Quantas vezes já nos vimos gregos? E o caso não era só para inglês ver, confessa… E que vontade essa de ter um negócio da China, não é verdade? Afinal, todos queremos terminar à grande e à francesa.
Inicio esta crónica recorrendo a quatro expressões idiomáticas: ver-se grego, para inglês ver, negócio da China, e, por último, à grande e à francesa. Se não conhecermos o significado destas expressões, a mensagem será incompreensível. Mas mais do que significado, óbvio para a maior de parte de nós dada a elevada frequência de uso destas expressões, vamos descobrir o porquê de as usarmos. Será que os gregos têm muita dificuldade em resolver situações? E por que carga-d'água um bom negócio é chinês? Sem mais demora, passemos às explicações. Vamos descobrir a origem das mesmas.
Ver-se grego
Ver-se com muita dificuldade em resolver qualquer problema ou situação.
Não, não pensem que são os gregos que têm dificuldade em resolver situações. A explicação anda em torno da língua. O grego sempre foi considerado uma língua complicada. Se conhecerem o alfabeto grego, já estarão a entender aonde quero chegar. Não é fácil, pois não?
Na Idade Média, aqueles que faziam transcrições ou traduções usavam muito este dito: “Graecum est, non legitur”, ou seja, «É grego, não se entende». Por isso, dizemos: “Isto para mim é grego”, ou seja, é complicado ou não consigo entender. Curiosamente, em situações idênticas, por vezes, deixamos de usar o grego e usamos outro idioma também considerado complicado. “Isso para mim é chinês!” Não reconheces? Pois é, também é válido!
Para inglês ver
Para manter as aparências ou fazer de conta.
A sua origem é brasileira. No início do século xix, o Reino Unido havia proibido o tráfico de escravos nas suas colónias e rapidamente obrigou outros estados a seguir o exemplo. No ano de 1826, obrigou o Brasil a firmar um tratado de abolição do tráfico em três anos. Em 1831, é promulgada a Lei Feijó, que proibia a importação de escravos no Brasil e declarava livres todos os escravos desembarcados em portos brasileiros a partir daquela data. Na realidade, a lei não era cumprida; foi só fachada, pois o tráfico continuava, ou seja, era apenas para inglês ver… Nasceu assim a expressão que designa tanto leis que só existem no papel como também qualquer outra coisa feita apenas para preservar as aparências, sem que efetivamente ocorra.
Negócio da China
O que dá muito lucro.
Durante o século xix, a economia capitalista esteve em franca expansão. Os britânicos cobiçavam bastante o mercado chinês, assim como as matérias-primas chinesas. Portanto, vontade não faltava de se apoderarem de todo esse negócio. Mas a China mantinha fortes restrições sobre o comércio estrangeiro, impedindo ainda a venda de ópio, traficado por comerciantes ingleses a partir da Índia. Esta situação conduziu às célebres Guerras do Ópio, ocorridas entre o Reino Unido e a China em dois momentos, nos anos de 1839-1842 e 1856-1860. Os ingleses saem vitoriosos destes conflitos, garantindo a legalização do comércio de ópio, bem como o seu monopólio. Esta vitória trouxe chorudos lucros aos comerciantes e ao governo ingleses, bem como a cedência de vários territórios chineses, nomeadamente Hong Kong, um verdadeiro negócio da China!
À grande e à francesa
De forma luxuosa ou com pompa.
Agora recordemos as Invasões Francesas. A primeira, entre 1807-1808, foi liderada pelo general Junot, que se instalou em Lisboa (no palácio do barão de Quintela, na rua do Alecrim, ao Chiado), depois de a Corte ter fugido para o Brasil. Naturalmente, também os seus oficiais e as suas tropas se instalaram na capital. A comitiva de Junot passeava pelas ruas lisboetas em uniforme de gala, cheios de glamour, ostentando luxo e vivendo à farta. Nas bocas dos lisboetas, depressa se instalou o dito: "Eles vivem à grande e à francesa!"
E assim, esta última expressão dá-nos um excelente mote para a próxima crónica. Que outras expressões estarão diretamente relacionadas com a época das Invasões Francesas?
Um abraço, despeço-me com amizade!