Intitula-se “Jesus, o Filho” e faz parte da trilogia “A Sagrada Família”, que inclui as peças “Maria, a Mãe”, apresentada em novembro de 2020, e “José, o Pai”, que irá estrear em 2023. A peça de teatro, escrita e encenada pelo ator Elmano Sancho, é uma reflexão sobre a capacidade – ou incapacidade – de comunicar.
Segundo Elmano Sancho, o ponto de partida para este projeto foi “o oratório da Sagrada Família e as imagens de José, Maria e Jesus”. Tal como nos explicou, o oratório é uma tradição que ocorre em algumas aldeias de Portugal: “[quem] recebe o oratório da Sagrada Família em casa - ou seja o exemplo de perfeição personificado pela família de Nazaré - predispõe-se a fazer uma reflexão sobre as imperfeições do seu núcleo familiar, tentando superá-las”. Assim, sendo a família de Nazaré interpretada como “a família perfeita”, a peça explora precisamente “os defeitos e as vicissitudes que existem em cada família” no mundo real.
Em cada texto, Elmano centra-se numa das figuras, e, no caso desta peça, focou-se na de Jesus, “o arquétipo do filho(a)”. É uma personagem “com a qual todos nos poderemos identificar. Afinal, nem todos somos pais, mas todos somos filhos”, reforçou.
Não se trata de um texto religioso nem se baseia em eventos bíblicos, contudo, o espetáculo assenta nos quatro passos da confissão: o exame de consciência, o arrependimento, a confissão propriamente dita e a penitência. “Com o texto e o trabalho de uma equipa, espero, sobretudo, apresentar um universo forte, diverso e complexo que chegue a cada espectador, de modo a provocar uma reação, sim, seja ela qual for”.
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O espetáculo retrata também o transtorno “Hikikomori”, um termo de origem japonesa que caracteriza o comportamento de extremo isolamento. Este transtorno é uma das principais características do protagonista, uma vez que Jesus foge dos desafios da sociedade contemporânea e refugia-se em casa.
“A problemática abordada no espetáculo assenta noutros pressupostos, tais como, a incomunicabilidade entre pais e filhos, a descrença, a solidão, o desgaste e a reclusão”, esclareceu o autor. “Hikikomori” irá então surgir como o “único escape para sobreviver […]”. Elmano Sancho reconhece que o confinamento forçado, imposto pela pandemia, também serviu de influência para o seu texto. “De qualquer modo, tratam-se de coisas distintas: um é o isolamento/confinamento forçado (como no caso da pandemia), outro é o isolamento voluntário (Hikikomori)”. Este último foi a sua verdadeira inspiração para a criação da peça.
A peça “Jesus, o Filho”, estará em cena a partir do dia 15 de setembro e poderá ser vista até ao dia 30 de outubro, no Teatro da Trindade, de quarta-feira a domingo. Para além de Elmano Sancho, a obra contará com a interpretação de atores como Joana Bárcia, Vicente Wallenstein e Ruy de Carvalho. Os bilhetes podem ser adquiridos online.