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Café Central com Adolfo Luxúria Canibal e António Durães

[fusion_text]Por Ana Azevedo, crítica profissional, cusca amadora e escritora wannabe. Mãe babada sempre. Com o…

Texto de Andreia Monteiro

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[fusion_text]Por Ana Azevedo, crítica profissional, cusca amadora e escritora wannabe. Mãe babada sempre.
Com o músico Adolfo Luxúria Canibal e o ator António Durães.

Mais um café, em que de café nem o cheiro. E bem jeito teria dado à nossa repórter que pelas seis da tarde, depois de uma viagem até Braga, já desesperava pela sua preciosa dose de cafeína. Chegada à mesa deste café lá encontrou o António, esse incontornável ator e encenador e o Adolfo, homem de múltiplos ofícios entre os quais ser a voz dos Mão Morta.

Há dias em que eu própria duvido se viverei mesmo a Norte há quase um ano, quando numa simples viagem a Braga me consigo perder na saída. Culpo os engenheiros deste país que não explicam bem as coisas nas auto-estradas e a falta de bateria no telemóvel que também serve de GPS. Cheguei ao Theatro Circo com um ligeiro atraso imperdoável perante os dois senhores que já me esperavam nesse sítio incontornável da vida dos dois e da cidade de Braga.

Encontro-me com dois nomes incontornáveis da cultura portuguesa porque quero conhecer o lado secreto de António Durães e de Adolfo Luxúria Canibal. Nenhum deles tem qualquer segredo que ainda falte contar, assim como não é segredo que se conhecem há bastante tempo, se respeitam imenso e que gostam e retiram prazer de trabalhar juntos. Adolfo conta-me: “Trabalhámos juntos, é público e notório, o primeiro trabalho conjunto foi em 95 ou 93, num clip em que tu [António] eras um carniceiro”. António acrescenta: “Estava completamente oculto. Eu passava muito magro, muito mais novo, encoberto por uma carcaça de porco às costas, cheia de sangue, no videoclip do Sangue no Asfalto”. Esta foi apenas a primeira colaboração que tiveram juntos, mas já não contam de cor tudo o que fizeram juntos ao longo dos anos desde participações em programas de rádio, a encenações, sendo a última colaboração o espetáculo de encerramento de Guimarães, Capital Europeia da Cultura em 2012.[/fusion_text][imageframe lightbox="no" gallery_id="" lightbox_image="" style_type="none" hover_type="none" bordercolor="" bordersize="0px" borderradius="0" stylecolor="" align="none" link="" linktarget="_self" animation_type="0" animation_direction="down" animation_speed="0.1" animation_offset="" hide_on_mobile="no" class="" id=""] [/imageframe][fusion_text]Quando lhes pergunto o segredo sobre como se conheceram, António responde: “Quando cheguei a Braga, em 84-85, o Adolfo já era uma personalidade de Braga. Os Mão Morta já andavam por aí, já faziam espectáculos. Eu neste teatro assisti ao concerto mítico dos Mão Morta”. António Durães está a referir-se ao concerto de 1993, em que o Theatro Circo ficou parcialmente destruído depois de um concerto da banda, e que a meio da conversa serve de brincadeira para explicar as profundas obras que o Theatro sofreu pouco tempo depois.

Apesar deste incidente, Adolfo não teve medo de se sentar neste espaço para o nosso café e chegou inclusivamente a ser convidado pelo próprio Theatro Circo para ir lá apresentar os Contos de Maldoror, do Conde de Lautréamont.

Mas se os seus medos hoje em dia não existem, o mesmo já não se pode dizer em miúdos. “Eu era muito propenso a pesadelos nocturnos. Tinha muitos pesadelos, acordava a meio da noite aos berros, ia dormir para a cama dos meus pais. Tinha pesadelos de me perseguirem, não sei muito bem quem me perseguia, penso que eram padres de batina”, diz Adolfo que também a propósito desta história me conta que partiu a cabeça um dia a fugir de um padre de batina até aos pés, ao bater num lajedo de granito. E ainda que muitos destes pesadelos nos possam recordar os vídeos dos Mão Morta, a responsabilidade destes cabe apenas e em exclusivo a quem realiza o vídeo, sendo que Adolfo não interfere no trabalho dos autores, dando-lhes total liberdade e responsabilidade.

