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A partir do desafio de pensar sobre o impacto da inteligência artificial na sociedade e no futuro, concretamente nas potenciais desigualdades que poderia proporcionar, nos riscos e consequentes transformações nas mais variadas esferas da vida – como no trabalho, na economia, na cultura, etc. –, recorri a diversas inspirações do cinema e da literatura. Livros como o Admirável Mundo Novo, do Aldous Huxley, ou o 1984, do George Orwell, filmes como o Blade Runner, do Ridley Scott, ou o 2001 Odisseia do Espaço, do Stanley Kubrik, são obras que nos presenteiam com possibilidades distópicas do futuro e do papel da tecnologia, em alguns casos da inteligência artificial ou versões desta, na sociedade e nas nossas vidas. De facto, o último, serviu não só de princípio conceptual, mas também visual. Com a intenção de criar uma espécie de ecrã de leds, em que tudo pode ser dito e escrito, utilizei a imagem do computador de bordo HAL, do filme Odisseia no Espaço, para criar a textura visual da capa. Na verdade, esta multiplicação aparentemente infinita de HALs reforça a ideia da dimensão e da dominação da inteligência artificial no hoje e, claro no amanhã, do impacto das suas decisões, da sua capacidade e do que poderá transformar.
Bem, mais ou menos. A tecnologia está ao serviço do mercado e dos interesses económicos. Se, por um lado, temos avanços na sociedade que impactam nas condições de vida das sociedades, por outro, é claro que a tecnologia serve agendas e políticas, que, por sua vez, são controladas por desígnios puramente financeiros. Muitas vezes estas dualidades são completamente contraditórias. A título de exemplo, se, por um lado, procuramos usar a tecnologia ao serviço da sustentabilidade, por outro, continuamos a produzir com vista a tornar tudo repetidamente obsoleto, continuamente extraindo recursos da terra e deixando uma pegada infinita de lixo.
Depois há a questão das desigualdades sociais e do acesso à tecnologia, que nos leva a dizer imediatamente que não, a tecnologia não integra a sociedade de forma equilibrada.
Sim, claro. A arte é a ilustração dos tempos, do agora imediato e do futuro próximo. Lê o hoje e lança os desafios para amanhã, proporcionando visões do que poderá vir e antecipando o futuro. A tecnologia acompanha. Ou vice-versa.
O ± maismenos ± procurou sempre ler e analisar as sociedades atuais, os seus desequilíbrios, as suas incongruências, portanto, se ao aceitarmos e assumirmos que elas existem, talvez seja o caminho certo para uma realidade mais equilibrada. O que sempre procurei com o projeto foi por a nu aquilo que nos é apresentado de forma floreada, muitas vezes mascarada e embelezada. Se tirarmos o excesso – de ilusões, de manipulações e construções –, talvez seja mais fácil ver o real tal como ele é e encontrar o tal equilíbrio – social, económico, tecnológico.