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Samuel Martins Coelho lança Partita para Violino Solo, disco introspectivo “sem maquilhagem, sem truques”

Samuel Martins Coelho edita o seu novo disco autobiográfico Partita para Violino Solo no dia…

Texto de Redação

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Samuel Martins Coelho edita o seu novo disco autobiográfico Partita para Violino Solo no dia 11 de outubro. Este projeto, inscrito na área da música contemporânea, tomou forma a partir de uma série de experiências (do próprio músico) que levou a um estado solitário de introspeção, de identificação de processos mentais, de desconstrução e de reorganização, como se pode ler em comunicado.

Partita para Violino Solo é um disco sincero, “sem maquilhagem, sem truques”, diz-nos Samuel Martins Coelho. “Não se trata de um disco clássico. É violino solo, mas não é erudito, também não é rock, também não é eletrónica mas... também o é! Também é jazz, também é clássico, também é improvisado porque eu sou tudo isso.” – concluiu durante a conversa que teve connosco no bar do Cinema São Jorge, em Lisboa.

Single "Pensamento 1", do disco Partita para Violino Solo

Ouve mais temas de Partita para Violino Solo aqui.

Gerador (G.) – O que te inspirou para a criação de Partita para Violino Solo?

Samuel Martins Coelho (S.M.C.) – Inspirei-me naquilo que tenho dentro de mim, nomeadamente experiências menos boas. Por exemplo, o segundo tema do disco chama-se “Insónia” porque, quando estava a trabalhar em Malta para cinema, passei 5 dias sem dormir. Não conseguia mesmo adormecer, comecei a delirar. “Insónia” passou a representar esse momento e ajudou-me a processá-lo. O tema “La Resistence”, por sua vez, está relacionado com o livro The War of Art, de Steven Pressfield, que foi uma chapada na cara. No todo, é um trabalho muito introspetivo, inspirado na forma como penso, nos mecanismos que o cérebro arranja para se defender, nos pensamentos automáticos que podem ser desconstruídos, nas impressões que ficaram do passado e que nos surgem de repente. O disco é sobre isso, sobre a forma como pensamos, e já estou a fazer músicas novas para o próximo.

G. – Foi fácil acabar o disco? Dá-lo como terminado?

S.M.C. – Sim. Decidi que, em 2019, iria gravar um disco e cumpri. Foi um processo bastante rápido, cada tema de Partita para violino Solo representa uma fase que passei entre 2018 e início de 2019, o disco já se estava a fazer, e eu nem sabia. A gravação fez-se em dois dias. Se eu fosse muito perfeccionista, eliminaria algumas coisas que resolvi manter, como a respiração, os sons da barba, os sons da madeira, mas o instrumento também comunica através disso. Queria algo sem maquilhagem, sem truques. Estou cansado da maquilhagem porque ela nos dá grandes desgostos.

G. – Tendo em conta aquilo que te serviu de inspiração, tocar os temas deste disco é algo que te pesa?

S.M.C. – Não, de todo. No entanto, consigo chegar à emoção que motivou cada tema. Não se torna pesado porque tenho feito as pazes com tudo. É importante aceitar.

G. – Como te iniciaste na música? Fala-me do teu percurso, como músico, até hoje.

S.M.C. – Iniciei-me na música com 13 anos, quando entrei para uma escola profissional de música clássica e comecei a estudar violino. Fiz todo o percurso clássico, frequentei a Academia Nacional Superior de Orquestra Metropolitana. O passo seguinte foi tocar em orquestras. Durante esse período, sempre fui intérprete, não compunha, até deparar-me com o Curso de Formação de Animadores Musicais da Casa da Música, no Porto, dirigido pelo Paul Griffiths, pela Sam Mason e pelo Tim Steiner. Foi aí que descobri a criatividade. Comecei a perceber que tinha aptidão para outras coisas, afastei-me do violino. Acreditar na criatividade, na intuição, permitiu-me arriscar. Tive as minhas primeiras bandas, tive contacto com o mundo da performance, da instalação, descobri o teatro, a dança, a música concetual, a improvisação, etc. Desenrolou-se uma série de experiências que me têm acompanhado até hoje. Atualmente, sou músico multi-instrumentista, compositor, trabalho com sonoplastia, trabalho com cinema, com teatro, com dança, com comunidades, e por aí adiante.

