Quero crescer e mutar-me no meu eu-futuro, mas parece que estou presa num videojogo sem conseguir passar de nível. É suposto seguirmos em frente, como?
Não é de estranhar que nós, os jovens, andemos refilões sobre o estado do nosso futuro - e presente, já agora.
Quando éramos miúdos, ouvimos inúmeras vezes os sortudos que éramos por podermos estudar e que isso, por si só, nos iria dar oportunidades que “eles”, os nossos pais, não tiveram.
Ambos os meus pais nasceram nos anos 60. Nessa altura, as famílias eram mais numerosas e os rendimentos não eram muitos. À grande maioria era-lhes exigido que fossem trabalhar desde muito novos, antes dos 16 anos muitas das vezes, de forma a contribuírem para a casa.
Estudar era considerado um luxo que só as famílias endinheiradas tinham.
Foram, sem grande alternativa, obrigados a ter responsabilidades de pessoa crescida mais cedo do que deveriam.
Nós, miúdos dos 90’s, não. Pudemos ser crianças e adolescentes até mais tarde. O regime de escolaridade obrigatória aumentou e a grande maioria de nós continuou a estudar para além do 12º ano.
E olha para nós agora, com mestrados, licenciaturas, pós-graduações, cursos intensivos, workshops, e.learnings, aulas online, reuniões todos os dias, em casa e fora dela, enquanto sofremos, ao mesmo tempo, por não conseguirmos sair de casa dos nossos pais.
Já não são os nossos pais que precisam de nós, mas nós quem continua a precisar deles.
Muitos desses pais continuam a ajudar os filhos, monetariamente ou de outra forma, mesmo que estes tenham o seu próprio ordenado. Somos adultos dependentes.
A mentira de que tanto estudo haveria de dar frutos lembra-me aquela outra mentira de que existe igualdade de género. Talvez o diretor de marketing tenha sido o mesmo. O mote é muito ao género do “fake it until you make it”. Ou então, quando criou a campanha, acreditava piamente que, ao fim de 30 ou 40 anos, fosse mesmo verdade.
Começo a pensar que o mais inteligente talvez tivesse sido ter começado a trabalhar (e só trabalhar) mais cedo. De qualquer forma, não tenho nenhum DeLorean para voltar atrás no tempo.
Os adultos independentes aconselham-me a ser mais paciente. A verdade é que eles têm mais experiência. Menos a académica. É pena que não dê para pagar contas com esse tipo de experiência.