois espetáculos das suas…

Texto de Andreia Monteiro

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Raquel André, artista, performer e colecionadora de pessoas volta a trazer dois espetáculos das suas primeiras coleções: a Coleção de Amantes e a Coleção de Colecionadores, no Teatro Dona Maria II, até dia 22 de novembro. Apresenta também o primeiro volume em livro das fotografias da Coleção de Amantes e estreou um teleteatro, sobre a mesma coleção, na RTP2. Ela coleciona amantes, ela coleciona colecionadores, ela coleciona pessoas e o Gerador foi conversar com ela para te contar tudo.


Da porta dos artistas à sala estúdio, o caminho é labiríntico. As portas do elevador abrem e surge um corredor escuro, apenas iluminado pelos camarins em uso. Ao fundo, à direita, está o camarim da Raquel André. Encontra-se ao computador, por entre mil e uma fotografias que contam diversas histórias. Fotografias que lembram o tempo que passou em direção ao outro e que lhe relembram a impossibilidade de guardar os encontros do efémero. Interrompe o seu trabalho e vira-se para o sofá de veludo vermelho.

A artista de 31 anos começou a trabalhar com colecionismo em 2009, no teatro, quando fez o seu primeiro espetáculo com o Tiago Cadete. “Eu encontrei na rua uma caixa de papelão com envelopes que têm aquelas risquinhas de enviarem por correio aéreo. Aquilo pareceu-me super bonito, levei para casa e quando abri as cartas era a correspondência de uma família dos anos 70, 80 e 90 entre Portugal e a Bolívia. 650 cartas. Passei o verão a organizá-las por ordem cronológica, por assuntos, tentei criar um excel para organizar a informação e fazer um arquivo. Naquela altura decidi fazer um espetáculo, em que o Tiago Cadete foi o meu cocriador, e foi o meu primeiro espetáculo com uma coleção. Depois fizemos mais dois trabalhos a partir de coleções”.

Em 2011 vai para o Brasil para fazer uma residência artística na Companhia dos Atores. Deste país destaca “o afeto, o corpo. É uma relação de corpo, uma relação-toque, de presença. As pessoas tocam-se mais, é com mais facilidade que se fala sobre afeto no Brasil. Estou a ser super generalista, porque é lógico que em Portugal também temos essa relação. São camadas diferentes. É uma relação com o corpo no espaço, o corpo com o outro. É uma densidade populacional muito maior da que temos em Portugal. O            corpo é muito mais grudado, muito mais colado. Isso traz uma outra perspetiva. Tornas-te mais vulnerável, então também te tornas muito mais positiva, porque percebes a vulnerabilidade da vida. A tua existência não é assim tão importante. Então, comemoras porque estás vivo e é mais positivo. Menos drama, sabes? ”.

 

“Tornas-te mais vulnerável, então também te tornas muito mais positiva, porque percebes a vulnerabilidade da vida. A tua existência não é assim tão importante”, Raquel André

 

“Era para ficar lá 4 meses, acabei por ficar quase 7 anos e no meio disso fiz um mestrado. Durante a pesquisa de mestrado decidi que o objeto de pesquisa seria o colecionismo nas artes performativas, como é que uma coleção pode ser uma metodologia de criação e composição para o teatro. Nessa altura decidi criar uma coleção. Ou seja, em vez de pegar em coleções já existentes, que contam histórias de outras pessoas e lugares, criar eu uma coleção. Ao mesmo tempo comecei esta coleção de amantes, que foi a primeira das quatro coleções, antes de saber que estava a fazer uma coleção.”

Assim nasceu aquela que seria a Coleção de Amantes, que estreou em 2015 no D. Maria II. “Na altura eu estava a fazer algumas performances e uma delas era ir a casa de desconhecidos e pedir para me fotografarem como se eu fizesse parte da casa das outras pessoas. O que me interessava aqui era entrar em casas de pessoas que eu não conheço, como é que se faz esse movimento, o que é que significa casa. Eu era emigrante no Brasil, portanto a questão da identidade, como é que tu te defines, como é que te aproprias de um lugar, como é que te apresentas intrigavam-me. No primeiro, segundo encontro dessa performance percebi que tinha de continuar isto. Percebi que estava a colecionar amantes e foi assim que surgiu esse nome”. Entre Lisboa, Rio de Janeiro, Ponta Delgada, Loulé, Minde, Paredes de Coura, Sever do Vouga, Ovar e Manaus já colecionou 137 amantes. Estes são pessoas de todas as idades, géneros, nacionalidades e aceitaram encontrar-se com ela num apartamento para construírem uma intimidade ficcionada, que seria capturada por fotografias.

