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Pergunta da Sorte com Rui Neto

Rui Neto, ator e encenador, é natural de Lisboa e começou por estudar Informática e…

Texto de Andreia Monteiro

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Rui Neto, ator e encenador, é natural de Lisboa e começou por estudar Informática e Gestão de Empresas, onde conheceu o bichinho do teatro. Desde então já fez parte do elenco de vários teatros e já participou em várias telenovelas. Mais recentemente tem vindo a apresentar criações suas, sendo a última o Valute.


No café do Teatro Comuna de Pesquisa, onde o Rui levava a cena Valute, encontramos uma mesa redonda de madeira. Esse pareceu ser o sítio certo para o jogo da Pergunta da Sorte. Sentámo-nos, expliquei as regras do jogo e começamos a jogar. O Rui lança o dado e avança 5 casas. Fomos parar à casa da Pergunta da Sorte, em que posso fazer a pergunta que escolher na altura.

Pergunta da Sorte: Quando questionaste o trabalho de ator, o que te fez voltar? Que razão de ser desta arte encontraste?

Rui Neto (R): Não sei se encontrei alguma (risos). Acho que, se calhar, foi por não ter encontrado nenhuma que voltei a ver se conseguia respostas, sabes?  Acho que tudo pesa a dado momento. Não sou nada daquelas coisas da idade, mas acho que muda um bocadinho. Às tantas tens a noção que já viveste x anos da tua vida. Não é que tenhas ultrapassado um ponto de não retorno, mas, de facto, para mudares a tua vida, a dado momento, começa a ser toda a tua vida. É assim um bocadinho too much. Percebes também que tudo te liga: as pessoas, os amigos, as ideias, a tua forma de estar, a tua forma de te expressares. Portanto, mesmo que a dado momento uma pessoa queira fugir um bocado, foge mas é assim para um apartamento ao lado (risos). Não dá para sair do condomínio, estás a ver? (risos).

Andreia Monteiro (A): Estou sim (risos).

Pergunta respondida, é altura de voltar a lançar o dado e continuar o jogo. Duas casa à frente vamos parar à casa da – Carreira, onde as cartas revelam perguntas sobre a vida profissional do artista.

R: Então e tu baralhaste as cartas ou está naquela ordem manhosa?

Perante esta pergunta só me consigo rir com aquele ar de quem foi apanhada em flagrante.

R: Ahhhh está naquela ordem manhosa (risos).

Carreira: O que gostavas de fazer que ainda não tiveste oportunidade de concretizar?

R: Divido-me enquanto ator e criador/ encenador. Enquanto ator gostava de conseguir ter a disponibilidade para trabalhar com encenadores com quem nunca trabalhei, que foram importantes para mim enquanto público e que gostava que fossem importantes enquanto ator. Por exemplo, o Miguel Seabra, no Meridional, é um encenador  que marcou muitos espetáculos e atores que trabalharam lá e, portanto, ansiava que o meu percurso passasse por ai de alguma maneira. Enquanto criador acho que há um sem fim de possibilidades, mas gostava de levar a minha visão artística para o cinema. Gostava de realizar uma curta, começar a experimentar. Até porque das coisas mais frustrantes que sinto no teatro é a característica de o teatro ser efémero. Por um lado é apaixonante, é romântico até. Sabes que vai acabar e, portanto, não há nada a fazer. Mas cada vez mais tenho vontade que as coisas perdurem no tempo, nem que seja pelo facto de, como não me reúno das melhores condições para a minha equipa, saber que no final existe um produto que é um objeto artístico que permaneça no tempo, possa ser mostrado e permaneça de outra forma. Se conseguisse isso era muito fixe. Sei que já não é teatro, não é? Mas ainda assim gostava de experimentar o cinema.

Fora dos ecrãs e sonhos cinematográficos voltamos à vida real, onde o dado nos manda avançar uma casa onde temos mais uma Pergunta da Sorte.

Pergunta da Sorte: Tens formação de ator, és licenciado e mestre. Que importância têm os estudos na tua vida?

R: Oh meu Deus (risos). A nível pessoal tem muita, porque gosto sempre de aprender. Acho que uma das coisas tem a ver com a primeira pergunta que me fizeste. O que me fez voltar, não é?

