fbpx
Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Bem Comer: Momentos que era melhor esquecer… Conto Moral n.º 6

Quem entra pela porta principal de um qualquer restaurante na maioria das vezes não tem…

Texto de Andreia Monteiro

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Quem entra pela porta principal de um qualquer restaurante na maioria das vezes não tem acesso ao que se passa lá para trás, nas ditas “zonas técnicas”. Nem sempre tem acesso e, acrescentaria eu, que nalguns casos ainda bem.

É conhecida a história da retaguarda do restaurante chinês em Macau, a qual não vou aqui repetir, referindo apenas que é uma anedota que pretende reforçar esta velha questão de “cada macaco dever estar no seu galho”: clientes à mesa, brigada de cozinha na cozinha e copa. E animais vivos, a espernear, devem estar no campo ou nas árvores, incluindo os tais macacos (presentes na anedota).

Pronto, lá conto a anedota já que muito insistem:

Estava um colega meu dos correios de Macau aflito porque os “patrões” o tinham obrigado a fazer uma emissão de selos sobre os animais selvagens típicos de Macau. E – quem conhece Macau – sabe bem que era esta uma missão impossível. Eu ainda o tentei ajudar e depois de consultar biólogos e enciclopédias lá me cheguei à frente com a sugestão de um tipo de macaco e de um pangolim.

O meu amigo só me dizia:

-“Muito obrigado senhor doutor, mas macacos e pangolins só se veem em Macau na Rua da Felicidade.”

Muito instado lá disse que era a rua dos restaurantes …

Evidentemente que tudo isto se passou numa época de obscurantismo ecológico e cultural. Hoje em dia tudo mudou (ou quase tudo).

Voltando à vaca fria, que era a suspeita retaguarda das cozinhas de alguns restaurantes nos tempos mais lá para trás, devo dizer que a moda das “cozinhas abertas” - que estão à vista dos consumidores - em muito melhorou a higiene obrigatória da restauração. Isso e a presença das brigadas de fiscalização alimentar regularmente nos estabelecimentos de comes e bebes.

Era eu um jovem imberbe quando comecei a comer fora sem supervisão dos adultos, com as minhas gentes do futebol-de-salão ou do judo, modalidades em que o Estoril naqueles tempos dava cartas, sobretudo nas camadas mais jovens.

É hoje talvez impensável a quantidade de comida que cada uma destas equipas devorava depois de um jogo importante ou de um campeonato. E como o dinheiro não abundava, os locais escolhidos para estas desmandas eram as então novíssimas “casas de frangos” que começavam a abrir um pouco por todo o lado, e com preços módicos.

Um atleta de 16 ou 17 anos comeria meio frango assado com batatas fritas, pensariam vossemecês? Pois sim, como aperitivo, mas nunca ninguém se ficava por menos de frango e meio. E havia campeões que comiam dois frangos sozinhos, com todos os acompanhamentos, e ainda ficavam a olhar para as travessas dos outros…

E quanto às canecas de cerveja que vinham para a mesa, depois dos campeonatos está claro, seria necessário conhecimentos de álgebra superior para as contar.

Os frangos eram “escalados”, abertos ao meio, e postos na grelha de carvão. Depois de grelhados no ponto salgavam-se e eram acompanhados por travessas grandes de batatas fritas e salada mista.

A retaguarda destas cozinhas era assim apenas o local onde se faziam as saladas e fritavam as batatas. Os frangos eram assados à vista da clientela.

Um dos nossos colegas e amigos, por alcunha “o piranha”, tinha um apetite devorador que mal parecia combinar com a pequena estatura. Por isso era o “piranha” e não o “tubarão”. Um grande atleta.

Comia num instante e depois costumava andar por baixo das mesas para tentar roubar alguma da comida deixada no prato pelos outros. Era um irrequieto.

Um dia, queixando-se amargamente da falta de batatas fritas, levantou-se e irrompeu pela porta da cozinha onde deu pela situação estranha de estarem os funcionários a “recuperarem” do lixo batatas fritas e restos de salada para darem aos foliões (nós) que não paravam de enfardar lá na sala ao lado.

Houve (como podem imaginar) forrobodó dos antigos, com direito a sermão da quaresma digno do grande Padre António Vieira. Mas acompanhado ao bombo, em vez de ser à viola.

A nossa equipa tinha 7 elementos, mais o treinador e o massagista. E éramos todos malta - como dizia o bardo – com o “braço às armas feito…mente às musas dada”, mas sem a parte das musas…

Tudo terminou em bem quando o proprietário disse que naquela noite “as bebidas eram por conta da casa”. Foi o que o salvou.

Moral da história: nunca entres sem seres convidado. Faz de vampiro.

Texto de Manuel Luar
Ilustração de Priscilla Ballarin

Se queres ler mais crónicas do Bem Comer, clica aqui.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Narrativas animadas – iniciação à animação de personagens [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Comunicação Digital: da estratégia à execução [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação à Língua Gestual Portuguesa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online ou presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online e presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Práticas de Escrita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Produção de Eventos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Pensamento Crítico [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Soluções Criativas para Gestão de Organizações e Projetos [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

O Parlamento Europeu: funções, composição e desafios [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

1 ABRIL 2024

Abuso de poder no ensino superior em Portugal

As práticas de assédio moral e sexual são uma realidade conhecida dos estudantes, investigadores, docentes e quadros técnicos do ensino superior. Nos próximos meses lançamos a investigação Abuso de Poder no Ensino Superior, um trabalho jornalístico onde procuramos compreender as múltiplas dimensões de um problema estrutural.

Saber mais

8 DE ABRIL 2024

A pobreza em Portugal: entre números crescentes e realidades encobertas

Num cenário de inflação galopante, os salários baixos e a crise da habitação deixam a nu o cenário de fragilidade social em que vivem muitas pessoas no país. O número de indivíduos em situação de pobreza tem vindo a aumentar, mas o que nos dizem exatamente esses números sobre a realidade no país? Como se mede a pobreza e de que forma ela contribuiu para outros problemas, como a exclusão social?

Saber mais
A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0