Uma nova abordagem à viola braguesa e às suas possibilidades melódicas. É esta a proposta de João Diogo Leitão, jovem músico que acaba de lançar o primeiro vídeo do seu álbum de estreia “por onde fica a primavera”.
Vencedor do prémio 'Jovens Músicos' da Antena 2, João Diogo Leitão é guitarrista de formação mas foi a viola braguesa que lhe deu asas para definir a sua própria identidade enquanto artista. A vontade de explorar este instrumento, que é conotado com a música popular e tradicional portuguesa, surgiu por querer fazer algo distinto da música erudita que estudou.
“Uma coisa é a música tradicional, outra coisa é a música rock, outra é a música erudita...e isso sempre me causou alguma confusão. [O facto de] haver essas separações tão claras, principalmente nesta preocupação daquilo que é a música contemporânea...”, diz Diogo Leitão.
O jovem músico diz ter sentido uma “falta de identidade” no mundo da música clássica, que o levou a seguir um caminho diferente. “Nós vamos a uma sala de concertos em Portugal, ouvir uma orquestra, e esta é exatamente igual [às outras]. [A música] é tocada da mesma forma do que se formos ouvir um concerto na Alemanha ou na Holanda”, afirma.
Foi por este motivo que, após um ano “sabático” em que viajou para outro país e se afastou do mundo das salas de espetáculos, decidiu apostar num apostar num instrumento tradicional português. “Interessa-me imenso esta mistura, no sentido de quebrar barreiras estéticas e ter dois mundos muito separados”, explica.
A gravação do álbum aconteceu naturalmente e surgiu para explorar diferentes possibilidades deste cordofone típico português. “Por um lado queria desenvolver uma serie de idiomatismos do instrumento, abrir possibilidades sonoras através da técnica e do meu conhecimento da guitarra clássica e da música erudita. [Queria] trazer um pouco toda esta bagagem para a viola braguesa e perceber como ela pode soar utilizando uma série de recursos que não são tradicionalmente utilizados”, explica. Ao mesmo tempo João Diogo Leitão pretendia criar um disco que tivesse uma "narrativa coerente" do inicio ao fim. "Ou seja, algo que possa ser ouvido como uma história, utilizando não necessariamente formas estruturais da musica erudita ou descritiva, mas ter sempre algum caminho em comum”, diz o músico ao Gerador.
Estas duas “buscas” traduziram-se no primeiro álbum de originais que compôs e gravou ainda antes do início da pandemia de Covid-19. O timing de captação não ficou afetado pelas restrições impostas, mas a divulgação do trabalho acabou por sair prejudicada, pelo facto de se ver limitado a atuações transmitidas on-line.
“Do ponto de vista do executante falta o público, sempre. Não há tecnologia alguma que possa substituir a presença humana. E, para o tipo de concerto que eu estou a propor, que é muito intimista - no sentido em que é só uma pessoa com uma viola - o público tem de estar presente para ouvir todas as nuances que acontecem. O streaming não o permite de forma alguma”, diz Diogo Leitão.
O álbum “por onde fica a primavera” foi produzido no Centro Musibéria, em Serpa, editado pela Respirar de Ouvido e apoiado pela Antena 2. As faixas podem ser ouvidas aqui.