No mês ladeado pelo dia da visibilidade trans (celebrado no dia 31 de Março) de um lado e a visibilidade lésbica (celebrado no dia 26 de Abril) do outro com o dia da liberdade pelo meio (25 de Abril) falar de liberdade importa.
Quando em 2008 me ofereceram o álbum To Be Free (ser livre) da Nina Simone, eu não fazia ideia do impacto que ele iria ter em mim, pensar nas letras das músicas que dizem que mesmo que não tenhas nada, tens-te a ti; que mesmo que o mundo te faça querer acreditar que não mereces estar aqui, as pessoas jovens, negras, com talentos existem, e estamos todes a fazer este caminho.
A letra da música To Be Young Gifted and Black (ser jovem, ter talentos e negre) diz:
Ser jovem, com talentos e negre
Oh que sonho enternecedor e precioso
Ser jovem, com talentos e negre
Abre o coração para o que estou a dizer
Neste mundo inteiro que conheces
Existem biliões de rapazes e raparigas
Que são jovens, cheios de talentos e negres.
E isso é um facto.
(...)
Existe um mundo à tua espera
A tua luta apenas agora começou
Quando te sentires em baixo
Lembra-te, existe sim uma grande verdade que nunca deves esquecer
Quando és jovem, com tantos talentos e negre
A tua alma é intacta
(...)
E que alegria sinto hoje
Por com orgulho podemos dizer
Que ser jovem, cheio de talento e negre
É onde nos encontramos.
Mas quantas vezes podemos/conseguimos ser livremente? Quem são as pessoas que não têm medo? Que privilégio é esse reservado a tão poucas pessoas?
Não ter medo não é ter as ferramentas para lidar com ele, é não senti-lo. Não ter de pensar nele. Não temer, não ter ansiedade, não ter a percepção/presença constante que qualquer coisa nos pode acontecer seja a qualquer momento, seja em contextos específicos.
Como a Nina Simone, o que eu gostava era de não ter medo, que ser livre fosse uma realidade para todas as pessoas em todos os lugares e momentos. Para mim essa é a verdadeira definição de ser livre.
-Sobre Alexa Santos-
Alexa Santos é formada em Serviço Social pela Universidade Católica de Lisboa, em Portugal, e Mestre em Género, Sexualidade e Teoria Queer pela Universidade de Leeds no Reino Unido. Trabalha em Serviço Social há mais de dez anos e é ativista pelos direitos de pessoas LGBTQIA+ e feminista anti-racista fazendo parte da direção do Instituto da Mulher Negra em Portugal e da associação pelos direitos das lésbicas, Clube Safo. Mais recentemente, integrou o projeto de investigação no Centro de Estudos da Universidade de Coimbra, Diversity and Childhood: transformar atitudes face à diversidade de género na infância no contexto europeu coordenado por Ana Cristina Santos e Mafalda Esteves.