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42: Os horrores da década

A crónica ficcional 42 trata de mudanças climáticas, avanços tecnológicos, e transformações sociais, políticas e científicas, centrando-se em Lisboa, na Europa e no mundo no ano de 2042.
No 23.º episódio, Alex analisa os documentos históricos enviados por Lia, que revelam os horrores da década de 2020, incluindo desastres climáticos, manipulação de redes sociais, violência extremista e mudanças radicais nos sistemas sociais e horários globais.

Texto de Redação

©Nuno Saraiva

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De: liavgoms@voo.com
Para: alexaguas@voo.com
Data: 8 de dez. de 2042, 10:02
Assunto: Caixas desaparecidas

Olá, Alex

Espero que estejas bem e seguro.

Estou de volta a Lisboa. Cheguei a casa e alguma coisa não me parecia certa. Acabei por perceber que faltam algumas das caixas que eu tinha organizado da última vez que aqui estive. Falei com a Mei e não ficou nada no Alentejo. Não percebo o que aconteceu. Envio-te o último levantamento de informação, documentos da tua mãe, de antes da Grande Transformação, e informação sobre várias coisas chocantes que aconteceram nos anos 20 e 30.

António está bem. Tem chorado mais do que é normal, penso que sejam mais dentes a crescer.

Quando tiveres tempo, avisa se estás vivo.

Lia.

Enviei vários documentos e artigos ao Alex, a maior parte dos quais escritos e publicados entre 2025 e 2030, embora nem todos tivessem datas. Muito do que li eram novidades para mim, algumas coisas aterrorizantes. Li outras que sempre tinha pensado que eram apenas invenções dos meus pais ou exageros. O final da década de vinte foi realmente terrível, nem percebo como foi possível a Humanidade atravessar aquilo sem se destruir completamente.

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©Nuno Saraiva

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X confirma que o algoritmo apagou mais de 80% das notícias acerca das mortes no último verão

A denúncia por parte da ONG Communicational Liberty League (CLL) sobre o desaparecimento de  grande quantidade de conteúdos na plataforma X ligados às mais de 8 milhões de mortes no passado verão foi confirmada pela empresa. A X justificou o fenómeno com a opção do algoritmo de “privilegiar conteúdos positivos e esperançosos perante a tragédia humana que todos sofremos”, declarou a porta-voz Jessica Alcaraz. A CLL e outras ONGs, numa carta conjunta, repudiaram as declarações da plataforma, revelando durante a análise que “a mesma plataforma que apagou mais de 80% das notícias acerca das mortes este verão, promoveu ativamente os conteúdos que negavam a existência das mortes e mesmo das ondas de calor”. As organizações dizem que os conteúdos promovidos levaram “inclusivamente à organização de manifestações e protestos contra jornalistas e órgãos de comunicação social que reportavam a catástrofe”. A plataforma X não comentou a carta das ONGs.

As extintas autoridades do Ato dos Serviços Digitais (DSA) da União Europeia seriam as principais responsáveis para atuar neste caso, mas a CLL denuncia que o seu desaparecimento tinha como objetivo deliberado entregar a distorção dos factos e da realidade à vontade das grandes empresas de Big Tech como a X, a Alphabet, a Amazon, a Apple, Meta e Microsoft, “o que aconteceu uma vez mais neste caso”.

Abolicionistas do aborto incendeiam clínicas e maternidades - Dezenas de mulheres grávidas e bebés morrem

A organização Abolishionists Revenge reivindicou a autoria dos mais de 60 ataques a clínicas de saúde e maternidades nos Estados Unidos e Canadá que ocorreram durante a última semana. Walker Hunter, líder do movimento na clandestinidade, explica que os “atos sagrados” levados a cabo na última semana visam levar ao fim do “holocausto do aborto” que acontece nas maternidade e clínicas de saúde maternal. Hunter referiu que os elementos que levaram a cabo os atentados, vários dos quais se imolaram dentro dos estabelecimentos de Saúde, “sentam-se neste momento à mesa do Senhor”.

Movimentos pró-vida e pró-escolha denunciaram os atentados, que mataram 23 mulheres e 11 crianças, ferindo centenas de outras pessoas. Lucy Limbaugh, da Life Action, afirmou que “os extremistas abolicionistas estão completamente desequilibrados”, que “o avanço rumo à proibição do aborto nos Estados Unidos é imparável”, esperando que as autoridades detenham os organizadores destes crimes, que “prejudicam seriamente a causa da vida”. Andressa Roberts, coordenadora da Rede de Apoio à Saúde Maternal exilada no Canadá, denunciou os abolicionistas como “a vanguarda do movimento pró-vida, que mais não é que uma seita extremista que se infiltrou nos mais altos cargos políticos e jurídicos dos Estados Unidos”. Roberts apelou a todas as mulheres a organizarem-se e a formarem uma resistência feminista, “armada se necessário”, para defender a auto-determinação corporal feminina e acabar com os femicídios que ocorrem de forma reiterada, “justificados sem excepção por textos escritos há milhares de anos por homens que consideravam as mulheres bestas de carga, parideiras ou ninfetas para desflorar”.

