fbpx
Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Onde resisto, persisto

Números de circo à descrição. E estou à vontade para falar disto como falo de…

Texto de Leitor

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Números de circo à descrição. E estou à vontade para falar disto como falo de outras coisas por dois motivos: um é que sei que várias pessoas já passaram por isto e o outro é que aquilo que partilhamos pode impactar, pelo menos, a vida de uma pessoa e se ajudar, já terá valido a pena.

Antes de mais, introduzir a coisa.

Padrões acontecem, e de forma cada vez mais reforçada no tempo, para que se torne cada vez mais evidente aquilo que temos que trabalhar, geralmente alguma parte de nós que precisamos reconhecer, integrar, aceitar e amar para que um ciclo se rompa. É um género de: bom, há uma parte de ti que dói, por baixo desse penso que teimas em não tirar (como quando levamos uma vacina e andamos ali com aquela porcaria tempos infinitos só porque não nos apetece ter o trabalho de sofrer 5 segundos a arrancar) e como não existe no mundo ferida que cure sem doer primeiro, quanto mais taparmos o sol com a peneira, mais camadas vamos criar por cima dele e estamos a fazer duas coisas: Uma é adiar o processo de cura (mas temos a mania que estamos a evitar) e outra é alimentar a dor porque até que tenhamos coragem de olhar para o quarto da bagunça e começar a arrumar alguns tarecos, ele não se vai limpar nem organizar sozinho. É preciso sujar as mãos, sim. É preciso tocar no chão às vezes, sim.

Quando existe uma situação na vida que temos que encarar e vamos adiando, não sentem que ela vai ficando pior com o tempo? Vai-se tornando mais pesada, mais evidente, mais difícil de suportar, ainda que o ser humano seja perito em arranjar escapes para camuflar esta fuga à realidade.

Há uma frase de Maryam Hasnaa que cito no meu livro e da qual gosto muito que diz: o universo vai dar-te diferentes versões da mesma lição até que a domines. Esta é uma das mais importantes leis universais que vais aprender sobre a natureza da realidade. É das coisas mais verdadeiras que já li e senti. Quem é que nunca se sentiu uma pescadinha de rabo na boca? Um hamster na rodinha?

"Porquê" é vitimização. A pergunta deve ser "Para quê?"

Quando perguntamos para quê, saímos do papel de calimero da vida e estamos a debruçar-nos sobre o propósito de determinada situação, estamos a querer perceber o que ela nos vem trazer.

Os traumas, os bloqueios, os medos, as inseguranças vêm sempre de um lugar de amor, mas um amor com dor, porque só quem está ferido e a sofrer fere e faz sofrer, ainda que não tenha essa intenção e/ ou percepção. É tão simples quanto isto: pessoas magoadas magoam pessoas. O que está dentro é o que está fora. Cada um só pode dar o que tem lá dentro, não pode dar mais porque não tem, não sabe, não chegou lá ainda. A maior parte das pessoas que foi sujeita a algum tipo de trauma/carência na infância e cresceu em falta e desequilíbrio (físico ou psicológico) desenvolve uma de duas posturas: atacar ou fugir. Ou é alguém que adopta uma postura confrontadora e algo agressiva ou pelo contrário, é alguém passivo e que evita o conflito, deixando sempre a sua vontade e necessidades para segundo plano ao longo da vida (até que ganhem consciência disso e queiram resolver). Mas ambas as posturas derivam do medo. Quando sinto medo, ataco ou fujo. Os animais são assim também, certo? Não é o que fazemos todos?

O meu professor de Introdução ao Estudo da Cultura - Luís Dias Martins - (chamavam-lhe LDM e eu não conseguia evitar imaginar um maço de Marlboro com pernas de cada vez que ouvia o nome do senhor (ossos do ofício da criatividade, deixem-me) tinha por hábito largar pérolas de sabedoria fora de contexto (aparentemente) no meio das aulas e ficava com um ar de alucinado com os olhos muito abertos (e às vezes a boca) a ver se alguma alminha reagia. "O que é que tem o melão?" - Tem casca, dizia um. - Tem sementes, atirava outro. TEM SUMO, IMBECIS, TEM SUMO! QUE É COISA QUE VOCÊS NÃO DEITAM NEM ESPREMIDOS! Um encanto o senhor. Uma vez, foi esta: Só se mata quem dá valor à vida. Silêncio. Olhos abertos. Boca mais ainda.