A: Sim.

R: É aprender coisas. Gosto imenso de aprender e acho que o criar qualquer coisa implica uma gestão de ferramentas tão grande, implica pensares sobre a luz, o som, o ator, no figurino, na maquilhagem, no casting. Gosto imenso de aprender, por isso se pudesse estava sempre a tirar cursos (risos), só que não posso. Tenho uma enorme curiosidade e acho que uma coisa que me falta, por exemplo, é conhecimento médico. Era uma coisa que adorava, mas sei a responsabilidade de seres um bom médico e acho que isso não faz sentido para mim. Mas, às vezes, tenho aquela coisa que gostava de saber um bocadinho mais de anatomia, sobre o corpo, como é que tudo funciona, como é que te podes curar ou não, sei lá. Acho que os nossos ancestrais tinham esses conhecimentos. Numa tribo sabem como curar determinadas doenças e acho que cada vez mais nos afastamos e ficamos especialistas em caixinhas do nosso mundo e eu gosto de abrir várias caixinhas, pronto (risos).

A: Sabes que eu antes de ir para jornalismo também achava que ia para medicina. Mas também queria outras coisas, então quando estava no sétimo ano pedi o livro de anatomia ao meu pai e comecei a estudar aquele calhamaço e a fazer apontamentos, porque achava que ia para o curso. Mas queria ir já a saber as coisas, porque uma vez que só me deixam ir para medicina com aquela idade, queria estar a fazer outras coisas também. Não tinha tempo. (risos). Por isso, percebo perfeitamente essa curiosidade.

R: É, sim. E acho que a dado momento tens todas as possibilidades em aberto. Depois, a partir do momento em que dás um primeiro passo, escolhes uma determinada direção e excluis todas as outras, mas depois encontras novas possibilidades de voltar a recuperar algumas. Não sei. Acho que poderia ter sido médico de alguma maneira, acho que sim. Sobretudo cirurgião. Assim coisas muito detalhadas em que não tivesse de lidar com o corpo humano todo. Mas estar ali focado a coser, essas coisas milimétricas, acho que são a minha cara. Era capaz de passar horas naquilo. Mas pronto, não sei.

A: Nada impede (risos).

R: Não, nada impede.

Sem impedimentos seguimos jogo e, três casas à frente, surpresa, surpresa, mais uma Pergunta da Sorte.

R: Eu vou esgotar-te as perguntaaaaas (risos)!

A: Não faz mal! Uma pessoa inventa outras.

Pergunta da Sorte: O teu primeiro interesse pelo teatro foi perceber como é que os atores se expunham sem medo. O que mais te fascina na tua profissão hoje?

R: Na altura, não fazia ideia do que seria o teatro ou a importância que o teatro teria. Acho que foi mesmo por um desafio pessoal. Estava na faculdade, vinha de um colégio de freiras, a minha personalidade é mais tímida – nunca fui o gajo mais trolaró da turma, nunca foi a minha cena. Sempre fui o miúdo calado que lia e que preferia estar em casa a ler do que a fazer alguma coisa cá fora. Portanto, quando fui para a faculdade e me dei de caras com o grupo de teatro, vi uma oportunidade de me expressar e de me expor. A exposição, então, não era uma coisa tão desejada, mas estava implicada. De repente, ter o à vontade para me expor e sentir-me à vontade com essa exposição foi um desafio que fui tendo. Acho que não era tanto em relação aos atores, mas mais em relação a mim. Como é que te expões sem que seja uma aflição? Depois parece que descobres coisas novas em ti e isso dá-te um boost de qualquer coisa, não é? Hoje em dia, não sei. Tenho a sensação que há um outro prazer inerente e, às vezes, uma falta dele também. Sinto-me muito menos disponível para fazer coisas em que eu não acredito ou que exija determinada coisa que seja muito fora de pé para mim e que eu saiba que não existe uma contrapartida que justifique isso. Mais uma vez, não sei se tem a ver com a idade ou a forma como olhas para isto tudo. Há coisas que de vez em quando há um velho do Restelo que diz, “huuum, não vale a pena, isto assim não vale a pena”. Não é preguiça. São coisas que ponderas fazer, porque acreditas que não te acrescenta alguma coisa, que não te evolui. O que me fascina na profissão hoje acho que é o exercício criativo. Estou a responder mais como encenador/ criador, porque a partir do momento em que estou a criar uma coisa dá-me muita pica tentar concretizá-la. É um desafio muito giro e o facto de, cada vez mais, fazer as minhas coisas também me faz encontrar com pessoas de quem eu gosto. De repente os primeiros ensaios parecem-me jantares de natal (risos). Vais evoluindo e vais criando o teu clã, as pessoas em que acreditas. Às vezes passam 6 meses sem nos vermos, porque cada um está na sua onda, mas de repente a oportunidade de levarmos qualquer coisa a cena também é a oportunidade de nos reencontrarmos. De repente, parece que fomos todos chamados para irmos viver uma aventura. Encontrar-me com os meus e propor-lhes desafios que acredito serem interessantes. Gosto imenso quando estou a trabalhar com atores que me dizem que aquele projeto está a ser especial ou diferente, ou desafiante de uma maneira que nunca sentiram.

