Pela 25ª vez, o Queer Lisboa - Festival Internacional de Cinema Queer regressa à capital. O programa inclui “76 filmes procedentes de 27 países, que contemplam clássicos da história do cinema queer e propostas desafiantes de realizadorxs emergentes que prometem dar que falar”, de acordo com comunicado enviado ao Gerador.
O certame acontece entre 17 e 25 de setembro, no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa.
O primeiro dia irá arrancar com uma homenagem ao dramaturgo francês Jean Genet, “com o clássico de 1982, Querelle, de Rainer Werner Fassbinder, filme póstumo que tem por base o Querelle de Brest, de Genet, e que nos transporta para um universo marcado pela violência e pelo erotismo”. Tal como agora, foi este o realizador que inaugurou a 1.ª edição do então denominado Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, que aconteceu em setembro de 1997. Nessa noite de abertura, na Cinemateca Portuguesa, foi exibida a curta-metragem “Un chant d’amour”.
Mas há muito mais para ver durante os nove dias de festival.
A Competição de Longas-Metragens, cujo júri é composto pela argumentista e realizadora Fátima Ribeiro, a 'performer' e atriz Jenny Larrue e o ator Manuel Moreira, conta com oito filmes, que “cobrem uma gama ampla de modalidades narrativas e sensibilidades, sendo de destacar a tríade de estreias na realização composta por: ‘Madalena’, primeira longa-metragem do realizador brasileiro Madiano Marcheti, estreada no Festival de Roterdão; ‘The scary of sixty-first’, realizado e protagonizado por Dasha Nekrasova, vencedor do prémio Melhor Primeira Obra na Berlinale de 2021; e ‘Garçon chiffon’, proveniente de Cannes 2020, onde Nicolas Maury assume a realização e o papel principal”.
Já no que às curtas-metragens diz respeito, vão a concurso 22 filmes, que serão avaliados por um júri composto pelo realizador Ricardo Branco, a atriz Cleo Diára e a jornalista Teresa Vieira. De acordo com a organização “um terço dos trabalhos apresentados são de cineastas que já marcaram presença no festival, alguns inclusive vencedores de outras edições, como é o caso de Yann Gonzalez, Marc Wagenaar e Cris Lyra”.
Nesta secção, Portugal está representado com dois filmes: “A table for one”, de Carlos Lobo, e “Luz de Presença”, de Diogo Costa Amarante. Os mesmos jurados irão avaliar os nove filmes da competição “In My Shorts”, dedicada a filmes de escolas de cinema europeias, e “este ano com uma forte presença francesa”.
Na Competição de Documentários, o júri é composto pela presidente da ILGA Portugal, Ana Aresta, a jornalista e produtora da RTP Manuela Silva Reis, e o codiretor do DocLisboa Miguel Ribeiro. Neste caso “a lista de filmes propostos transporta para um conjunto de diferentes geografias, mapeando a multitude de vivências e problemáticas dos indivíduos e comunidades queer”, lê-se na mesma nota.
Na secção Queer Art, com um júri composto “pelx artista e educadore transfeminista Dani D’Emilia e pelo montador e programador Tomás Baltazar”, a organização do festival salienta “a presença de ‘Acts of Love’, de Isidore Bethel e Francis Leplay, uma docuficção que utiliza o universo das dating apps para mostrar as várias formas que o desejo e a intimidade assumem após o término de um relacionamento. Em destaque está também o regresso de um nome já familiar ao festival, Gustavo Vinagre, para apresentar ‘Desaprender a dormir’, um exercício de procura pela líbido sexual no cruzamento entre ficção científica e pornografia”.
Nesta edição, a secção Panorama é composta por quatro filmes: “Enfant Terrible”, de Oskar Roehler, “’biopic’ teatral sobre a figura de Fassbinder”, “Saint-Narcisse”, de Bruce LaBruce, “onde a descoberta de um irmão gémeo suscita uma reflexão bem humorada sobre narcisismo”, “Shiva baby", de Emma Seligman, e “P.S. Burn this letter please”, de Michael Seligman e Jennifer Tiexiera, “onde a descoberta de umas cartas recupera um importante pedaço de história da comunidade queer norte-americana”.
Para a sessão de encerramento, a obra escolhida foi “The watermelon woman”, de Cheryl Dune. O filme é descrito como um “importante marco do New Queer Cinema, reconhecido enquanto um dos mais importantes filmes lésbicos, realizado por uma mulher negra”. Para terminar haverá também um espetáculo da dupla brasileira Noporn, que irá “interpretar faixas dos filmes ‘Beira Mar’ e 'Tinta Bruta’, exibidos no festival, em anos anteriores.
Além de tudo isto, o Queer Lisboa contará com a presença e o cinema do realizador norte-americano Gus Van Sant. Está preparada uma “homenagem à obra de um dos autores mais prolíficos do cinema queer norte-americano”, onde se incluem filmes como “Mala Noche” (1986), “A caminho de Idaho” (1991) e “Elephant”(2003).
O Queer Lisboa deu ainda “carta branca” a Gus Van Sant para programar na Cinemateca Portuguesa, tendo este escolhido dois filmes que fazem a ponte com o espetáculo de palco que estreará na BoCA: “The Chelsea Girls”, de Andy Warhol, e a sua própria longa-metragem “Gerry”. O realizador estará também presente no mesmo espaço e disponível para uma conversa com o público.
Durante o festival, a audiência poderá ainda aceder 'online' ao programa Outros Sistemas, “uma seleção composta por objetos artísticos interativos cuja existência é possibilitada pelo digital, e que procura refletir sobre a emergência de novas narrativas que confrontam a expressão queer com as particularidades dos formatos digitais”.
A organização já tinha revelado que pretende fazer chegar o cinema queer a outras localidades, para lá do eixo Lisboa-Porto, que já acolhe o festival. Este “projeto de itinerância” acontecerá entre novembro e a primavera de 2022, em parceria com a associação ILGA-Portugal. Serão exibidos filmes que incidem sobre migrações, refugiados, direitos humanos, estigmas sobre VIH/Sida, sobre transgénero e ativismo LGBTQI+.