Eu estava sentada o mais atrás possível (o sr. falava muito alto e era um bocadinho assustador, mas eu vibrava com as aulas dele, confesso). Ninguém se atreveu a respirar sequer. "Então? Ninguém diz nada?" Eu arrisquei e disse o que pensava, que só se pode matar alguém que dá tanta importância à vida, a quem esta pesa demais em determinado momento e que não aguenta mais. Nesta altura, eu ainda lutava muito com o meu instinto, que tonta, se eu soubesse lá atrás que ele está sempre certo. Sim, professor, faz todo o sentido. Quando temos uma dor, e aqui não falo de dor física, mas no sentido figurado, a nossa tendência é evitar contactar com ela a todo o custo. É um instinto básico, primário, animal até, diria.

Agora percebo que repeti durante anos um padrão e que vivi agarrada ao que me faziam e culpei as pessoas que me magoaram; Não que tenham agido bem comigo, atenção, mas o que os outros fazem é o caminho deles, a forma como eu reajo, é o meu. Devia ter-me responsabilizado por permitir que entrassem e permanecessem na minha vida, por dizer que sim aos outros e tantas vezes, não a mim. Isto vale para relações de que tipo for, atenção, não estou a falar só de relações amorosas, existem "amizades" muito tóxicas em que, geralmente, a energia de uma das partes é de dar e a outra de sugar. Não me respeitei, não honrei a minha vontade, não me valorizei nem cuidei de mim. E então foi o que ensinei os outros a fazer comigo. E isto é uma bola de neve até que EU rebente a corda.

A vida vai repetir-se até que percebamos que não é o que nos fazem que está em questão, é o que sentimos perante o que nos fazem. É o vazio que fica em nós por não nos termos cuidado.

Temos que quebrar o ciclo, resgatando o melhor de nós, despindo o casaco de calimero e assumindo a responsabilidade de nos aceitarmos e honrarmos e melhorarmos.

Se quiseres ver um texto teu publicado no nosso site, basta enviares-nos o teu texto, com um máximo de 4000 caracteres incluindo espaços, para o geral@gerador.eu, juntamente com o nome com que o queres assinar. Sabe mais, aqui.
Texto de Cláudia Cecílio

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

18 Abril 2024

Carta do Leitor: Cidades Híbridas: onde podemos libertar as nossas cidades interiores!

28 Março 2024

Carta do Leitor: Conversa com a minha doença autoimune

7 Março 2024

Carta do Leitor: Guia-modelo de Competências de Liderança

3 Março 2024

Carta do leitor: O profano do sagrado quotidiano

22 Fevereiro 2024

Carta do Leitor: Os blogs empresariais vão sofrer o  efeito Milankovitch este ano

11 Fevereiro 2024

Carta do Leitor: Quem quer comprar um imigrante?

4 Fevereiro 2024

Excerto manifesto anti-exames

28 Janeiro 2024

Carta do Leitor – Desconstruir a Neuronormatividade: um chapéu de cada vez 

14 Janeiro 2024

Carta do Leitor: Stream of consciousness pluvial 

7 Janeiro 2024

Carta do Leitor – “Teias de lítio”: a prova de que os relatórios de impacte ambiental estão a falhar

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Produção de Eventos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Soluções Criativas para Gestão de Organizações e Projetos [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

O Parlamento Europeu: funções, composição e desafios [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação à Língua Gestual Portuguesa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Pensamento Crítico [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Narrativas animadas – iniciação à animação de personagens [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online ou presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Práticas de Escrita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online e presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Comunicação Digital: da estratégia à execução [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

22 ABRIL 2024

A Madrinha: a correspondente que “marchou” na retaguarda da guerra

Ao longo de 15 anos, a troca de cartas integrava uma estratégia muito clara: legitimar a guerra. Mais conhecidas por madrinhas, alimentaram um programa oficioso, que partiu de um conceito apropriado pelo Estado Novo: mulheres a integrar o esforço nacional ao se corresponderem com militares na frente de combate.

Saber mais

1 ABRIL 2024

Abuso de poder no ensino superior em Portugal

As práticas de assédio moral e sexual são uma realidade conhecida dos estudantes, investigadores, docentes e quadros técnicos do ensino superior. Nos próximos meses lançamos a investigação Abuso de Poder no Ensino Superior, um trabalho jornalístico onde procuramos compreender as múltiplas dimensões de um problema estrutural.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0