Por falar em desafio, vamos lá a ver se o dado nos leva a algo do género. Três casas à frente e vamos parar ao número 14, onde nada acontece. Voltando a lançar o dado, uma casa à frente, chegamos a uma Pergunta Rápida, onde temos cartas com perguntas de sim ou não que têm de ser respondidas sem pensar muito.

Pergunta Rápida: Comédia ou terror?

R: Comédia (risos). Não sei se é verdade, mas eu respondi logo.

A: Há-de ser, não é? (risos).

Agora o dado manda-nos avançar cinco casas, levando-nos a um Sê Criativo, a casa que lança um desafio que o convidado tem de resolver de forma criativa.

Sê Criativo: Pensa no teu número da sorte. Sem falar, conta-nos uma história em x passos.

Vê a história que o Rui nos contou em 6 passos neste vídeo:

R: Foi claro?

A: Acho que sim (risos).

R: Queres que te explique alguma coisa sobre esta história, ou está tudo bem?

A: Se tu quiseres dizer alguma coisa sobre isso… (risos).

R: Tinha 14 anos e fui… (risos) porque é que eu me lembrei desta história?

A: Ai, isto aconteceu mesmo?

R: Sim. Fui para Inglaterra fazer um daqueles programas de intercâmbio em que passas lá um mês, ou quinze dias, naquelas famílias de acolhimento. Durante o dia tens aulas de inglês e passeias e, à noite, vais para a tua família de acolhimento. É uma família inglesa normal e és obrigado a comunicar diariamente com ela, o que faz com que o teu inglês se desenvolva bastante. Aquilo apanhou-me na altura dos meus anos e eles perguntaram-me qual era o meu prato preferido para fazerem uma surpresa. Disse que era fondue. Só que eu não fazia a mínima ideia que o fondue britânico era só com queijo. Comi aquele queijo quente e aquilo deu-me a volta à barriga. Isto foi na segunda noite em que lá estava e o meu inglês nunca foi bom. Fui para a casa de banho, fiz o que tinha a fazer e puxei o autoclismo. Mas o autoclismo não era como os nossos, parecia um manípulo pequenino que deitava pouca água. Eu puxei, puxei, puxei e aquilo, em vez de escoar, entupiu. Pior, é que a casa de banho tinha alcatifa no chão e eu procurei um piaçá e não vi nenhum. Eles jantavam muito cedo, tipo às 19h. Eram 22h30 e eu ainda estava na casa de banho. Tentei ir a outra casa de banho roubar um piaçá, mas aquilo não desentupia por nada nesta vida. Então, primeiro tive de ficar sentado durante horas à espera que o nível da água baixasse e depois a família batia-me à porta e eu não sabia dizer em inglês o que é que se estava a passar ali dentro (risos). Juro! Não sabia como dizia piaçá, entupido, nada. Então fiquei umas cinco horas sentado na borda da banheira a olhar para a sanita, com vergonha. Abri a janela para não ficar cheiro e, em desespero de causa, arregacei a manga, pus sabonete no braço, olhei para a estrutura da sanita e pensei como tinha de fazer (risos). Enchi-me de coragem e pumba! Aquilo lá desentupiu. Lavei, lavei e lavei. Acho que fiquei dois dias a ignorar o meu próprio braço. E digo-te, entrei para a casa de banho às 19h e devo ter saído às 3h da manhã, foi um horror. E pronto, foi esta a história que eu achei que fazia todo o sentido partilhar contigo (risos).

