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Bem Comer: Encontros Inesquecíveis nº 11

Nem sempre de passado antigo se faz a memória gastronómica deste escriba. A sorte de…

Texto de Andreia Monteiro

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Nem sempre de passado antigo se faz a memória gastronómica deste escriba. A sorte de fazermos amigos novos - “coisa mais importante não há” – e que sejam dados a estas demandas da gastronomia e da enologia, tem por consequência criarem-se memórias recentes de momentos inesquecíveis passados com eles à mesa.

Há poucos anos entrou pela porta grande dos meus relacionamentos privilegiados um personagem notável.

Começou muito cedo a vida profissional como “artisan parfumeur” numa grande casa de Paris. Depois, cansado da vida da moda, entendeu aproveitar o grande, enorme, dom do seu “nariz” para se dedicar aos vinhos.

É a pessoa com maior memória olfativa que conheço. Vinho que tenha cheirado e provado nunca mais o esquece. Também por esse motivo é hoje considerado um dos maiores peritos do mundo a escolher vinhos para adegas e a prever (o que é mais difícil) a evolução futura desses vinhos em garrafa. Comprava vinhos e geria as adegas particulares, ou de estado, de milionários, de reis e de príncipes, em todo o mundo.

Por causa disso mesmo, sendo um notável comprador e um ainda maior conhecedor, era um pouco o “terror” dos produtores de grandes vinhos. As histórias que ele me contou destes relacionamentos dariam para uma novela. Sendo que alguns dos produtores em causa são autênticas “primas donnas”, com comportamentos a imitar as birras em palco da divina Maria Callas…

Falo no passado porque hoje esse meu amigo já só faz o que quer, quando quer.

Ganhou o suficiente para chegar aos 50 anos de idade sem necessidade nenhuma. A não ser as dores de cabeça relacionadas com a gestão das mais de 40 000 garrafas de grandes néctares que acumulou nesta sua vida de provador.

Não digo o nome dele, porque embora seja cada vez mais conhecido neste meio tão peculiar, não gosta de publicidade nem de andar nas bocas do mundo. Está por opção própria nos antípodas dos mundialmente conhecidos gurus dos vinhos, cuja fotografia aparece em todo o lado, e que por vezes rentabilizam a atividade de formas menos éticas.

E - só aqui para nós - devo dizer que sabe mais, mas mesmo muito mais, do que alguns dos ditos gurus.

Sobre grandes vinhos, brancos ou tintos, de qualquer país de relevo no mapa enológico mundial, o meu amigo é aquilo a que os nossos irmãos brasileiros chamam com graça “o pai da matéria”.

Quando nos conhecemos pela primeira vez estava ele a descarregar dois sacos de tela que trazia a tiracolo, cheios de garrafas de vinhos brancos alemães que ele justamente considera serem os melhores do mundo.

Num país como o nosso, onde os vinhos brancos sempre foram algo desprezados, parecia estranho alguém tão importante nestas andanças da enologia investir muito do seu tempo e do seu saber neste tipo de néctares. Eu imaginaria que ele estivesse mais preocupado com os Bordéus, Borgonhas e outros “primos” semelhantes.

Logo ali começou a lição. Aprender a conhecer e a amar os grandes vinhos brancos do Reno. Desde a temperatura de serviço daqueles vinhos até aos copos e aos momentos para beber. Dependendo do ano, da evolução em garrafa e de mais nem sei o quê, logo o especialista decidia se o vinho deveria ser decantado ou não.

E quando, armado ao pingarelho, alguém fazia rodar o líquido no copo de prova, veio ele dizer com delicadeza que isso só era necessário para certos vinhos. Para outros a oxigenação em demasia só prejudicava.

Eu, desconfiado da reputação da “criatura”, tinha trazido de casa Barca Velha de 1981 para dar contraponto a alguns dos magníficos Riesling em prova e que eram garrafas que custariam centenas de euros se estivessem no mercado.

Ao ver o vinho do Douro na garrafa de decantação o meu amigo disse logo que tinha de se beber já, pois com mais minutos de arejamento começaria a oxidar. E foi o que se passou.

Comemos percebes da nossa costa, santola e pargo assado no forno. Quando chegou a altura da sobremesa o amigo alemão voltou a pedir …percebes. Tinha-o encantado o sabor e cheiro a mar daquele marisco.

Desde essa altura até hoje sempre que comi com ele é obrigatório existir na mesa uma travessa de percebes.

Podemos dizer com graça que se foi ele que nos apresentou os grandes vinhos brancos do Mosel e Rheingau, também foi connosco que aprendeu a amar percebes.

Neste “trade off” todos ganham. Pois nada acompanha melhor uns belos percebes fresquíssimos do que um Riesling Rheinhessen feito pelo Sr. Klaus Peter Keller. Por exemplo o de 2012, que é um monumento ao vinho branco de origem alemã.

E pude compartilhar convosco esta informação porque tive a felicidade de ter o meu Amigo a explicar-me e a dar-me a provar aquele vinho, ao mesmo tempo que discorria sobre a família do Sr. Keller, sobre a casa onde vivia, sobre as vinhas e sobre a adega onde muitas vezes tinha almoçado com ele.

É um privilégio.

Texto de Manuel Luar
Ilustração de Priscilla Ballarin

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