Espetáculo Coleção de Amantes, ©Tiago Jesus Brás

Com 137 amantes revela que continua sem saber o que é a intimidade. “O que eu sei é que é infinita a possibilidade de uma intimidade acontecer. Ou seja, de um para um temos intimidades completamente diferentes. A intimidade que eu posso criar contigo vai ser diferente da que crias com outra pessoa e por ai vai, portanto é infinito. Para mim é impossível de descobrir o que é, porque percebi que quando defines que isto é uma intimidade ela deixa imediatamente de existir e isso é fantástico. Num encontro com os amantes, o momento em que nós estamos a preparar-nos para tirar uma fotografia que os dois chegamos a um acordo que vamos tirar, esse momento torna-se íntimo. Portanto, o que eu tenho percebido é que fazer alguma coisa com alguém é íntimo. É uma coisa em que cais, tropeças, arranjas, tocas sem querer, ou seja, não estás a pensar que estás a viver uma intimidade, estás a fazer alguma coisa. Tenho descoberto que isso é quando acontece uma intimidade, mas que lá está, eu não estou a ter consciência que o estou a fazer”.

 

“Percebi que quando defines que isto é uma intimidade ela deixa imediatamente de existir e isso é fantástico”, Raquel André

 

Nestes encontros é o amante que propõe o tipo de intimidade que se vai ficcionar, desde uma relação de mãe para filha, irmãos ou amigos. Raquel diz que a fronteira entre o real e o ficcionado nestes encontros não existe, pois “aquela é a realidade porque sou eu ali a fazer aquela proposta em que sabemos os dois que é um programa performativo, que estamos os dois a executar um ato artístico. A pessoa vai encontrar-se comigo sabendo que é um ato performativo, eu sei o que estou a criar e o que pretendo com o trabalho a nível artístico. Portanto, sou eu e é real. Não estou a fazer nenhuma personagem, não tenho um texto decorado e nem sequer tenho como preparar. Esse layer da ficção é muito transparente, não se vê. O que pode acontecer afeta-me, faz parte da minha vida. Também não consigo imaginar de outra forma. Acho que a vida é muito mais surreal e fantástica do que, às vezes, os trabalhos artísticos”.

 

“Acho que a vida é muito mais surreal e fantástica do que, às vezes, os trabalhos artísticos”, Raquel André

 

Este trabalho assenta no fascínio da artista pelo efémero, da memória do outro e o desejo de guardar esses momentos. “O que é que fica? O que é que tu guardas? Primeiro, o que é que consegues percecionar racionalmente e o que é que fica de facto? E depois é uma relação com o arquivo, porque as fotografias contam uma história. Eu olho para as fotografias e nós, enquanto artistas e pessoas, podemos relacionar-nos com elas e criar os espaços entre elas. Aquilo que não está lá. O que me interessa aqui é aquilo que elas não contam e isso tem a ver com memória, sensibilidade e experiência. Por isso, eu acho o teatro uma ótima ferramenta para lidar com o arquivo, porque tens o storytelling. Eu conto o que está ali guardado. Tem muito a ver com uma relação de poder em relação ao arquivo. O que é que fica documentado na nossa história? Imagina daqui a 200 anos. O que é que vão saber de nós? É lógico que cada vez vão saber mais, porque todos nós temos acesso à tecnologia que guarda a nossa informação a nível de documentação digital. É mais acessível. Mas o que é que nós sabemos dos nossos antepassados? São arquivos que ficaram. Para mim interessa-me muito a ideia de reportório, de pessoas que me contaram coisas que não estão escritas. Uma possibilidade de um corpo como um arquivo que conta uma história e possui um legado. Isso é muito mais potente. Essa minha opção de guardar esse efémero, essa memória, é muito sobre essa impossibilidade que todos nós, com mais ou menos intensidade, vivemos. Isto não quer dizer que eu seja nostálgica e agarrada ao passado. Vejo o passado como uma ferramenta possível para a construção de um futuro mais consciente. Todas as pessoas têm uma história tão importante quanto aquelas que estão escritas nos livros e filmes”.