A: Não, quer dizer sim… gostei. Foi a melhor história que já partilharam comigo (risos).

R: Vês? É assim, sempre a marcar pontos (risos).

Ainda a recuperar das gargalhadas que nos invadiram durante toda a história, o Rui lança o dado e, uma casa à frente, temos mais uma Pergunta da Sorte.

Pergunta da Sorte: “Eu não sou mais só eu, eu sou um pouco mistura com o teatro”, Cacilda Becker. Fala-me sobre o que esta frase te faz pensar.

R: Pois, é assim, não é? (risos). Acho que essa senhora sofre daquilo que eu também sofro, não é? (risos) Uma crise de identidade. É um pouco o estado de espírito que é preciso ter. A tua vida funde-se a vários níveis, pela dedicação, a disponibilidade, as personagens, a paixão. Às vezes é um bocadinho insano. Porque é que te hás de dedicar a uma coisa que às vezes parece que não serve para nada, a não ser para aquecer um bocadinho os corações ou as mentes. Financeiramente é péssimo, as condições em que trabalhas são péssimas, teres algum apoio é sempre difícil. É muito inglório. Depois, é muito abstrato. Uma das dúvidas maiores que tenho naquilo que faço é se será que as pessoas gostam, concordam comigo? Posso achar que é bom, mas se calhar não. Não existe uma classificação. Para uns pode ser horrorosamente mau e para outros ser muito bom. Isso faz com que o teu valor também oscile. Tornas-te uma espécie de mutante, de bicho do teatro.

É altura de voltar a lançar o dado que nos manda avançar mais três casas, indo parar a mais um Sê Criativo!

Sê Criativo: Pensa no teu maior defeito. Agora desenha-o e eu adivinho qual é.

R: Ai, ora bem!

O Rui pensou, analisou as canetas e começou a desenhar. Decidiu que no desenho estaria de cabelo solto e avisou-me que a ação do desenho já era ilustrativa do próprio defeito.

Desenho do maior defeito, por Rui Neto

A: És muito persistente. Estás sempre a bater na mesma tecla e, por mais que avances, voltas sempre ao mesmo sítio.

R: É quase isso! Mas é fixe. Em termos de defeito é a teimosia. Marco uma cena e não saio daí (risos). Adivinhaste, hein?

Já a meio do jogo, avançamos mais uma casa indo parar a outra Pergunta da Sorte.

A: Realmente vais esgotar-mas!

R: Vês?

Pergunta da Sorte: Já fizeste um espetáculo que tinha a ver com tecnologias. Sentes que, embora tragam benefícios, afastam as pessoas e simulam emoções e/ ou vivências?

