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REPORTAGEM
 DEMOCRACIA 

NO JORNALISMO UNIVERSITÁRIO, A MEMÓRIA DEPENDE DA VONTADE (E DOS RECURSOS) DE CADA UM

Reportagem de Sofia Craveiro
Edição de Tiago Sigorelho
Design de Marina Mota
Comunicação de Carolina Esteves e Margarida Marques
Digital de Inês Roque

“Balão de ensaio” para os futuros profissionais, o jornalismo universitário alimenta-se da mudança permanente das equipas. Com mais ou menos relevância histórica, estes órgãos de comunicação subsistem graças à persistência de alunos e professores, que arquivam, como podem, o trabalho desenvolvido. Plataformas de uso gratuito dominam este ecossistema onde o armazenamento depende da vontade de cada um.

 

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Descrevem-na como um “microcosmos”, um lugar de dinâmicas e hierarquias muito particulares, onde a academia e a história vivem em comunhão com a boémia. Esse legado respira-se na atmosfera da cidade, cuja população universitária se transforma a cada ano letivo. A metamorfose contínua de Coimbra torna a memória volátil. A instrumentalização fica facilitada.

Para as alunas que assumiram a responsabilidade de recuperar e salvaguardar o arquivo da secção de jornalismo da Associação Académica de Coimbra (SJ/AAC) – a mais antiga do país -, era urgente “recuperar a história que foi perdida” e contestar as narrativas instaladas à medida dos “interesses” e dos “egos”. “A partir do momento que não há algo que sustente aquilo que se passou, é muito fácil deturpar a história”, explica Rita Sousa, que assim justifica a criação do arquivo da SJ/AAC, que coordena.

A vida académica, as tradições, as lutas estudantis e a própria associação são alguns dos temas sujeitos a esta “apropriação da narrativa”, que a estudante de segundo ano da licenciatura em História descreve. Rita Sousa acredita haver “muita falta de conhecimento, muitas coisas que se perderam com o tempo”.

 

CULTIVAR O PENSAMENTO CRÍTICO

O jornal oficial da AAC é, desde 1991, A Cabra. Pela sua dimensão, a AAC está dividida em secções que se organizam autonomamente. A secção de jornalismo foi criada em 1983 e foi responsável por títulos já extintos como A Tribuna de Coimbra, a Gazeta Académica, A Cábula ou a revista Via Latina. “Foram os primeiros projetos da secção. Não tinham a estabilidade que A Cabra tem hoje em dia. Eram publicações que saíam quando saíam, porque era quando havia dinheiro”, explica Rita Sousa.

Hoje, A Cabra conta com uma equipa de 10 a 15 pessoas. Os redatores são organizados aos pares, em editorias. No total, são seis: ensino superior, cidade, cultura, ciência e tecnologia, desporto e online. Para integrar a equipa é necessário passar por uma formação prévia, que dura cerca de um ano.

Em 2022, a secção de jornalismo tomou a iniciativa de criar um arquivo organizado com os muitos materiais amontoados no edifício-sede da AAC. Desde essa altura tem levado a cabo um vasto trabalho de recolha de edições dos jornais extintos, catalogação das edições mensais d’A Cabra, organização e identificação de fotografias, além da digitalização e disponibilização dos jornais online, em formato pesquisável. “O arquivo é algo que se está a formar. Ainda não está… nem nunca vai estar totalmente finalizado, porque há muita coisa mesmo para se fazer aqui nesta secção”, diz a coordenadora.

Quando começaram não havia nada digitalizado e A Cabra tinha mais de 300 edições publicadas. Com o apoio da Biblioteca Geral avançaram a passo rápido. Depois, pediram ajuda às tradicionais Repúblicas, para recolher jornais mais antigos e difíceis de encontrar.

Posteriormente, começaram a explorar novas formas de aproximar o arquivo à comunidade. Criaram um perfil próprio nas redes sociais, com conteúdos que destacam episódios do passado, organizaram mesas redondas e exposições. “Foi uma coisa que foi crescendo. Inicialmente [a ideia] era só mesmo de digitalizar, mas depois as pessoas pensaram: “não, nós temos que fazer algo mais que isto”. Daí que encaram como necessário cultivar “o pensamento crítico” da comunidade através de outras ações.

