Como voltar ao corpo depois de uma expulsão? Somos feitos de princípios e de ideias. Tudo aquilo em que tocamos oferece-nos uma experiência que, ou decidimos guardar ou mandar para o lixo. Umas vezes de forma consciente, outras nem por isso. O que nos destrói é não sabermos qual foi a informação que foi afastada. E depois é acordarmos todos os dias, com uma caixinha dentro de nós, com espaço a mais, onde deveria estar, julgo, o “eu”. O “eu” que é composto por todas as nossas aventuras. As boas e as más. Todas igualmente importantes.
Há alturas em que a desconexão com a realidade e com os outros é a melhor solução. Há, no entanto, um problema que se levanta, e que, consoante a urgência do assunto, cai para segundo plano: Depois de o nosso corpo conseguir filtrar informação e depois de superar a dor (reconhecível ou não), tem que haver tempo para voltarmos a nós. Porque a sensação que fica, diária, é de luto. Sem sabermos por quem é que estamos a fazer esse luto. Aquela caixinha, vazia, não deveria estar ali. A sensação é estranha. Como voltar a casa depois de uma expulsão? Porque o nosso corpo é a nossa primeira casa.