Até ao dia de ontem, cinco atentados na Polónia, Itália e Paraguai promovidos por movimentos abolicionistas imitaram os atentados na América do Norte, resultando em mais uma dúzia de vítimas mortais.

©Nuno Saraiva

Violações e femicídios explodem na Europa Central - migrantes latinos são responsáveis

A ascensão de violência contra as mulheres tem sido denunciada pelos governos centristas europeus, e atribuída às vagas de migrantes do Sul da Europa que têm fugido ao calor e aos incêndios, beneficiando da benevolência dos governos patrióticos na Alemanha, Áustria e Polónia. Na semana passada, 14 homens morenos provenientes de Espanha e Portugal foram linchados nas ruas de Dresden por cidadãos organizados na Legião da Pátria, acusados de violarem crianças alemãs. O recém-empossado chanceller Bachmann alertou para a necessidade de resolver a “Questão Mediterrânica”. Num live no X, Bachmann disse que “depois de banirmos os islamismos, não podemos assistir especados à invasão das hordas vindas do Sul, que são uma ameaça para os verdadeiros alemães, que violam as nossas mulheres e crianças, roubam os nossos empregos, trazem doenças, drogas e a indolência latina.”. Eva Lamba, a líder da Sororidade Ariana, organização feminina austríaca, relembrou que “as nossas mulheres devem evitar contactar com homens e mulheres escuros, que contaminam o nosso sangue e a nossa pele.” Lambda apelou ainda ao governo que começasse um processo de controlo de natalidade, já que as mulheres mediterrânicas, em particular as ibéricas, podem, se deixadas fora de controlo, “começar a reproduzir-se como cadelas”.

Ontem mesmo, o governo polaco tornou público o apelo “à proteção da pátria e da família”, um projeto que pretende recrutar jovens entre os 13 e os 18 anos, “gente sã e sem ligações políticas” a formar os corpos de proteção pública, cujo objetivo é a manutenção da ordem pública, a defesa das fronteiras e a proteção da mulher polaca, tão acossada por “estrangeiros, lésbicas e transsexuais”.

Redes sociais, ódio e violência

A organização de violência coletiva levada a cabo por jovens nas ruas de Inglaterra tem-se realizado principalmente através de redes sociais como WhatsApp, Gab e MeWe. “La Masacre” é o nome dado ao mais recente ataque aos bairros ocupados na última vaga de espanhóis e latinos a chegar a Londres. Esta tragédia, que levou à destruição de mais de 200 lojas e a pelo menos 40 mortes - incluindo menores -, não foi um acidente mas um ato deliberado, criado por grupos de jovens nacionalistas britânicos. Este plano começou com a divulgação em todas as diferentes redes sociais da “notícia”, amplificada pelo tablóide “The Sun”, de que a comunidades hispânicas estariam a planear a declaração de cidade livre do bairro de Lambeth. Foram convocadas reuniões para essa noite em grupos fechados nas redes sociais e uma multidão de 300 hooligans armados de bastões e facas desceu durante a madrugada ao bairro, bloqueando ruas com contentores e carros queimados enquanto entrava dentro de estabelecimentos comerciais e os destruía, atacando ainda trauseuntes na rua. Outros elementos desta organização política atacaram comunidades hispânicas e muçulmanas em Birmingham e em pequenas cidades do Lancashire.

O apelo de organizações humanitárias ao governo para que feche o jornal The Sun e trave o acesso às redes sociais utilizadas para coordenar estes ataques foi rejeitado pelo governo. Starmer declarou que “a liberdade de imprensa é essencial, e não vamos impedir a cidadania de aceder a esta informação apenas porque alguns maus elementos utilizaram estas ferramentas civilizacionais para avançarem de forma oportunista a sua agenda política”. A British Hispanic Federation diz-se estarrecida com os ataques e com a resposta governamental, apelando aos cidadãos hispânicos a que organizem grupos populares de auto-defesa contra novos ataques, apelidados pelos mesmos como “racistas, arcaicos e mesmo nazis”.