“Muita coisa se perdeu, e nós tentamos sempre recuperar coisas que as pessoas às vezes já se esqueceram que tinham acontecido”, diz Rita Sousa. “Muitas vezes nem os nossos próprios dirigentes sabem como é que as coisas funcionavam antigamente e o que é que aconteceu, então basicamente é por isso que nós tentamos trabalhar para a comunidade”, diz a estudante.

MEMÓRIA REGIONAL

Tal como em Coimbra, o jornalismo universitário no Funchal, Madeira, nasceu no seio da associação académica.

Começou em 1996, com a primeira edição do jornal (Parenthesis) Informativo, um suplemento impresso da associação Académica da Madeira. Em março de 2006, surge o A UMa É Nossa! Jornal Académico, título que se manteve em atividade até novembro de 2020, altura em que foi renomeado para Et Al.

Em fevereiro de 2022, a associação deu um passo decisivo ao migrar a edição n.º 91 para um formato totalmente digital, deixando de lado o papel. Foi também nesse ano que foi feito o registo oficial na Entidade Reguladora da Comunicação (ERC). Desde então, voluntários têm trabalhado arduamente para construir o portal e carregar notícias anteriores a 2020. Quando concluído, o portal contará com mais de dois mil artigos.

Além de um órgão de comunicação, o Et Al. acaba por ser também um repositório histórico das publicações anteriores da associação, conforme explica Carlos Pereira, diretor deste jornal. A preservação do jornalismo universitário madeirense foi uma preocupação desde o início, já que constitui uma ferramenta importante para a compreensão da memória regional.

Antes da migração para o digital, o Et Al. funcionava exclusivamente em formato impresso, e era distribuído gratuitamente em pontos estratégicos do campus universitário madeirense. Para efeitos arquivísticos, guardaram sempre dois exemplares de cada edição. A par disso, também enviavam jornais para o Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira.

 

“Não tínhamos essa obrigação [pois antes de estarem registados na ERC, não eram abrangidos pelo Depósito Legal] mas achámos que, por uma questão de manter a história da associação, se algum dia aprouvesse alguém escrever sobre tal, seria interessante fazê-lo, até porque a própria biblioteca pública regional da Madeira tem periódicos de várias naturezas”, explica o responsável, que destaca o quão a memória jornalística é valorizada no arquipélago.

No caso específico da cultura académica, Carlos Pereira considera que é importante salvaguardar os materiais como forma de contribuir para integrar a coleção do arquivo regional e assim permitir que no futuro possam ser desenvolvidos estudos sobre o assunto.

Daí que façam por manter práticas de preservação da informação, com cópias digitais e backups do site onde tudo está alojado.

 

LABORATÓRIOS DE JORNALISMO

 

Os órgãos de comunicação universitários são considerados laboratórios de jornalismo, onde os alunos podem ter o primeiro contacto com a profissão. Os trabalhos desenvolvidos podem ser mais ou menos dirigidos à comunidade académica, consoante o meio esteja ligado ou não ao curso e/ou instituição que os jovens jornalistas frequentam.

 

Em alguns casos, o órgão pode mesmo ter sido criado por docentes, pertencendo à instituição. O Urbi Et Orbi é um exemplo disso. Teve a sua génese na Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, em 2000. A estreia fez-se logo em formato digital, o que, à época, era um ato inovador. Anabela Gradim, docente na Faculdade de Artes e Letras da UBI, foi fundadora deste jornal que sempre teve o contexto local e académico como principais focos.

Não havendo ainda uma lógica de publicação constante, o Urbi assumiu a periodicidade semanal, dinâmica que a diretora acredita ser importante manter, mesmo no contexto digital atual. “Uma das características definidoras de um jornal é a sua periodicidade, de modo que nós, mesmo que tenhamos publicação contínua – por exemplo, se publicamos peças a meio da semana -, fazemos o seu arquivo semanal naquilo que chamamos o número ou a edição”, explica a também Coordenadora científica da unidade de investigação Labcom – Comunicação e Artes e diretora do Doutoramento em Ciências da Comunicação da UBI.

Os textos são elaborados pelos alunos de licenciatura (em regime opcional) e mestrado em Ciências da Comunicação (obrigatório), pelo que a redação do jornal funciona de forma integrada na formação, enquanto componente curricular. O número de estudantes envolvidos depende, por isso, do tamanho das turmas, mas habitualmente varia entre 15 e 20.

