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©Cristiana Morais

Cristiana Morais: “Quebrar estigmas é o meu mote”

Entrevista por: Amina Bawa

 

A edição 41 da Revista Gerador conta, na sua capa, com uma fotografia de Cristiana Morais. Ao definirmos que iríamos refletir sobre a utilização dos corpos para promoção e como forma de trabalho, vimos, na sua arte, a materialização de um tema tabu.
Qual seria o outro papel da arte se não o de quebrar paradigmas? E por que não achar beleza também no real e no quotidiano? Olhar o entorno com mais gentileza e captar a essência de cada corpo faz parte do que Cristiana Morais se propõe nos seus trabalhos atrás das câmaras. Seria impossível passar por tais imagens sem se sentir capturado com as barreiras quebradas num trabalho cuidadoso e que nos convida a adentrar noutra atmosfera.
Cristiana começou cedo a utilizar a câmara para documentar a beleza que a rodeava. O seu trabalho oferece um olhar gentil sobre a moda, a música, os amigos, os desconhecidos e também os ícones bem conhecidos. Na abordagem à fotografia analógica, o seu olhar tanto é de futuro como nostalgia.
Os retratos que faz, envolvidos numa atmosfera íntima, têm um caráter performático com uma preocupação estética evidente. O styling, a composição e as cores são a tríade de uma encenação cuidadosamente pensada ao fazer os momentos mais cândidos parecerem perfeitamente orquestrados.
E assim, após partilharmos o tema de capa desta edição da Revista Gerador, a Cristiana agendou uma sessão de fotos que viria dar o formato à nossa capa e conversámos sobre o seu processo criativo.

Foste a autora da imagem que apresentamos na capa desta edição da Revista Gerador. O que tiveste em consideração ao retratar um tema tão sensível?

O tema desta edição é sensível na sociedade normativa em que vivemos. Na minha opinião não o considero sensível e deveria haver mais respeito e normalização deste tema. Nesse sentido, o meu foco foi o empowerment corporal das modelos que foram fotografadas.
Quando o Gerador entrou em contacto para fotografar a capa desta edição, o meu imaginário levou-me automaticamente ao encontro da estética/conceito das “sex phone workers” dos anos 80/90, que trabalhavam em cubículos de escritório. A partir daí desenvolvi, para a capa, uma fusão dessa estética com o que hoje em dia os trabalhadores dessa área utilizam para criar os seus conteúdos, e vendê-los online.

Como captar imagens dos que desafiam a câmara?

É essencial criar ligação com as pessoas. E fazer com que fiquem eles confortáveis em desafiar a minha câmara. Falar com a pessoa, perceber quais são os seus receios ao ser fotografada e ajudar a quebrar essa visão negativa dela própria é-me muito gratificante. Ver as reações positivas no final do shoot é o mais importante para mim.

No teu trabalho, observamos muitos corpos diferentes. Quais são os propósitos da tua fotografia?

Quebrar estigmas é o meu mote. Na minha perspectiva é este mote que define o propósito e o conceito do meu trabalho.

É importante mostrar variedade e criar um impacto positivo em quem observa o meu trabalho, porque nem sempre é possível visualizar representatividade, do que considero ser real, nos media, por exemplo. E quero que o meu trabalho possa ajudar a quebrar as conotações depreciativas que ainda temos: sobre os outros ou nós próprios.

As relações entre a imagem e o imaginário, o real e o encenado fazem parte do teu trabalho?

Sim, acredito que as duas vertentes estão presentes no meu trabalho.
As pessoas e as situações são reais, mas com uma visão mais “dreamy” (na técnica: iluminação e pós-produção que utilizo) fazem parte da minha estética.
São características presentes no meu trabalho devido às minhas referências desde miúda; têm-me acompanhado e tornaram-se bases para o desenvolvimento do meu trabalho.

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