O festival Jardim Fest, em Ponta Delgada, nasceu em 2015 na ilha de S. Miguel. É um evento que celebra o fim do verão com música e entretenimento para toda a família, numa lógica de partilha com a natureza. Além da importância cultural, o Jardim Fest apresenta-se agora como um marco para as gentes locais.
A iniciativa surgiu a partir da associação cultural CRACA que se despediu ontem, dia 8, de mais uma edição. Desta vez, uma mão-cheia: cinco anos de música no jardim para os açorianos. As três primeiras edições levaram os espectadores até ao Jardim António Borges. Em 2018, o recinto mudou-se para o maior espaço verde da cidade: o Parque Urbano.
A ideia nasceu como uma forma diferente de pensar as coisas. Filipe Mota, membro da organização desde a primeira edição, explica que “em S. Miguel, existe uma grande diferença de escalas. Ou se tem grandes salas, como o Teatro Micaelense, ou se tem os palcos dos bares, que são coisas pequenas. O nosso objetivo era criar um ponto de encontro onde se podia criar uma rede entre os artistas de várias áreas. Então, começamos a fazer projetos esporádicos”. Anos depois, a festa continua.
O espaço verde do parque não agrega apenas os palcos que dão música. Nos três dias de programação, e à semelhança dos outros anos, as famílias açorianas puderam divertir-se com atividades para todas as faixas etárias. No terreno, era possível passar o tempo entre dois palcos, um pequeno mercado de artesanato, cinema ao ar livre, zona de restauração e espaços de convívio. A isto, juntavam-se ainda uma barbearia e um espaço de massagens. O mote estava lançado e as famílias não se desiludiram.
Pela relva, cheiravam-se pipocas e malassadas. “Quantos mais os anos passam, mais preparadas as pessoas ficam. Tive gente a perguntar antecipadamente quando eram as datas”, acrescenta Filipe Mota. A maior dificuldade apontada é “a falta de recursos financeiros” para fazer mais e melhor. A ideia inicial do festival era torná-lo itinerante, levando-o de ilha em ilha e cidade em cidade e revitalizando parques e espaços esquecidos pelos conterrâneos. Esse ponto de partida resultou com o Parque António Borges que, segundo Filipe, levou muitas famílias a comentar que “já não iam àquele sítio há muitos anos”. Por força das circunstâncias, o festival mudou de sítio, mas a vontade continua a mesma.
Depois de cinco anos a levar a cultura a S. Miguel, “o balanço é muito positivo”. A programação infantil atrai muitas famílias que não se reveem noutros festivais mais adultos. No entanto, nem sempre foram boas críticas: “No início criticavam-nos imenso. No primeiro ano, tivemos PZ no mesmo cartaz que o Diogo Piçarra. Diziam-nos que misturávamos tudo, que não havia critério. Mas não, nós não queremos ter um género, o nosso objetivo é ser transversal”.
Entre a programação musical, os gostos agradaram a todos. Tanto no primeiro como no segundo dia, as bandas nacionais e locais trouxeram o main stream e o alternativo à ilha atlântica. O último dia, mais direcionado à audiência infantil, permitiu que os pais passassem momentos diferentes com os filhos.
Numa altura em que se fala do acesso à cultura, Filipe diz que “a oferta cultural nunca é suficiente. Em S. Miguel, a oferta cresceu muito. O Teatro Micaelense começou a ter uma programação menos elitista e mais diversificada e os próprios festivais de concelho começam a trazer nomes que há uns anos seria impensável”. A ideia, no entanto, poderia ser a de alargar ainda mais a oferta cultural. “Ter um mês aberto ao público com atividades no jardim seria plausível”.
Três dias depois, a ilha despede-se mais uma vez do Jardim Fest. “No dia em que acaba, estamos todos muito cansados, e a vontade é não fazer mais nada. Mas depois de descansar e refletir, a vontade volta”, diz Filipe. Entre paisagens açorianas e gentes hospitaleiras, a vontade é que o festival volte para mais uma edição todos os anos.