Durante o período letivo os aspirantes a jornalistas aprendem o bê-a-bá da profissão, nomeadamente a redigir notícias, reportagens, entrevistas, a cumprir prazos, a publicar conteúdos nas plataformas, a editar elementos multimédia, etc. Para Anabela Gradim, o Urbi Et Orbi funciona também como “um arquivo vivo de tudo o que se passou na universidade” e na cidade que a acolhe.

 

Esse “arquivo vivo” é, aliás, consultável online, já que todas as edições estão disponíveis no site, com o seu formato e design originais. “Cada número está online desde 1999. Se for lá, a uma parte que diz ‘arquivo’, vai encontrar desde o número 0 e é engraçado, porque vê-se mesmo que é um site dos anos 90”, diz a docente.

A salvaguarda da informação publicada foi, desde o início, uma preocupação para a fundadora. “É com orgulho que se olha para um património de mais de 1.300 edições e se pensa [que] está aqui um pouco da história da Covilhã”.

O site está alojado nos servidores do LABCom, pelo que está abrangido pelos mesmos sistemas de segurança, back-up e manutenção periódica da unidade de investigação financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Já a informação não publicada não é guardada, até porque não há recursos para isso. “Seria um esforço que eu acho que não compensa o investimento. Nunca fizemos e não há planos para fazer.”

 

“GUARDEM TUDO”

O percurso de Vanessa Rodrigues no jornalismo já a levou a múltiplas geografias: Amazónia, Jordânia, Moçambique são alguns exemplos. Dos lugares que visitou, trouxe informação e histórias que nem sempre teve a chance de contar. Em 2009, por exemplo, quando esteve na Amazónia, publicou vários artigos, mas tinha ainda na sua posse material inédito que não lhe foi possível analisar. Guardou-o e agora esse material vai servir de base a uma curta-metragem com um cunho “mais experimental e artístico”. “Apesar de ser do passado, continua a ter atualidade e ganha dimensão documental, o que é extraordinário”, diz.

É por ter experiências como esta que a jornalista e documentarista tenta sensibilizar os seus alunos da licenciatura de Ciências da Comunicação para a importância de arquivar os conteúdos, mesmo aqueles que não foram publicados.

A par com o trabalho jornalístico, Vanessa Rodrigues leciona na Universidade Lusófona – Centro Universitário do Porto desde 2015. Quando assumiu esta função, quis proporcionar aos estudantes uma experiência mais próxima da realidade e fundou o #infomedia, que está integrado no plano curricular.

No site estão publicadas várias reportagens assinadas pelos alunos, sobre uma miríade de temas atuais, que vão desde as Artes, à Geração Z, Desporto, Portugal e Internacional. O foco aqui não é “de todo” a realidade académica, já que o objetivo é que os jovens possam ter maior liberdade na elaboração dos trabalhos e se permitam explorar outras abordagens.

 

A jornalista e docente diz que a preservação dos conteúdos sempre esteve entre as suas preocupações. O problema é que os recursos são escassos. “Nós sabemos que a quantidade de material que nós produzimos não acompanha a capacidade de preservar”, diz a jornalista. E dá um exemplo concreto: “nós não conseguimos alojar diretamente os vídeos no website, temos que fazer alojamento externo. Se um dia o YouTube ou o Vimeo deixarem de funcionar – como, por exemplo, já no passado o Blogspot deixou de funcionar – estamos a falar aqui de um risco [de perda desse conteúdo]”.

Todas as reportagens que foram publicadas estão disponíveis no site do #infomedia, mas isso só é possível porque Vanessa Rodrigues fez uma recuperação através do Wayback Machine, já que um ataque informático provocou uma perda significativa de artigos. “Consegui pelo menos recuperar os textos e algumas fotografias que fui colocando novamente no #infomedia. Enfim… com o nome administrador, já não com os nomes dos estudantes [redatores], porque isso tudo tinha desaparecido”, lamenta.

“É tudo muito volátil e considero que se fala pouco, que se pensa pouco sobre a importância do arquivo e sobre a importância da preservação deste acervo”.

