Chegou a altura de procurarmos um bom restaurante para levar a família.
Família é um conceito lato que pode incluir apenas o casal e os filhos, sendo que estes vêm em três tamanhos: muito pequenos, pequenos e adolescentes.
Normalmente os dois últimos grupos são controláveis num restaurante levando para o teatro das operações jogos de vídeo e as (ou os) namoradas, respectivamente.
Quanto aos mais pequenos, que se deslocam em 4 rodas, não há forma de os controlar. É aguentar e cerrar os dentes, tamponando bem os ouvidos.
Mas o conceito “família” é extensível a outros membros do agregado. À santa sogra e sogro, aos pais , à tia viúva que não sai lá de casa e ainda tem algum no banco (o que obriga a certas coisas, precavendo o futuro…)
Um bom restaurante para esta encomenda de algum valor - falamos de 6 ou 7 criaturas a manducar – tem de ter capacidade para fornecer bons pratos de tacho que podem ser compartilhados pelas pessoas normais, o bife com as batatas fritas para os juniores, os filetes de pescada para as senhoras da idade madura.
Deve ainda ter salas suficientemente amplas para que o garantido berrar das criancinhas possa, não direi passar despercebido, mas pelo menos atenuar-se com o alto pé-direito.
E, muito importante, ser cordato e pacífico na altura de apresentar a continha…
Porque devo desde já avisar que quem se aventurar por este caminho julgando que os idosos comem pouco está muito enganado.
Eles podem dizer que “não conseguem comer”, que “andam há meses com fastio”, até que “o médico e as doenças lhes travaram os apetites”… mas em vendo a comidinha na travessa atiram-se a ela mais depressa do que crocodilos no Nilo depois da seca que matou os peixes.
Há sempre o truque baixo de passar a “dolorosa” ao pai que está ao lado, depois de o ter amolecido com dois ou três whiskies velhos. Mas não o recomendo, tendo em vista que depois vem o Natal, os anos dos miúdos, a Páscoa… E é bem importante manter o cadastro limpo para facturar nessas alturas.
Para mim, o melhor restaurante de Lisboa para levar a família é a “Adega da Tia Matilde”, na Rua da Beneficência, ao Rego.
Ali pratica-se uma gastronomia de raiz lusitana tradicional. Tem um dos melhores cozidos à portuguesa da capital (talvez o melhor, sempre às terças feiras). Tem peixe da nossa costa da mais alta qualidade. Tem o melhor marmelo assado no forno que existe em todo o mundo ( a partir de Outubro).
Tem salas grandes e segregadas para fumantes, tem uma cozinha acima de qualquer suspeita em termos de qualidade das matérias-primas e de apuro na confecção. Tem pessoal amável e familiar, sem ser intrometido. Tem preços a condizer com as nossas bolsas.
Mas tem sobretudo o Sr. Emílio!
O Sr. Emílio,o patrão, que do alto dos seus mais de 90 anos se passeia de forma eloquente pelas salas, cumprimentando todos, aproveitando para levantar alguma mesa que tarda em ficar desocupada, homem admirável na sua simplicidade, sendo a prova viva de que quem faz o que gosta, e bem, tem a merecida recompensa logo nesta terra.
E permite ainda dizer para a sogra: “ A senhora ao pé do Tio Emílio está uma autêntica rapariga nova!”. O que, para variar, é verdade.
Marquem sempre primeiro! (Telefone: 217 972 172).
As virtudes desta antiga casa (quase 100 anos) são conhecidas e há dias em que a partir da uma da tarde já não há lugares de estacionamento, nem mesas…Sobretudo para famílias.
Manuel Luar