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Miguel Januário: O ± maismenos ± procurou sempre ler e analisar as sociedades atuais, os seus desequilíbrios, as suas incongruências

Para ficares a saber mais sobre a obra da capa desta Revista

Texto de Amina Bawa

 

Miguel Januário © Fotografia da sua cortesia
Os avanços tecnológicos não estão atrelados apenas ao mundo contemporâneo, e Miguel Januário sempre esteve atento às participações das máquinas no quotidiano. O artista licenciado em Design de Comunicação e doutorando em Design na FBAUP (Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto), foi colaborador do espaço de intervenção cultural Maus Hábitos e diretor artístico da Ivity Brand Corp. Atualmente é head of art for sustainability no CEiiA, militante do PCP, além de autor do ± maismenos ±, um projeto de intervenção que se tornou uma referência nacional e internacional de arte urbana. É representado pela galeria Underdogs.
Inspirado pela realidade aumentada, painéis de led e informativos, o artista pretende apresentar a tensão entre a realidade digital e a sociedade atual, buscando trazer um pouco do futuro. Miguel Januário produziu a capa desta edição da Revista Gerador e conta-nos, na entrevista a seguir, sobre a sua inspiração e processo de criação.

 

Como chegou ao conceito para criação da obra de capa desta edição da Revista Gerador?

A partir do desafio de pensar sobre o impacto da inteligência artificial na sociedade e no futuro, concretamente nas potenciais desigualdades que poderia proporcionar, nos riscos e consequentes transformações nas mais variadas esferas da vida – como no trabalho, na economia, na cultura, etc. –, recorri a diversas inspirações do cinema e da literatura. Livros como o Admirável Mundo Novo, do Aldous Huxley, ou o 1984, do George Orwell, filmes como o Blade Runner, do Ridley Scott, ou o 2001 Odisseia do Espaço, do Stanley Kubrik, são obras que nos presenteiam com possibilidades distópicas do futuro e do papel da tecnologia, em alguns casos da inteligência artificial ou versões desta, na sociedade e nas nossas vidas. De facto, o último, serviu não só de princípio conceptual, mas também visual. Com a intenção de criar uma espécie de ecrã de leds, em que tudo pode ser dito e escrito, utilizei a imagem do computador de bordo HAL, do filme Odisseia no Espaço, para criar a textura visual da capa. Na verdade, esta multiplicação aparentemente infinita de HALs reforça a ideia da dimensão e da dominação da inteligência artificial no hoje e, claro no amanhã, do impacto das suas decisões, da sua capacidade e do que poderá transformar.

 

Acredita que a tecnologia integra a sociedade de forma equilibrada?

Bem, mais ou menos. A tecnologia está ao serviço do mercado e dos interesses económicos. Se, por um lado, temos avanços na sociedade que impactam nas condições de vida das sociedades, por outro, é claro que a tecnologia serve agendas e políticas, que, por sua vez, são controladas por desígnios puramente financeiros. Muitas vezes estas dualidades são completamente contraditórias. A título de exemplo, se, por um lado, procuramos usar a tecnologia ao serviço da sustentabilidade, por outro, continuamos a produzir com vista a tornar tudo repetidamente obsoleto, continuamente extraindo recursos da terra e deixando uma pegada infinita de lixo.
Depois há a questão das desigualdades sociais e do acesso à tecnologia, que nos leva a dizer imediatamente que não, a tecnologia não integra a sociedade de forma equilibrada.

 

A arte e a tecnologia dão conta de ressignificar a sociedade?

Sim, claro. A arte é a ilustração dos tempos, do agora imediato e do futuro próximo. Lê o hoje e lança os desafios para amanhã, proporcionando visões do que poderá vir e antecipando o futuro. A tecnologia acompanha. Ou vice-versa.

 

O seu projeto ± maismenos ± é uma busca pelo equilíbrio através das artes?

O ± maismenos ± procurou sempre ler e analisar as sociedades atuais, os seus desequilíbrios, as suas incongruências, portanto, se ao aceitarmos e assumirmos que elas existem, talvez seja o caminho certo para uma realidade mais equilibrada. O que sempre procurei com o projeto foi por a nu aquilo que nos é apresentado de forma floreada, muitas vezes mascarada e embelezada. Se tirarmos o excesso – de ilusões, de manipulações e construções –, talvez seja mais fácil ver o real tal como ele é e encontrar o tal equilíbrio – social, económico, tecnológico.

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