Cultos da morte

156 homens, mulheres e crianças morreram na Roménia, depois de um pastor evangélico tê-los encorajado a jejuar até à morte para "encontrar Jesus". Os corpos dos mortos foram encontrados debaixo das tábuas da igreja e em duas valas na aldeia de Baroa, no nordeste da Roménia, onde estava sediada a Igreja Universal dos Últimos Dias. A maioria dos corpos encontrados mostrava os sinais de morte por inanição, embora a parte das crianças tenha sido envenenada ou estrangulada. O Pastor Radu Bogdan, que liderou o suicídio em massa, foi detido na Moldávia, em outra igreja da mesma confissão.

Os novos movimentos religiosos apocalípticos cristãos e de outras fés têm atraído pouca atenção mediática, focada no extremismo religioso islâmico acusado de promover o terrorismo no território europeu. O governo romeno, em linha com vários governos europeus, tem fechado dezenas de mesquitas no país, enquanto proliferam cultos religiosos, seitas políticas e apocalípticas, que olham para o caos climático e a defesa contra migrantes como um sinal do fim da sociedade.

O incidente abriu uma nova ruptura na sociedade romena, em particular entre cristãos e católicos, embora as já habituais acusações de que são falsas notícias tenham voltado a surgir. A união de sindicatos pede ao governo para olhar para todas as religiões com incubadoras de extremismo e de violência.

Fiquei com a cara lavada em lágrimas enquanto ia lendo e fotografando os documentos. A Marta tinha ainda feito uma colagem de notícias, em particular sobre imprensa e redes sociais. Foi a primeira vez que eu percebi o seu interesse pela crise da comunicação. E terminei o dia de leituras com um artigo assinado pela própria, alertando para a inação revolucionária perante a extrema direita e o seu domínio sobre a comunicação.

©Nuno Saraiva
©Nuno Saraiva

Massas, Vanguardas e outros Hidratos de Carbono
Por Marta Estêvão

Comunicar não é uma atividade abstrata. Com a massificação da produção de material literário e com a conquista da vitória da alfabetização dos pobres do mundo, tornou-se essencial que o poder da informação fosse desmantelado. Porque aceitariam os donos do mundo partilhar connosco informação essencial para compreendermos o mundo em que vivemos e, consequentemente, as amarras que criaram para impedir-nos de construir um futuro igualitário? Mais, porque permitiriam que compreendêssemos a catástrofe que eles construíram? Era importante que saber ler fosse o mais inútil possível.

Comunicar produz resultados materiais. Não comunicar produ-los também. Existe um debate longo e contínuo ao longo da história da esquerda mundial, acerca de como construiremos o mundo que queremos. Arriscamos agora ou ganhamos força para arriscar mais tarde? Ou podemos até ir só ganhando força até o capitalismo desistir porque é menos favorável ao conjunto da humanidade? É um debate que levou a profundas divisões dentro do campo de quem trabalha, dentro do campo das feministas, dentro o campo das lutas de libertação (aqui muito menos do que nos casos anteriores). Mesmo no campo de quem não considera que se deve esperar, sucede-se o debate acerca da transformação. O primeiro obstáculo sobre esse debate tem que ver com violência. Temos nós legitimidade para exercê-la? Mesmo se for para responder à violência que tão eficazmente é exercida sobre nós? Quais são os limites da violência? Sermos qualificadas de terroristas não pode seguramente ser um desses limites, porque já o éramos quando apenas fazíamos manifestações, quanto mais quando evoluímos para bloqueios, invasões ou sabotagens, mesmo sem ferir qualquer ser vivo. A maneira como a violência é comunicada é poderosíssima, embora todas e cada uma das instituições que hoje gerem o capitalismo tenham saído de processos violentos. Não teria havido um só parlamento ou assembleia representativa sem guerras civis, decapitações, defenestrações e, claro, grande mortandade do lado dos pobres, dos camponeses, dos trabalhadores. Não haveria um só sindicato ou associação que não fosse de aristocratas se um número simbólico de aristocratas não tivesse sido passado a fio de espada, de forquilha ou de mosquete. Ao longo da história a violência sempre foi a principal arma política e os de baixo sempre foram desproporcionalmente pacíficos perante a brutalidade das elites, primeiro aristocráticas, depois burguesas. O levantamento violento contra as elites, fosse de trabalhadores contra patrões, fosse de revolucionários contra governos, fosse de povos colonizados contra colonos, sempre, sempre, sempre mereceu a mais bárbara resposta violenta, em alguns casos até ao desaparecimento de povos inteiros. A lição aprendida em geral é que é melhor ter cuidado e só arriscar quando há as melhores condições possíveis para ganhar.

