Comprei aqui casa, sabes? Achei que já que este lugar era tão meu por fora, de tanto me ver por ali, devia ter paredes que fossem minhas por dentro. Pelo menos, assim, tenho uma janela para fechar nas noites em que me cansar de te adivinhar e a paciência apagar a luz antes de mim. É melhor assim.
Chamaste-me pelo sangue e puxaste-me pela língua que passo a vida a morder e agora a minha voz é feita de silêncio.
Não posso fazer barulho, não vás tu passar nesse momento e eu não dar conta no meio do alarido.
Vesti um colete à prova de amor porque dei o peito às balas muito tempo e não tenho mais onde pôr as cicatrizes que fazem o meu corpo parecer uma manta de retalhos.
Ainda hoje, de cotovelos apoiados naquela janela e olhos que mando lá pra cima onde todas as coisas são decididas, passados todos estes anos, penso cá para mim se não terei virado aquela esquina depois de ti e foi aí que te perdi.