R: Sim. Tenho dificuldade em encontrar, para mim próprio, um equilíbrio nisso. Acho que as tecnologias são fascinantes. Não é que perceba muito. Entrei para informática e gestão de empresas, fiz dois anos e depois sai. Fiz um reboot à minha vida e tornei-me anti tecnologia. Parece que deixei de saber funcionar com as coisas, ou melhor, que as coisas deixaram de saber funcionar comigo. Tenho um computador e ele avaria logo. Mas gosto dos desafios e potencialidades que elas te trazem. A forma como podes conciliar isso com a arte e o cinema. De repente tens drones e máquinas que fazem a leitura do corpo do ator e podes projetar-te só na silhueta dele. Isso é uma potencialidade gira, que faz com que o teatro se expanda para outras áreas, performativas ou plásticas, e eu acho muito entusiasmante. A nível humano chateia-me um bocado, porque torna-nos um bocado voláteis nas relações e muito imediatos. As coisas parece que não duram nada, estás a ver? No caso dos espetáculos, pões uma publicação nas redes socias e as pessoas vão encalhar tantas vezes com aquilo que algumas acham que já foi, outras acham que já viram àquilo há muitos dias e, por isso, já deve ter acabado. És inundado com informação. É uma coisa estranha. A nível de importância e status social, que hoje em dia parece que todos temos uma espécie de alter-ego digital, tu és tu, mas também és a tua página de instagram, as tuas fotografias, aquilo que publicas. Transformas-te numa multiplicidade de plataformas e, se passas o teu dia a fomentar esses alter-egos, não fazes mais nada. Isso pode levar-nos para caminhos um bocado esquisitos. Acho que altera um bocadinho a perceção das coisas, a sua importância. No outro dia perdi as chaves de casa e não tinha o telemóvel comigo. Por momentos pensei que estava tudo perdido! Ainda por cima ia gravar a novela, como é que ia avisar a produção de uma novela se não tenho telemóvel, não tenho chaves, nem forma de ir? Nem para ligar a alguém dava, porque não sei os números de cor. De repente, a tua vida está dependente daquela coisinha.

Lançado o dado avançamos mais uma casa e parece que vamos descobrir algo sobre a Carreira do Rui.

Carreira: Qual foi a maior peripécia que te aconteceu num dia de trabalho?

R: Lá vamos nós. A minha imagem vai ficar conspurcada depois desta entrevista (risos). Um dos primeiros trabalhos que eu fiz foi com o João Garcia Miguel, num grupo que se chamava Olho, no Ginjal. O trabalho dele na altura era muito performativo e eu estava a estagiar na companhia. Lembro-me que eles me disseram que, às vezes, os espetáculos tinham nudez, mas ia depender do que prepuséssemos ao longo do trabalho e ia ser um processo longo, quase nove meses. Dois dias depois desta conversa houve alguém que decidiu propor uma improvisação em que entravamos todos e começávamos a tirar a roupa, ficávamos todos nus, caíamos no chão, surgia uma música da Ella Fitzgerald – nós tínhamos pares combinados – e eu tinha de encontrar o meu par, ela saltaria para o meu colo e ficávamos a dançar um slow de olhos fechados e saíamos de cena. Eu nunca tinha feito nenhum nu artístico, e só pensava “ai que vergonha!”, mas lá começámos o exercício. De repente só oiço ao microfone, “Rui! Só faltas tu!” (risos). Eu, cheio de vergonha, despi muito rápido as cuecas e atirei-me para o chão. Depois encontrei o meu par, que não posso dizer quem é que era, e quando abri os olhos, olho para ela  e reparei que ela tinha um cotão grande na zona púbica. Epah que chato. Ainda lhe fiz assim um sinal, mas ela não percebeu. Então pensei que ia tentar tirar eu (risos). Passei assim com a mão para tentar afastar, mas não consegui. Quando ela depois salta para o meu colo, só me diz ao ouvido - “És muito estúpido, é o fio do tampão”. E eu rezei que ainda bem que não puxei! Foi uma coisa que me marcou imenso.

Depois desta história de um dia diferente no trabalho, é altura de lançar o dado. Seis casas à frente vamos parar ao número 32, onde não acontece nada. Mais quatro casas e lá vai mais uma Pergunta da Sorte.

Pergunta da Sorte: Qual foi a luta que mais destacas na tua vida e porque escolhes essa?

R: Não quero parecer muito redundante, mas acho que foi ter decidido trabalhar como ator. A nível pessoal, porque tinha e tenho uma certa dose de timidez que às vezes me impede de trabalhar sobre a espontaneidade. Tenho sempre  a sensação que para eu parecer espontâneo e orgânico tenho de fazer um tremendo trabalho de casa. Para mim, trabalhar como ator sempre exigiu muita dedicação, sai-me sempre um bocado do pelo. No meu percurso as coisas também nunca aconteceram fluídas.  Por norma não me acontece fazer um trabalho, correr muito bem e chamarem-me logo para um próximo, ou ter um realizador que te viu numa novela e quer trabalhar contigo. A mim nunca me aconteceu. Para mim é mesmo uma coisa pesada. Parece que estás sempre a começar do zero. Dedicas-te, transformas-te, produzes, fazes, supostamente sentes que alcançaste o que era pretendido (que é relativo) e quando pensas que dali vais conseguir tirar alguma coisa, e tiras muitas para ti, mas depois parece que começas do zero. Isso para mim é muito duro, porque acho que mexe muito com a tua autoestima. Demora a teres resistência a isso, mas às vezes também passa por controlar as expetativas. Na última novela que eu fiz, depois fiquei três anos sem trabalhar. Ficas um bocado aflito e a pensar no porquê. Mas por outro lado é bom porque me permite criar outras coisas.