Chegamos então à fase da discussão entre massas e vanguardas. Qual é a melhor maneira de organizar uma revolução? A teoria de que só um grande movimento popular pode derrubar um governo ou um sistema, a teoria de que só podemos ganhar com “massas” ignora algumas questões-chave. A primeira é simples: isto é uma caricatura. Um sistema não vai fazer uma luta num campo de batalha com uns milhões para um lado e outros milhões para o outro, chocam e no fim quem sobrar ganhar. Um sistema é uma rede de alianças, de infraestruturas, de histórias e de sítios que depende de um enorme alinhamento para se manter em funcionamento. Muito mais que pela sua real capacidade de violência, o sistema capitalista hoje depende quase da capacidade de fazer as pessoas não perceberem o mundo em que estão, de impedi-las de reagirem através de uma avalanche ininterrupta de informação e desinformação. Outra questão-chave prende-se com a ideia de que as massas (cem, mil, um milhão, quem decide quando já são massas suficientes?) só se juntarão a um grande movimento ou a uma ação revolucionária se estiverem completamente de acordo com táticas, estratégias, políticas e ideologias dos movimentos. Esta, mais que uma caricatura, é um sketch de comédia. A ideia de que as pessoas não compreendem momentos de ruptura na sociedade e arriscam mudar só pode ser beneficiada pela bonacheirona complacência de quem criou estas formulações para poder estar quieto. A terceira questão-chave prende-se com o tempo. Uma revolução não é um dia, um dia em que alguém toma um parlamento ou entra numa indústria e toma conta daquilo. Uma revolução é um processo, longo provavelmente de décadas. Um processo que precisamos que continue a avançar. Se quiser apenas despejar o romantismo revolucionário que tantos dirigentes de pacotilha usam para recrutar jovens e conformá-los à inércia, posso falar-lhes do Granma e de quantos iam nesse barco que aportou em Cuba, posso perguntar-lhes pelo número de bolcheviques em 1905. Eram massas ou vanguardas? Muitas revoluções foram derrubadas, mas foram-no tanto as iniciadas por massas como por vanguardas. Por massas até por vezes nem arrancaram, como na Alemanha da Primeira Guerra Mundial, não foi? A discussão sobre massas e vanguardas é um artifício para a inação e só tem que ver com comunicação. Foi-nos comunicado tantas vezes que é impossível suceder, que a teoria política atual é nem sequer tentar.

Mas a extrema-direita não está presa exatamente nos mesmos pruridos. Primeiro, porque reivindica para si mesma o direito ao uso da violência e a emprega sem hesitações ou labirintos morais. A extrema-direita compreende a luta de classes, representa as classes dominantes e utiliza o posicionamento moral das classes dominantes sobre as classes oprimidas. Mesmo que utilize parte dessas classes oprimidas para oprimir o resto, utiliza a moralidade de classe dominante. Foram-lhe entregues de forma direta ferramentas do sistema. Há hoje uma profissão de ser fascista - essa profissão é polícia. A exangue imprensa não consegue reagir à dupla pressão das redes sociais e da normalidade de barbárie, tropeçando em si mesma sem parar e conseguindo ser odiada e desprezada por toda a sociedade, exceptuando uma finíssima fatia de intelectuais centristas idealistas. As redes sociais, por outro lado, pertencem sem qualquer questão à extrema-direita, que as usa de forma absoluta, embora o bombardeamento permanente possa ter efeitos contrários aos desejados. A sucessão de deepfakes produzidos por IA para provocar indignação e violência está a perder força, mas feriu severamente a imagem e o vídeo como fonte de informação, que eram o que sucedia ao texto como ferramenta principal.

A inação à esquerda não podia senão ter criado os movimentos Catastrofista e Apocalíptico, transformados em grande medida em expressões artísticas, uns abandonando-se à derrota e à violência estética, enquanto outros optaram pela destruição artística como obra de arte máxima durante a destruição da sociedade. Perante a ausência de audácia, só sobra hedonismo e situacionismo para lidar com o desespero e a impotência.

Há escolhas estratégicas a fazer. Debates sobre massas e vanguardas são um excelente alerta: quem os tem e tenta impor informa-nos que só conta agir se não houver perigo ou depois do perigo passar. Mais que usarem comunicação, não conseguem escapar a ela e pensam que podem usar as ferramentas do capitalismo contra o capitalismo, como tantas décadas tentaram nos parlamentos. Será tarde demais quando perceberem que a infraestrutura crítica de comunicação é tão capitalista como a indústria fóssil e tão capitalista como a assembleia da república, o Senado ou a corte do rei. E que todas têm de ser destruídas, e não num campo de batalhas napoleónicas em que marchamos e contamos números para ver quem ter mais.