 

“Vejo o passado como uma ferramenta possível para a construção de um futuro mais consciente”, Raquel André

 

Para além da memória, este trabalho também é sobre a procura de alguém. “Sobre como nós nos temos esquecido de encontrar pessoas, de olhar nos olhos, de conhecê-las. Conhecer alguém é muito mais para mim do que encontrares na rua e dizeres “olá, tudo bem?”. Qual é a dimensão dessa pessoa, quais são as questões, o que é que nós podemos trocar, o que podemos experienciar juntos? Isso é encontrar alguém. Isso faz sentido para a minha vida e é isso que estou à procura e quero encontrar, por mais que por vezes possa ser efémero e rápido e que eu não volte a encontrar as pessoas, mas enquanto estivemos eu não me vou esquecer. Estamos sempre com muitas defesas e com muito medo, porque vivemos neste mundo maluco e criamos essas defesas. O que me faz ter tanto entusiasmo e querer tanto fazer este trabalho é porque tem sido uma descoberta enorme de como um trabalho artístico cria essa possibilidade. Os espetáculos têm muito a ver com isso. Estes tempos em que estamos a viver e nos esquecemos muito uns dos outros, essa qualidade de tempo com o outro, de experienciar alguma coisa com o outro, testemunhar a vida do outro. Porque é uma forma de tu testemunhares a tua vida, de tu cresceres e te desenvolveres, de te veres de outra perspetiva. Tu sozinho num quarto às escuras não existes, precisas sempre de alguém que comprove a tua existência”.

 

“Tu sozinho num quarto às escuras não existes, precisas sempre de alguém que comprove a tua existência”, Raquel André

 

Raquel não tem uma personagem ensaiada nem um texto decorado. Tem alguns tópicos e um programa que consiste em tirar apenas uma fotografia que comprove uma intimidade. Tenta não ter uma interpretação sobre os encontros. “Na coleção de amantes eles fazem parte de uma coleção, pelo que não os mostro um a um, muito para proteger a intimidade deles. Criei umas estatísticas de afeto, que é quase perverso, mas tem a ver com a realidade em que vivemos hoje, quase de black mirror: quantos me deram um abraço, quantos me falaram dos seus pais e dos seus filhos. Depois tenho um momento, que é o coração do espetáculo, em que conto várias histórias de coisas que aconteceram com os amantes e durante esse storytelling conto várias perspetivas e assuntos que o trabalho traz, do que é a intimidade, de como as pessoas se relacionam comigo, dos assuntos que saltam à vista. Por exemplo, em 90% dos encontros a solidão é um assunto. Esta questão da ficção/ realidade e como é que isso me ultrapassa. Por exemplo, o meu ex-namorado foi meu amante. Eu não sei com quem me encontro e, de repente, o meu ex-namorado inscreveu-se e encontramo-nos. Como é que eu ficciono uma intimidade com um ex-namorado? Depois no final há uma grande parte ficcionada, mais teatral, em que pego no material e faço uma composição com áudios de cinema e uma grande viagem com música do Noiserv, uma composição mais visual”.

Espetáculo Coleção de Amantes, © Tiago Jesus Brás

Para encontrar amantes, a artista tem dois métodos. O primeiro é pedir a amigos que a ponham em contacto com amigos, criando, desta forma, uma rede de pessoas que lhe são desconhecidas, mas que são de confiança. O segundo acontece quando está em digressão e vai uma semana antes para o local da atuação para se encontrar com pessoas da própria cidade que se inscrevem.