Por este motivo, Vanessa Rodrigues tenta passar a mensagem aos estudantes. “Nós temos uma sessão só dedicada a arquivos, memória, pesquisa, preservação, catalogação”, onde são exploradas questões como “a importância de colocar metadata no material, por exemplo, a importância de criar uma hierarquia informativa, a importância de termos um disco em comum para partilhar esse material bem catalogado, com regras específicas, a importância deles terem também um disco externo com o material deles”, etc.

“Isso foi uma consciência que eu tentei desde sempre incutir nos estudantes: “guardem tudo”, relata Vanessa Rodrigues.

 

 

MAIS IMPACTO DO QUE O ESPERADO

Quando decidiram integrar a redação do jornal Pontivírgula, Rita Duque e Maria Faia, alunas do curso de Comunicação Social da Universidade Católica Portuguesa, foram movidas pelo interesse na área. A vontade de ganhar experiência e de desenvolver competências era a prioridade. Não sabiam exatamente quantas pessoas liam o Pontivírgula, e subestimaram o impacto que o seu trabalho tinha na comunidade académica. “Não sabíamos bem se as pessoas recebiam, se liam ou se estavam interessadas”, diz Rita Duque, diretora.

Foi após criarem uma newsletter para divulgar o trabalho do jornal, que perceberam a relevância do que estavam a desenvolver. “Foi fantástico fazermos isso, porque notámos que muitas pessoas – não só alunos, mas professores, diretores da faculdade -, estavam interessados em ler e em receber [o jornal] todos os meses no e-mail”, explica a estudante.

O impacto tem vindo a aumentar e, para Rita Duque, isso é perceptível pela “controvérsia” que alguns artigos de opinião geraram na faculdade.

A equipa do Pontivírgula é composta por 42 pessoas neste momento, 30 das quais trabalham na elaboração de textos, número que supera muitas redações profissionais em Portugal. A par com o trabalho jornalístico, há ainda elementos responsáveis pelo design, redes sociais, entre outras funções.

O número total vai variando e já chegou a atingir os 60 membros. Não dispondo de um espaço que consiga acolher todos os colaboradores, o grupo organiza-se via whatsapp.

Enquanto diretora e sub-diretora, Rita e Maria são responsáveis pela escolha dos coordenadores, que depois organizam o trabalho dentro de cada departamento. “Eles fazem grande parte do trabalho e nós confiamos totalmente”, afirma Rita Duque. Um dos pontos positivos que destacam é precisamente as competências que adquirem ao nível da gestão de equipas e do trabalho coletivo.

O jornal é mensal e tem cerca de 40 páginas. É lançado em PDF, já que não há recursos para poder ser impresso e distribuído. Os textos são maioritariamente dedicados a grandes temas da atualidade nacional e internacional nas áreas da política, cultura, sociedade e desporto. Também elaboram ocasionalmente suplementos especiais sazonais.

Sendo uma equipa descentralizada, o trabalho é guardado numa drive a que todos os coordenadores podem aceder. “Confiamos muito no Google”, diz Maria Faia, entre risos, admitindo que o sistema não é o ideal. “Estamos a ter um problema com a drive, que está de facto a ficar cheia. Vamos ter de arranjar uma solução”, lamenta a estudante, que admite ter como única alternativa apagar ficheiros mais antigos.

O facto de as edições estarem todas publicadas é, em si mesmo, considerado uma espécie de salvaguarda pelas responsáveis, já que não dispõem de meios para sistemas de back-up do material acumulado desde 2018.

Apesar disso, reconhecem a importância de arquivar a informação que produzem, mais que não seja porque as ajuda a perceber a evolução do projeto. “Estamos sempre à procura de inovar e melhorar o que já fizemos, e as edições antigas ajudam muito nisso”, diz Rita Duque.

“Sim, sim. E também ajuda em temas, por exemplo, e a perceber o que é que faziam antigamente, o que é bastante interessante porque, quando o jornal foi fundado, baseavam-se muito mais em temas da faculdade do que agora”, acrescenta Maria Faia.

PODCASTS AKA ARQUIVOS POSSÍVEIS

 

Foi com a internet que a rádio conseguiu ir além do seu carácter efémero. A possibilidade de disponibilizar programas já transmitidos, armazenados num formato que o ouvinte pode escutar de forma assíncrona, revelou-se transformadora.

