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Palhetas Perdidas: Corrente – Concertos Solidários

Se a temática flexível desta rubrica oferece a quem escreve a liberdade de abranger, nos…

Texto de Redação

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Se a temática flexível desta rubrica oferece a quem escreve a liberdade de abranger, nos diferentes artigos, um leque alargado de tipos de espaço onde a música se faz ouvir, por vezes, o desafio e o interesse residem precisamente em esticar até ao limite essa mesma flexibilidade. Tal poderá ser o caso do artigo desta semana, no qual, mais do que ao espaço físico, se procura dar o protagonismo ao papel solidário dos concertos que nele decorrem.

A corrente Concertos Solidários começou há menos de um ano, e, assumindo uma dimensão e formato simples (os concertos são realizados numa casa particular no centro histórico de Évora, para uma audiência limitada a 50 pessoas por concerto), vai já para o seu quarto concerto, tendo angariado, desde o seu início, mais de 5000 euros em donativos. Até à data, a corrente contou com participação de Joana Espadinha, Luísa Sobral e António Zambujo, tendo este último uma quota-parte significativa de responsabilidade no sucesso da iniciativa, segundo nos conta Miguel Cambezes Garcia, mentor do projecto.

Natural de Évora, embora a residir em Lisboa desde o ano de 2010, Miguel, não tem necessariamente uma relação directa com a música, embora sejam muitas as amizades que mantém com diferentes artistas, entre os quais o cantor António Zambujo, com quem deu início à corrente. Relativamente aos primórdios desta, revela que foi há cerca de um ano que tomou conhecimento da situação de uma família de guineenses que estava a ficar temporariamente em casa de uma amiga sua: “o filho mais velho tinha um tumor no cérebro e na altura circulava um post no Facebook com o objectivo de angariar fundos para ajudar a sustentar os custos necessários com viagens internacionais”, explica. Com um negócio de família ligado à produção de vinho, Miguel decidiu instantaneamente ceder uma garrafa de litro e meio para leilão, o que acabou por atrair outros produtores de vinho e comerciantes conhecidos para a causa, e em poucas horas estava constituído um cabaz com um valor significativo, apenas entre os seus contactos mais próximos.

“Foi nesse contexto que falei com o António Zambujo, e lhe perguntei se ele não queria emprestar a sua voz e fazer um concerto para angariar fundos para a causa”, revela. A resposta do cantor foi afirmativa, pelo que apenas seria necessário arranjar data e espaço. A solução recaiu, portanto, na Casa Nobre da Rua do Imaginário, em Évora, amplo edifício cuja construção remonta ao século XVIII, e hoje em dia residência particular dos pais de Miguel. “Na altura, achei que não sendo um teatro, e tendo obviamente as suas limitações logísticas no que toca ao número de pessoas que podíamos receber, era um espaço com outro tipo de características, que permitiam fazer um concerto mais intimista, a puxar para o ambiente dos saraus à antiga”, explica.

Se numa primeira fase foi ainda feita uma abordagem ao Teatro Garcia de Resende, que não pôde acolher o concerto por não ter datas disponíveis, foi o sucesso desse primeiro concerto na Casa Nobre, em tempos também destinada a turismo local, que levou António Zambujo a propor novas actuações nesse mesmo espaço, de forma regular, para apoiar outras causas solidárias. “No final desse concerto, o António veio-me logo dizer que por ele ia lá todas as semanas. Mas eu mesmo, tendo uma relação de amizade com ele há muitos anos, nunca o quereria sobrecarregar dessa maneira”, explica Miguel. Foi dessa forma que se chegou ao formato actual: cada artista que por lá passasse escolheria um artista para lhe suceder, escolhendo também a causa que queria que fosse apoiada no concerto seguinte. O pagamento seria feito directamente à instituição a apoiar nos respectivos concertos, e o convite seria enviado mediante apresentação do comprovativo de transferência, e incluiria ainda informações relativamente a artigos e/ou alimentos a trazer para o cabaz solidário de cada concerto.

No que toca aos artistas, António Zambujo queria actuar pelo menos mais uma vez, pelo que o concerto que deu o pontapé de saída da corrente contou novamente com a participação do cantor de Beja. “Na altura, como o António era o primeiro da corrente, tínhamos de pedir a alguém que escolhesse a causa por nós”, lembra Miguel, pelo que, após um contacto com a respectiva assessoria de imprensa, o pedido foi feito ao presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que deu aos dois a escolher entre mais do que uma causa a apoiar na cidade de Évora. A escolha recaiu na Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Évora, pelo que, após esse concerto, foi a vez de António Zambujo convidar Luísa Sobral para um segundo concerto, desta feita destinado a apoiar o Centro de Paralisia Cerebral de Beja, do qual era padrinho. Luísa, por sua vez, convidou Joana Espadinha para cantar a favor da Casa da Encosta, tendo este último concerto decorrido no passado dia 13 de Outubro.

Relativamente à experiência do público, o objectivo será, naturalmente, fazer com que quem assista sinta vontade de voltar. Para o organizador, transversal a todos os concertos, independentemente de quem actua, é o ambiente intimista vivido em cada um. “Assistir neste formato a uma actuação de alguns dos maiores artistas nacionais é completamente diferente de ir assistir a um concerto num auditório”, defende. Por outro lado, é também importante para Miguel criar condições para que os artistas que por lá passam se sintam em casa. “Deixamos as questões técnicas e logísticas, desde a duração dos concertos à intensidade das luzes, ao critério de cada artista. O mais importante é que se sintam confortáveis nesta casa e com esse ambiente de proximidade com o público e com o espaço durante a actuação, pois é precisamente esse ambiente que torna os concertos especiais.”

Tendo nascido de forma inesperada e um desenvolvimento relativamente súbito (o próprio organizador é o primeiro a assumir que a experiência que tinha no que diz respeito à produção e organização de concertos era nula ao início), a prioridade passa, para já, pela manutenção da corrente. “Acima de tudo, queremos que a corrente continue viva. Mas também temos noção de que em termos de dimensão não há muito mais por onde consigamos crescer, e achamos que a regularidade actual em que os concertos acontecem é a ideal para o equilíbrio que queremos ter nesta fase”, assume Miguel. O organizador revela mesmo ter já recebido mais do que uma proposta por parte de diferentes artistas que querem participar nos concertos, pelo que defende, para já, que mudar o formato não faz sentido. “O carisma desta corrente vem precisamente da ideia de ser o artista que actua que escolhe quem vem a seguir e que causa vai ser apoiada”, lembra, assumindo, no entanto, que não põe de parte essa possibilidade de realização de mais concertos de forma esporádica, paralelos à corrente, no futuro.

Quanto a esta, prosseguirá com a participação de Benjamim, convidado por Joana Espadinha, num concerto cujas receitas reverterão a favor de um centro de apoio a refugiados a definir.

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

Texto de João Espadinha
Fotografia de Cristina Cambezes

Se queres ler mais crónicas do Palhetas Perdidas, clica aqui.

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