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Metro de Lisboa: uma narrativa fotográfica para redescobrir as estações da capital portuguesa

Numa fração de segundo, sob um olhar enquadrado, a fotografia é a cristalização de um…

Texto de Ricardo Gonçalves

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Numa fração de segundo, sob um olhar enquadrado, a fotografia é a cristalização de um momento que não se repete. É um meio de registo e memória, que pode conjugar linhas do passado com elementos do presente. Como forma de celebrar o 59.º aniversário da abertura ao público, o Metro de Lisboa desafiou cinco instagramers portugueses a fotografarem as diversas estações da capital, num trabalho de retrospetiva, mas, acima de tudo, de descoberta. “Olhares sobre o Metropolitano de Lisboa” conta com um conjunto de 59 fotografias que se encontram expostas até à próxima terça-feira, dia 29, na estação Marquês de Pombal.

A correria e o frenesim são, por vezes, inimigos do olhar mais contemplativo. No caso de uma estação de metro, a agitação diária leva a que nunca reparemos em certos pormenores – arquitetónicos ou não – que sempre ali estiveram. @ana_gil_ (Ana Gil), @ben.pinto (Ben Pinto), @eyes.of.rita (Rita Neves), @madmenezes (Madalena Menezes) e @rpmiguel (Rui Miguel) foram os cinco instagramers escolhidos, para que, ao longo de duas semanas, tivessem absoluta liberdade de captar, por meio da fotografia, detalhes e linhas que definem o metropolitano de Lisboa.

Por @madmenezes (Madalena Menezes)

Foi nessa lógica um processo de descoberta, uma vez que, todos os instagramers, sem exceção, puderam ficar a conhecer estações de metro onde nunca tinham estado antes. Por outro lado, era preciso perceber depois se as estações se enquadravam na narrativa fotográfica que se pretendia apresentar. “Aconteceu, por exemplo, não conhecermos as estações todas e, mesmo que passemos por elas todos os dias, há sempre pormenores que não vemos” explica @ana_gil_ (Ana Gil), reconhecendo que houve estações “que em termos das fotos não se enquadraram na exposição final”.

Já para @rpmiguel (Rui Miguel), que desde criança mantém um fascínio pelo metropolitano, este foi um momento único para ficar a conhecer mais pormenores presentes nas estações. “Pela primeira vez pude ver, com atenção, as intervenções artísticas das estações que são fabulosas e que contam histórias”, sustenta, recordando as horas que passou na estação do Parque, a título de exemplo, marcada por símbolos que ilustram a era dos Descobrimentos portugueses.

@ben.pinto (Ben Pinto), o mais jovem do conjunto dos instagramers, admite que mesmo não sendo um utilizador habitual do metro sabia que, ao longo dos anos, muitas estações tinham sofrido obras de modernização. Um “desafio” que o fez querer concentrar-se mais no exterior das estações e, desta forma, poder conjugar elementos de street photography nas suas fotografias.

Por @eyes.of.rita (Rita Neves)

Ao encontro de uma narrativa
Depois de uma primeira recolha de informação visual era preciso sedimentar uma narrativa coerente para o conjunto de fotos a expor. No caso de @madmenezes (Madalena Menezes), arquiteta de profissão, foi gratificante poder captar “certas tridimensionalidades subterrâneas”, assentes “na quantidade de níveis que há de corredores, galerias e espaços que se unem”. Neste sentido, admite que houve um ângulo inicial – o da relação da arquitetura com as pessoas –, que foi sendo moldado à medida que passavam por diferentes estações.

No seu conjunto de fotos intitulado Num instante, @madmenezes (Madalena Menezes) tentou obter um fio condutor que ilustrasse a “riqueza espacial das estações” sem nunca esquecer a “escala humana”, indissociável à dinâmica destes locais.