Quando a Rádio Universitária do Algarve (RUA) foi fundada, a 28 de novembro de 2002, essa possibilidade ainda não existia. Faltavam cerca de dois anos para que o ex-VJ da MTV Adam Curry e o programador Dave Winer criassem um software que permitia fazer o download das transmissões de rádio na internet diretamente para o Ipod, no que seria o embrião dos atuais podcasts. Aliás, o próprio termo resulta da junção entre “Ipod” e “broadcast” (transmissão).

Muitas rádios passaram a usar esta ferramenta inovadora como forma de arquivo improvisado, acessível a qualquer pessoa com ligação à internet. Tiago Griff, diretor da RUA, explicou ao Gerador isso mesmo: “Nós temos o nosso site, onde fazemos a divulgação das notícias, e também temos o nosso SoundCloud”, onde os programas são disponibilizados.

A RUA pertence a uma associação sem fins lucrativos composta pela Universidade do Algarve, Associação Académica da Universidade da Algarve e o Serviço de Ação Social. Sendo um órgão de comunicação mais virado para divulgação cultural – como o diretor faz questão de frisar – sobra pouco tempo para a produção jornalística, daí que os conteúdos noticiosos da RUA sejam muitas vezes resultantes de uma parceria que mantêm com o Sul Informação. No site existem algumas notícias, focadas no contexto académico e regional, mas como são algo acessórias, a sua preservação também é tida como desnecessária.

Mais valorizados são os programas de autor, feitos por estudantes da Universidade do Algarve e colaboradores voluntários. “Se alguém tiver ideia para algum programa faz, e nós guardamos isso também por uma questão de respeito”, diz Tiago Griff. “Eventualmente, se algum dia quisermos recordar o que é a história desta rádio, o que é que ela já deu, é sempre um arquivo interessante de ter”, acrescenta.

No que diz respeito ao arquivamento da emissão propriamente dita, de forma global, ele é feito apenas durante os 30 dias obrigatórios por lei, em discos externos. “Depois, é tudo apagado”, até porque não há recursos suficientes para manter um arquivo extenso e organizado.

O financiamento público pode, nestes casos, ser um apoio valioso que permite aos pequenos órgãos de comunicação evoluir e modernizar-se. A Rádio Universitária do Minho (RUM) é um exemplo disso mesmo.

Este arquivo digital estará, segundo o responsável, acessível ao público através do próprio site da RUM, mas será uma plataforma à parte. O trabalho está a ser desenvolvido há pouco mais de um ano e foi possível iniciar graças às verbas obtidas no âmbito dos programas de apoio do Estado à área da comunicação social e que são distribuídas anualmente, por meio de candidaturas, pelas respectivas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR). Em 2024 a RUM conseguiu 16 421,60 €.

A verba foi atribuída para um projeto de renovação do site, que implica a reestruturação do back-office, mas a componente arquivística foi uma das partes que o júri da CCDR mais valorizou, segundo Vasco Leão. Este financiamento permitiu à RUM “ir mais além” na renovação digital, embora ela já estivesse nos planos.

A preservação da memória destas rádios universitárias mas também de carácter local e regional, é importante porque é também um registo do trabalho dos futuros profissionais, segundo o administrador. “Continuamos a ser um laboratório para novos valores, novos talentos. A nossa equipa, uma grande parte dela, é jovem” e esta experiência “acaba por ser o início de carreira”.

Criada em 1984 como rádio pirata, a RUM conseguiu o devido licenciamento em 1999. Desde a sua fundação, passaram em antena programas variados, alguns deles com convidados de renome. “Temos muita coisa [guardada]. Temos entrevistas históricas, com pessoas como Mário Soares, Álvaro Cunhal…”, explica Vasco Leão, administrador que assumiu as rédeas em 2004.

Pela importância desses conteúdos, a equipa tem vindo a trabalhar na organização de um “arquivo digital”, que permita compilar programas antigos e atuais. “Isto exige, além de uma plataforma – que já está criada mas que não está disponível -, um trabalho de pesquisa, de seleção e depois de transformação digital de alguns suportes que nós temos em cassete, VHS, e outros ficheiros, que depois vamos disponibilizar”, diz Vasco Leão.

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