Escolher um encontro como sendo o mais surpreendente é impossível para Raquel. “Todos me surpreendem porque de repente abrem um abismo de possibilidades. O outro é um abismo, uma vertigem, porque eu nunca sei o que vai acontecer. As pessoas já vêm com uma disponibilidade sobre a temática da intimidade. É sempre assim um buraco. Eu procuro rapidamente que cheguemos a esse lugar, então é sempre muito vertiginoso e muito forte. O tema dos encontros é precisamente a intimidade, nós temos de passar por ali, temos de chegar a um ponto muito íntimo. Lógico que há alguns que vêm para me provocar, outros vieram completamente equivocados com o tipo de intimidade na coleção de amantes e, por mais que eu tentasse explicar que era noutra perspetiva, não percebiam. Lógico que houve pessoas em que eu quis que aquele encontro durasse para sempre. Já houve outras em que eu manipulei para que acabasse mais rápido, porque eu já não estava a aguentar com aquela pessoa. Lógico que houve pessoas que me contaram coisas que eu nunca vou poder contar no espetáculo, porque são segredos mesmo. Nem sequer tenho como contá-los e falá-los, é muito difícil isso para mim. Criar um storytelling do que aconteceu para o espetáculo protegendo a pessoa e o assunto é uma camada mesmo difícil. Muitos pediram-me conselhos e eu dei conselhos a muitos. Não consigo escolher”.

 

“O outro é um abismo, uma vertigem porque eu nunca sei o que vai acontecer”, Raquel André

 

Este foi um trabalho que superou as expetativas da artista, que se vai prolongar por, pelo menos, 10 anos, mas que tem potencial para durar uma vida inteira. “De facto, o trabalho tornou-se maior do que eu estava à espera e isso tem sido incrível. No sentido em que, de repente, tu crias uma coisa que te escapa das mãos e que é maior do que tu e isso nunca me tinha acontecido. Trabalhei com outros diretores, encenadores, noutros países, em muitas experiências e este trabalho é, de facto, o primeiro em que de repente eu - WOW! Isto é maior do que eu e não posso parar! - Portanto, a minha expectativa era muito menor do que o que está a acontecer neste momento. No início comecei logo a fazer os encontros, nem comecei a fazer o espetáculo. Foi o convite do Teatro Nacional, há 2 anos, que me fez pensar no espetáculo. Acho que nem estava preparada, foi assim um susto. Estreou, saiu e nestes dois anos tem crescido imenso. Eu tenho crescido imenso com o trabalho, tenho mesmo aprendido muito. Pela experiência de estar a circular tanto, aprendo muito com as pessoas com as quais me encontro. Aquilo que eu estou a receber é muito maior do que aquilo que eu estava à espera”.

Foi graças à grandiosidade e complexidade do trabalho que surgiu a necessidade de criar a coleção de colecionadores. “Foi assim que começou a coleção de colecionador, que foi a segunda coleção. Vou continuar a colecionar pessoas, mas agora pessoas que tenham a mesma questão que eu com as coleções. Isto sempre com a ideia de colecionar o efémero, o encontro com alguém. Para mim o outro é o auge do efémero, porque estamos em constante mudança e alteração. Nunca somos uma coisa só, num momento só. Então como é que se guarda isso? As coleções na verdade são a memória que as coleções transportam, mais do que o objeto em si, tudo o que ele aborda e acarreta que se condensa numa coisa só. Então nos colecionadores a minha motivação foi entender o que está por detrás de uma coleção, por isso é que fui atrás dessas pessoas.” Nesta coleção, através de uma entrevista, os colecionadores de diferentes cidades respondem a perguntas sobre memória e sobre o que é ser colecionador e deixam-se colecionar.

 

“Para mim o outro é o auge do efémero, porque estamos em constante mudança e alteração”, Raquel André

 

Como maior diferença entre as duas coleções, da perspetiva de quem as faz, Raquel diz que “a coleção de amantes sou eu que me encontro individualmente com amantes. Portanto, há uma grande diferença, porque nos colecionadores eu tenho de levar uma equipa de vídeo e o criador e co-adaptador do trabalho para podermos documentar a pessoa. Não tenho essa experiência sozinha com os colecionadores. Nos colecionadores é nosso, no sentido que fomos nós que estivemos ali com aquelas pessoas, que editamos o vídeo, que escrevemos aquela pessoa, aquele colecionador, aquele encontro. Essa é a grande diferença para quem faz”.

Duarte Belo fotografa. Guarda um arquivo com mais de 1 milhão e 500 mil fotografias que mostram a paisagem e a arquitectura portuguesa ao longo  dos últimos 30 anos. © Afonso Sousa

As redes sociais são um palco de ficção de intimidades, um pacote em que a própria artista se inclui. “Porque lá está, quando te tornas consciente da tua intimidade deixas de o viver. E quando crias um layer de demonstração disso há sempre um ato de consciência. O que é que tu escolhes? Qual é a fotografia? O que é que tu escreves? Mas tudo bem, e acho que é uma ferramenta incrível para a nossa vida, para nos relacionarmos. É uma outra camada. Só não quero é que nos esqueçamos do resto”.