A instagramer @eyes.of.rita (Rita Neves), por seu lado, decidiu concentrar-se, essencialmente no lado humano. “A verdade é que sempre que andamos de metro estamos num tempo de correria, mas também de pausa e em que podemos deter o nosso olhar nos outros. É um sítio de introspeção”, declara. No seu trabalho cujo título é Mind the Gap, a instagramer pretendeu dar a conhecer os interstícios que, por norma, nos passam despercebidos, num olhar que fica entre o arquitetónico e o quotidiano.

Por @ana_gil_ (Ana Gil)

De formas diferentes, tanto Ana Gil como @rpmiguel (Rui Miguel) procuraram retratar a ideia de viagem. “O meu trabalho chama-se Deep Thoughts e tem que ver com esta narrativa de entrada e saída do metro, onde, geralmente, nos fechamos nos nossos pensamentos”, explica Ana Gil que resume o seu conjunto em três momentos: “o de entrada no metro, o da viagem e depois, o momento da saída”.

No seu trabalho Linhas Cruzadas, @rpmiguel (Rui Miguel) decidiu apresentar a ideia de uma viagem entre vários pontos do metro que já ultrapassou as fronteiras da capital. “O centro da cidade foi o meu ponto de partida para as fronteiras de Lisboa que já se uniram pelo metro” destaca o instagramer, que tentou concentrar-se na ideia de “chegada a um lugar desconhecido”.

Em Perdido no Metro, @ben.pinto (Ben Pinto) mostra, por seu lado, o metro pelos olhos de alguém que não costuma utilizar este meio transporte, o que no seu caso foi uma vantagem. “Foi mais surpreendente descobrir como temos estações tão bonitas”, declara, admitindo que foi na estação do Oriente, concebida pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, que encontrou mais pormenores surpreendentes.

Após duas semanas entre estações, escolher uma preferida é, no entanto, uma tarefa difícil para os cinco. Há estações mais marcantes, como a do Parque pelos seus pormenores simbólicos, a do Oriente pelas suas linhas futuristas, ou a da Ameixoeira pela grandiosidade. “Não há estações favoritas, mas eu adoraria ver uma ópera na Ameixoeira”, confessa @madmenezes (Madalena Menezes).

Por @rpmiguel (Rui Miguel)

Instagram: um hobby que se profissionalizou
Nenhum dos instagramers escolhidos é fotógrafo de profissão. Facto importante, que demonstra como o Metro de Lisboa está atento às novas tendências, nomeadamente no que toca às plataformas digitais de fotografia.

Nos últimos anos, o Instagram popularizou-se e é hoje considerada uma plataforma relevante na promoção de fotografia, designadamente do trabalho mais artístico e autoral. Para o conjunto de instagramers escolhidos para esta exposição, a verdade é que mesmo tendo começado como hobby, o Instagram funciona atualmente como plataforma profissional de trabalho e novos projetos. Sobre este aspeto, @rpmiguel (Rui Miguel) recorda mesmo que hoje em dia, até “os grandes fotógrafos usam a plataforma e percebem a sua importância em termos da promoção dos seus trabalhos”.

Por @ben.pinto (Ben Pinto)

Por outro lado, sublinha @madmenezes (Madalena Menezes), a plataforma serve para conhecer o trabalho de outras pessoas, gerando impacto e feedback. Com milhões de utilizadores espalhados por todo o mundo, o Instagram tem vindo a democratizar a fotografia. Nesta lógica, @ben.pinto (Ben Pinto) acredita que tal acontece, devido aos “nichos que se encontram na plataforma e onde cada pessoa pode encontrar a sua comunidade”.

Mais do que isso, refere @rpmiguel (Rui Miguel), trata-se de um espaço de afetividade porque as pessoas se ligam emocionalmente às imagens. “É essa sensação que contagia utilizadores e que tem impacto. E é por isso que a plataforma nos permite usufruir de uma outra forma do tempo”.

 

Texto de Ricardo Ramos Gonçalves
Fotografias de @ana_gil_, @ben.pinto, @eyes.of.rita, @madmenezes e @rpmiguel

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