Surge no entanto um problema. Nestes tempos de saturação de carbono na atmosfera, começa a haver sérios sinais de que os hidratos de carbono de que a classe trabalhadora necessita - sejam os miseráveis pães brancos da Bimbo ou excelentes massas italianas - estão em declínio. E se com comida na barriga ainda se produzem formulações alienadas para justificar não fazer uma revolução, sem comida na barriga talvez a falta de nutrientes se torne o principal obstáculo material ao movimento.

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Depois de me rir um pouco com este artigo afiado da Marta, finalmente, encontrei um documento que explicava a mudança das horas depois da Grande Transformação. Já nem me lembrava da confusão que eram os horários anteriores. E relembrou-me ainda do novo mês que passará a existir daqui a dois anos, deixando-me a questão: quando é que eu vou celebrar o meu aniversário, a 31 de Janeiro?

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©Nuno Saraiva

Novo horário transitório: como são as novas horas?

Em Janeiro entrará em vigor o novo horário global, baseado na duração das horas de sol por dia. Manter-se-ão as 24 horas diárias, mas a sua distribuição será transformada, começando o dia, as antigas 00h00 ou meia-noite, no horário do nascer do sol. Quando a transição para o novo horário estiver terminada, após um período de três anos, as horas começarão a ser contadas com o nascer do sol, crescendo até às 23h, a última hora da noite. Como exemplo demonstrativo, um dia no Solstício de Verão em Lisboa, que anteriormente começaria às 6h12 e terminaria às 21h05, começará às 0h00 e terminará às 14h53, prosseguindo a contagem das horas da noite a partir das 14h54 e terminando a contagem das horas diárias às 23h59, antecedendo o novo dia, que recomeça às 0h00.

Na região do Equador a duração dos dias é constante ao longo do ano, de aproximadamente 12 horas. Nas latitudes a Norte, a duração dos dias aumenta com a latitude entre 21 de Março e 23 de Setembro e reduz-se com as latitudes entre 23 de Setembro e 21 de Março. Nas latitudes a Sul do Equador, a duração dos dias diminui com a latitude de 21 de Dezembro até 21 de Junho e aumenta com a latitude de 21 de Junho até 21 de Dezembro. Com o aumento da latitude até aos círculos polares a Norte e a Sul, a duração do dia com sol pode aumentar até durar as 24h do dia ou reduzir-se a 0h, dependendo novamente da altura do ano. O novo horário terminará com mudanças de horário.

Como funcionará o horário transitório?

O horário transitório resulta de um equilíbrio do horário atual e do horário futuro. Os dias começarão não às 00h00, mas resultarão de um arredondamento em relação ao horário atual. Tal significa que no Solstício de Verão, as 00h00 não corresponderão exatamente às 6h12, mas antes às 6h00, mantendo o horário da República Ecosocial Portuguesa uniforme em toda a sua extensão.

Para o ano de 2032 e os dois anos seguintes, aplicar-se-ão horários semelhantes aos seguintes:

MêsHora média do nascer-do-sol atualHora convencionada do nascer do solEquivalência antigo e novo horário
Janeiro7h497h007h00 = 0h00
Fevereiro7h257h007h00 = 0h00
Março6h527h007h00 = 0h00
Abril5h575h005h00 = 0h00
Maio5h225h005h00 = 0h00
Junho5h105h005h00 = 0h00
Julho5h285h005h00 = 0h00
Agosto5h505h005h00 = 0h00
Setembro6h176h006h00 = 0h00
Outubro6h446h006h00 = 0h00
Novembro7h187h007h00 = 0h00
Dezembro7h457h007h00 = 0h00

Este novo horário tem como objetivo ligar as horas do dia às horas de luz e máxima energia, com as primeiras horas sendo as horas da manhã. O objetivo do novo horário transitório é aumentar a harmonia das atividades humanas com o ciclo de energia solar disponível, concentrando a atividade humana quando há mais energia disponível e contribuindo para reduzir o impacto das sociedades humanas no planeta. Esta medida, apoiada em mais de 60 países, faz também parte dos esforços de redução do esforço laboral, da melhoria das condições de saúde e harmonização entre os meios rurais e urbanos.

A comissão para a criação do 13º mês do ano está neste momento a trabalhar para a integração do mês de Tellus no calendário, que normalizará todos os meses do ano com 28 dias. Tellus terá 29 dias nos anos bissextos, sendo prevista a sua entrada em funcionamento oficial em 2045.

Texto de João Camargo

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