Voltamos a lançar o dado e sai o número dois que nos encaminha para o 38, onde nada acontece. Num novo lançamento sai o número 1 que nos leva a uma Pergunta Rápida.

Pergunta Rápida: Copo meio cheio ou meio vazio?

R: Meio cheio.

Andamos mais uma casa e vamos parar à casa do Pessoal, onde as cartas fazem perguntas sobre a vida pessoal do artista.

Pessoal: Qual foi a coisa que te disseram que mais te marcou até hoje?

R: Pessoalmente, acho que os beijinhos da mamã e do papá marcam sempre. Uma pessoa não valoriza muito, porque estão lá e porque os ouves todos os dias. Mas aquelas coisas que os pais dizem aos filhos como o “amo-te muito” ou assim são sempre muito confortáveis de se ouvir e marcam. Trazem uma dose confortável de amor, conforto, segurança e força para a frente.

Cada vez mais perto do final parece que o dado ganha o gosto pela casa do Pessoal e, 5 casas à frente, é precisamente ai que vamos parar.

Pessoal: Se amanhã pudesses largar tudo sem quaisquer problemas, o que farias?

R: Largava tudo! (risos) Acho que acabo por ter uma vida bastante confortável com aquilo que eu tenho e felizmente tenho uma estrutura familiar que não me obriga a ter que ir a correr para um part-time sempre que fico muito tempo desempregado. Se calhar deveria, mas consigo ainda não ir. Genericamente eu estou bem (risos). Há uma imagem que tenho desde pequenino. Sempre imaginei um monte alentejano, um trator pequenino, umas galochas cheias de lama, vários animais, se calhar só um cavalo porque eles dão muito trabalho e vários cães. É uma imagem muito confortável para mim, de alguma maneira. Gosto muito do Alentejo. A minha família era de lá. A imagem de cuidar dos animais também me aproxima muito da minha infância, porque eu queria ser veterinário. Se pudesse fazer isso tudo sem ter a preocupação de ganhar dinheiro, ser famoso, ter trabalho ou público e fazer os manifestos artísticos que eu quisesse era ótimo! Era um largar tudo para ficar cá ao lado.

Ficamos, também, bem perto 2 casas à frente no 47, onde nada acontece. Voltamos a lançar o dado e sai o número 6.

R: Vá, não quero! Não quero acabar já!

Se não quer, amigo não empata amigo! Voltamos a lançar o dado e sai o número 4, onde nos espera um Sê Criativo! Valeu bem a pena aldrabar o jogo ou não?

Sê Criativo: Faz o trecho de uma música com as 5 palavras que te vou dizer.

Olhei à minha volta e pensei em cinco palavras que anotei num papel: luta, dado, vermelho, bar, neve.

Ouve a cantoria do Rui aqui:

Após este momento musical, que deixa qualquer um com vontade de ouvir um álbum dele, olhamos para o tabuleiro e reparamos que faltam 2 casas para chegarmos à Casa Gerador. Lançamos o dado chegamos à casa Gerador! Esta é casa final do jogo, onde o entrevistado responde a uma pergunta do convidado anterior e deixa uma pergunta para o próximo. Ainda se lembram da pergunta do Frederico Amaral? “Já sentiste o amor verdadeiro?”. Podes rever a pergunta do Frederico aqui.

Vê o vídeo em baixo para saberes qual a pergunta que o Rui deixou para o próximo convidado da Pergunta da Sorte! Vemo-nos em breve! ;-)

Entrevista por Andreia Monteiro

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