Já os medos de António, que se confessa muito medroso em criança, estão ligados ao seu mundo e ao seu Universo: “Filmes de índios e cowboys, sobretudos dos índios que faziam coisas atrozes, do género sacar o cabelo e o couro cabeludo às pessoas que apanhavam. Aquilo fazia-me um bocadinho de impressão e embora a televisão não mostrasse exatamente tudo deixava subentender, e a criança que eu era percebia aquilo”.

Um medo que os dois partilham hoje em dia em comum é o medo das estreias e das brancas de memória, porque quer um quer outro precisam dessa memória nos seus espetáculos. Adolfo não tem nenhuma superstição que mantenha em dia de estreia de concerto, mas há uma coisa que diz: “O problema é o último ensaio. Se correr bem, é sinal de que o concerto pode correr mal, se correr mal então não há problema porque quase de certeza que o concerto vai correr bem”.  A superstição de António também não existe, mas há uma coisa que tenta sempre fazer: “Tento manter mais ou menos a mesma rotina dos ensaios, tento fazer as mesmas coisas que fiz antes, porque o corpo tem memória e ajuda a lembrar-se”.  Se para o vocalista dos Mão Morta o desafio é sempre acrescido, porque cada vez o repertório é maior, os concertos são maiores e consequentemente os espectáculos também são maiores, para o actor a memória dos músculos por vezes ajuda a manter a memória do cérebro. A propósito disto conta: “Dei por mim numa reposição de um espectáculo, sentado de uma forma que até para mim era estranha, as minhas pernas estavam numa posição estranha que eu não estava a perceber e de repente quando entra o cenário percebo o porquê, havia uma rampa e aquela era a única posição possível e o meu corpo lembrou-se”.

E sendo o teatro um elemento comum a este café, aproveitei o momento para confirmar com António se havia mesmo uma peça de Shakespeare de que não se pode dizer o nome dentro de um teatro, o que ele confirmou que sim, sempre sem me dizer que era o Macbeth, e aproveitou para me contar que há muitas superstições no teatro que vêm de antigas tradições: “É habitual no início desejar-se ‘muita merda’, o que tem a haver com o facto de antigamente as pessoas irem ver as peças a cavalo e se havia muita gente a ver a peça, logo havia muitos cavalos e muita merda. Por isso é que nunca se deseja boa sorte”.[/fusion_text][imageframe lightbox="no" gallery_id="" lightbox_image="" style_type="none" hover_type="none" bordercolor="" bordersize="0px" borderradius="0" stylecolor="" align="none" link="" linktarget="_self" animation_type="0" animation_direction="down" animation_speed="0.1" animation_offset="" hide_on_mobile="no" class="" id=""] [/imageframe][fusion_text]Do teatro para a música, não havendo histórias de fantasmas pergunto a Adolfo se conta histórias aos netos, aos quais, apesar de viveram na Irlanda atualmente, faz questão de manter a cultura portuguesa viva: “Não há muito espaço para contar histórias, mas já lhes ofereci os livros dos contos populares portugueses, para eles não ficarem só com os anglo-saxónicos ou os nórdicos, já lhes mandei os portugueses em histórias e sei que a minha filha lhes conta ao deitar, acho que o imaginário vai lá estar”.

Ainda a propósito de cultura, Adolfo confessa: "O mercado da cultura funciona muito com a novidade e uma pessoa quando não está no sítio certo para se ser novo depois é difícil voltar lá mesmo que se seja novo realmente. A maior parte da novidade é só novidade porque ainda ninguém o tinha visto antes, porque o que se faz não é propriamente novo e às vezes há coisas novas que nunca são novas porque nunca são vistas”.

Este café pode também não ter sido novo, mas foi uma novidade conhecer estes dois senhores num lado mais privado e também ele mais oculto, que me vez ver o homem para lá do actor e do músico e descobrir que pode não haver nenhum segredo, mas o que não lhes falta são histórias secretas para contar.

 

Café Central por Ana Azevedo

Fotos do Marcelo Baptista

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