G. – Porquê o violino como instrumento de estudo?

S.M.C. – Estava no 6.º ano duma escola normal, quando vieram à minha turma perguntar se alguém estava interessado(a) em fazer provas para entrar na Escola Profissional Artística do Ave. Por acaso, tinha um vizinho que tocava violino e isso, juntamente com o facto de eu não gostar de estudar, fez com que pensasse “porque não?”. Fiz provas de aptidão e foi-me atribuído o violino.

G. – Noutras entrevistas, dizes que tens uma relação de amor/ódio com o violino. Podes explicar?

S.M.C. – No mundo da música clássica, se fores bom, não chega. Se fores muito bom, já não é mau. Se fores excecional, aí sim, estamos bem. É preciso muito método e muita disciplina. Com 13 anos, comecei a estudar 6 horas por dia, para além das aulas – isto durante muitos anos. É duro, principalmente com professores da “velha guarda”, um erro não é aceitável. Isso deixou-me marcas, como a muita gente. Quando digo amor/ódio, tem a ver com o facto de, por vezes, sentir medo de tocar violino. Depende do dia, claro, às vezes, toco e sinto-me confiante, outras, tenho de o guardar logo na caixa porque entro em depressão, não gosto do que está a sair. Se tiro o violino da caixa é para ser incrível. Tenho dificuldade em lidar com o erro. O violino domina-me, por vezes, outras, sou eu que o domino. O meu novo disco serviu para exorcizar tudo isto.

G. – De que forma Partita para Violino Solo ajudou nessa relação amor/ódio?

S.M.C. – Imagina que vou tocar Mozart. Posso comparar-me às melhores gravações que existem, isto é, aos melhores violinistas de música clássica. Quem me ouvir pode fazer o mesmo. Essas comparações trazem imensa pressão. No processo de criação de Partita para Violino Solo, descobri que tenho uma linguagem que me defende. Senti-me pronto para dar o salto – sem o estar, é contraditório. Gravar este disco a solo foi superar-me.

G. – Para além do violino, que outros instrumentos aprofundaste?

S.M.C. – O violino é o meu instrumento de estudo. Os outros, fui aprendendo à medida que necessitava deles. A guitarra é um bom exemplo, fui autodidata. Se bem que, a dada altura, quis ter aulas de jazz e aí, sim, procurei um professor que me ajudasse a tocar violino jazz ou guitarra jazz. Os restantes instrumentos, aprendi sozinho. Também faço instrumentos novos num projeto que tenho com o cenógrafo César Estrela, “Estranhofone”, em que construímos e apresentamos instrumentos estranhos (esculturas sonoras).

G. – Trabalhar com teatro fez diferença no teu percurso profissional?

S.M.C. – O teatro mudou-me o olhar. Tive a sorte de começar a trabalhar com grandes encenadores, em grandes salas, fiz temporadas no Teatro Nacional D. Maria II e no São Luiz, e essas experiências fizeram com que compreendesse a importância do trabalho de equipa. Todas as dimensões do teatro têm de ser bem integradas para que o espetáculo funcione. Fiquei mais aberto à partilha. A música que faço para teatro não é minha, é de toda a gente que ali está, todas as pessoas que ali trabalham têm influência em todas as áreas.

G. – Tens em mente um público-alvo para este disco?

S.M.C – Na maioria dos meus projetos, consigo ter uma ideia do público. No caso de Partita para Violino Solo, é diferente, não consigo fazê-lo. Sinto que é para toda a gente, não sei se isto faz muito sentido, mas não vejo um nicho específico. Até pode chegar a quem não ouve música clássica porque não se trata de um disco clássico. É violino solo, mas não é erudito, também não é rock, também não é eletrónica mas… também é! Também é jazz, também é clássico, também é improvisado porque eu sou tudo isso.

G. – Que mensagem gostarias passar a futuros músicos, nomeadamente violinistas?

S.M.C. – Que não se dediquem só ao violino, que se dediquem à música em primeiro lugar. A música faz bem […]. Gostava muito de poder tocar Partita para Violino Solo em conservatórios e em escolas de música porque, enquanto estudante, passei muito tempo dedicado à música clássica sem ter a noção de que havia muito mais para explorar. Quando se chega ao final do curso, percebe-se que não há orquestras para todos. Queria mostrar aos estudantes que há mais. Quanto mais cedo compreenderem isso, mais tempo têm para preparar novos caminhos. É importante experimentar, é importante passar à ação e fazer, fazer, fazer! As mãos estão a perder capacidades. Com humildade, gostava de lhes mostrar o meu trabalho.

Partita para Violino Solo teaser

Texto de Maria Costa
Fotografia de Pedro Teixeira

Se queres ler mais entrevistas sobre a cultura em Portugal, clica aqui.

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