Raquel concorda que nos dias de hoje as pessoas se preocupam mais em mostrar do que em viver. “É uma resposta super generalista, mas sim. Tens um lugar de refúgio, ao mesmo tempo tens um lugar de fuga. Parece que estás super presente, mas estás presente online e não com a pessoa. Parece que aquilo é uma máscara de defesa. Ao mesmo tempo que as pessoas têm cada vez mais opinião e de repente o Facebook vira um lugar de julgamento e da opinião do outro, o que é ótimo, porque nos podemos colocar. Mas ao mesmo tempo, dá a possibilidade de dizer coisas e de colocar e apontar o dedo uns aos outros sem ser cara a cara. Sem ter afeto. É como se o afeto fosse muito mais fácil de dizer, porque é online. A internet é uma ferramenta super importante, uma evolução maravilhosa, mas acho que também estamos a aprender como a utilizar da melhor forma”.

 

“Parece que estás super presente, mas estás presente online e não com a pessoa. É como se o afeto fosse muito mais fácil de dizer, porque é online”, Raquel André

 

Através de um convite do Daniel Gorjão, a Coleção de Amantes tem agora uma versão em teleteatro que passou na RTP2, no dia 28 de outubro. “O teleteatro em Portugal não passava há cerca de 50 anos, pelo que acho incrível voltar a ter esse programa em Portugal. O que é que passados 50 anos mudou na nossa relação com a televisão? E como é que o teleteatro pode ter mudado essa relação? Então eu tentei, em vez de filmar o espetáculo e simplificar esse formato, criar um objeto especificamente para o teleteatro. Ou seja, ser um objeto que é altamente consciente que a câmara existe, que vai ser televisionado e que ao mesmo tempo não deixa de ser um objeto teatral. Isso foi um desafio enorme. O coração do projeto é o mesmo, mas o formato de apresentação foi pensado especificamente para o teleteatro”.

Para além disso, foi também lançado um livro que mostra os 3 primeiros anos de encontros com amantes, até 2016. “São os primeiros 109 amantes. No livro tive o desafio de escolher apenas duas fotografias por amante e eu tenho muito mais. Depois convidei dois amantes que também são escritores, o Tiago Rodrigues e o Gregorio Duvivier. Eles os dois escrevem para o livro dando a sua perspetiva do encontro comigo e no meio do livro tem um texto meu, em que também coleciono leitores. Tens que ver depois”.

Para o futuro, Raquel tem pensadas mais duas coleções: a de artistas e a de espectadores. Com estreia em 2019, “a coleção de artistas é tentar perceber como é que posso guardar esse auge do efémero como um ato criador, esse momento tão vulnerável, tão rápido, tão impossível de guardar. Neste momento faço parte de uma rede da União Europeia que é a APAP (Association of Performing Arts) e são 11 instituições, 11 países da União Europeia. A ideia é começar por ai, por uma coprodução com essa instituição, com essa rede. Poder circular por esses países e até 2019 criar o projeto coleção de artistas a descobrir os próprios artistas da rede da APAP. Neste momento estou com muito material para poder pesquisar, para me poder dedicar. A coleção dos espetadores estou a documentar desde a primeira apresentação dos amantes, desde o dia 11 de setembro de 2015, e todas as noites de apresentação eu coleciono espetadores seja qual for o espetáculo. Ainda não sei como vou pegar nesse material, mas vou estrear alguma coisa possivelmente em 2020, não sei se em espetáculo, museu, exposição, não sei. Mas queria dedicar um tempo depois desta temporada a organizar o arquivo e documentar tudo o que tenho neste momento, porque é uma coisa que não acaba, que se multiplica”.

Raquel André coleciona coisas raras. Momentos que estão condenados à efemeridade e que são desafiados pela memória. Mas há sempre momentos que ficam guardados com quem os viveu e não são esquecidos. Acima de tudo, há uma simpatia e simplicidade na Raquel que afirmam o desejo de que voltemos a estar uns com os outros, não mediados por tecnologia, mas no verdadeiro sentido de comungar com o outro.

 

Texto escrito por Andreia Monteiro

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