Um desafio interessante é o de escolher um restaurante para os amigos.
Comer com amigos e entre amigos tem grandes vantagens. Sejam homens ou mulheres.
Desde logo porque é possível tirar o casaco (e a gravata, se for caso disso) à mesa. É outra liberdade. Uma conquista da democracia de que pouco se fala mas que não deixa de ter a sua importância na vida, logo por baixo das três conquistas fundamentais cunhadas em 1789: Allons enfants de la Patrie…
Outra vantagem não despicienda é a possibilidade da conta ser a dividir por todos, o que normalmente não acontece se formos com outro tipo de companhias mais formais e no caso de sermos machos lusitanos assumidos, está claro.
Num Restaurante para Amigos devemos poder dar largas a alguns dos nossos vícios.
Fumar e beber controladamente, comer bem sem dar atenção às regras de controlo doméstico que tantas vezes oprimem a nossa vivência quotidiana.
Dizer adeus por algumas horas às preocupações estéticas, aos inseparáveis e insuportáveis colesterol, triglicéridos e gama GT. Uma verdadeira troika opressora do povo. Só ultrapassada pela tirania da balança (essa cabra!) na hierarquia dos déspotas imperialistas.
Esta decisão de interromper por algum tempo o rame-rame da subserviência à esposa(o), à sogra(o), à entidade patronal, ao médico e ao alfaiate (modista), tem alguma coisa de liberal, para não dizer de revolucionário.
Por isso é psicologicamente salutar combinar, de quando em vez, uma destas escapadas gastronómicas com amigos (qualquer que seja o sexo).
O Restaurante Horta dos Brunos, na esquina da Rua da Ilha do Pico 27, em Lisboa, é um porto seguro para este tipo de demandas.
Antes de lá entrarem - e sem o saberem - já são “amigos” do dono e gerente, o amigo Pedro.
Este beirão recebe como se estivesse em sua casa (o que é o caso). E como se vos conhecesse há anos (o que não é o caso).
Dará palmadas nas vossas costas, aconselha (isto é, indica) o que vão comer e beber, e no fim pergunta quanto querem pagar. A lista dependurada à porta faz figura de frigorífico no Pólo Norte. De pouco ou nada serve. Mas não se assustem que pagam sempre! E entre 40 e 60 euritos, dependendo do que beberem. …
O restaurante é pequeno, de ambiente perfeitamente familiar, a Paulinha (minhota de gema casada com o Pedro) cozinha muito bem e os materiais são todos de 1ª qualidade.
Come-se aquilo que os proprietários trouxeram do mercado, nesse dia ou na véspera.
Há sempre peixe do melhor, carne certificada, maturada ou não. E pratos de “tacho” ao sabor da época do ano. De vez em quando temos a sorte da família do proprietário mandar para “baixo” uns cabritinhos lá da Beira Alta. Estes “infantes” assados são de lamber os beiços.
Os vinhos em exposição podiam pagar parte da dívida pública do nosso país. Mesmo que não haja maravedis para os beber, só de os olhar já a imaginação fervilha…
Desde Petrus e Cheval Blanc até ao Opus One, passando por todos os aristocratas nacionais. Um conselho: não se intimidem e olhem-nos nos olhos como se bebessem daquilo todos os dias ao pequeno-almoço.
Obviamente que para o dia-a-dia de todos nós existem outras propostas muito mais “amáveis” para a carteira. Experimentem o “Monteirinho” - Tinto Dão de 2011.
Sendo a sala muito pequena, os fumantes devem acolher-se a uma esplanada que prazenteiramente se apresenta em cima do passeio.
O problema será arranjar mesa sem marcar, agora que este antigo “segredo dos amigos” acabou por se tornar uma locanda apetecida de muita da nomenklatura nacional, da política e do futebol até à finança e à economia…Por isso cá vai o telefone: 213 153 421.
É uma casa que não admite meios-termos. Ou se ama ou se odeia. Eu amo. É mais um dos meus múltiplos defeitos.
Manuel Luar