O Festival Y, evento de artes de artes performativas promovido pela Quarta Parede, “que tem o foco nos cruzamentos e diversidades” está de regresso. A partir do próximo dia 27 de maio e até setembro, os palcos da Covilhã e de Castelo Branco vão receber diversos espetáculos de dança, música, performance e teatro, que envolvem a participação de artistas nacionais, internacionais e grupos locais.
Em entrevista ao Gerador, a assistente de direção artística explica que este ano as questões da multidisciplinaridade e diversidade “estão particularmente reforçadas por projetos de áreas muito diversas”. O programa terá, por isso, elementos para “todos os públicos”, algo que é também resultado da evolução que se foi verificando ao longo dos anos. “O Festival Y tem 17 edições, e tem feito um percurso para, cada vez mais, se tentar entrosar nas comunidades e nos concelhos que abarca, no sentido da aproximação”, explica Sílvia Pinto Ferreira.
O esforço por uma oferta diversa começa logo no espetáculo de abertura, agendado para o próximo dia 27 de maio. Barbecho, (ver imagem de destaque) que em português significa "pousio", é uma atuação de dança, que tem direção artística de Natxo Montero e que reflete sobre as dinâmicas da criação enquanto processo. “Um percurso de movimentos e coreografias em que afloram diferentes questionamentos ao redor da peça e como se posicionam os criadores em relação a esta. O estado de pousio possibilita-nos deixar a pressa, as obrigações, oferecendo-nos o mero feito de estar e de esperar que se passe algo ou não”, segundo a sinopse divulgada pela organização do Festival Y.
O espetáculo - que vai ser apresentado no auditório do Teatro das Beiras, na Covilhã - está integrado na parceria internacional “Do Outro Lado/Al Otro Lado”, estabelecida entre a Quarta Parede e a La Fundición (Bilbao), que promove o intercâmbio de artistas bascos e portugueses.
Este ano, há, entre outras novidades, residências artísticas, que têm como intuito reforçar a presença de artistas na região, para lá da presença “efémera” das atuações. “As residências permitem uma outra ocupação do projeto e também uma outra relação com o público”, diz Sílvia Pinto Ferreira.
Neste âmbito, a responsável destaca a apresentação da performance Transient Boundaries, de Frederico Dinis, nos dias 12 e 16 de julho, na mesma cidade, que será o resultado de uma residência artística. O projeto “tem esta particularidade de ser uma pesquisa na área dos novos media, sobre uma matéria que, para nós é particularmente importante, que são os lanifícios, e a indústria têxtil, que no concelho da Covilhã têm uma grande relevância”, explica.
Além destas atuações, o cartaz inclui ainda peças como Antiprincesas – Clarice Lispector, de Cláudia Gaiolas, Morrer no Teatro, de Alex Cassal, ou Filhos do Mal, de Hotel Europa. As duas últimas estarão em cena no Cine Teatro Avenida, em Castelo Branco, a 9 de junho e 5 de agosto, respetivamente.
Na sua origem, o Festival Y foi lançado “com propostas artísticas com linguagens muito emergentes e que vinham, de alguma forma, criar alguma disrupção com as práticas artísticas que existiam”, o que acabou por ser “uma afirmação”, diz Sílvia Pinto Ferreira ao Gerador. “Ao longo do tempo, sem fazer qualquer concessão em relação às linguagens que persegue e àquilo que quer propor aos públicos de diferenciador, temos, também, tentado compreender que segmentos de público é que temos, como é que podemos ir ao seu encontro e como é que também podemos responder a necessidades do território, em termos de desenvolvimento artístico”, frisa a responsável que, tem ainda a seu cargo a mediação de públicos do evento.
É neste sentido que surge um outro destaque da edição deste ano: um concerto que junta as Adufeiras da Casa do Povo do Paul e o músico Defski no auditório do Teatro das Beiras, na Covilhã, no dia 15 de julho. Este trabalho tem por base a tradição oral da Cova da Beira, e incide sobre novas interpretações de contextos sonoros daquela região. Sendo concretizado através de co-criação, a obra surge de ações que têm vindo a ser desenvolvidas pela Quarta Parede, que pretende deixar “marcas” na região, e contribuir “para a renovação das estruturas artísticas que já existem, tenham elas um trabalho com linguagens mais contemporâneas ou, como é o caso das adufeiras, mais ligado à memória”, explica a assistente de direção artística.
Ainda na vertente de intervenção social e comunitária é promovida a iniciativa Y Públicos. O projeto, que já vai na quarta edição, pretende fomentar a participação do público “potencial”, através de ações de mediação e formação artística.
A ideia passa por pensar que “para além daquele público que nós consideramos que é um público regular - um público que está mais ou menos em permanência connosco, que são jovens e os adultos - pensamos que, nas características da população, há aqui públicos potenciais e que, sendo trabalhados, podem também ser públicos mais presentes”, diz Sílvia Ferreira Pinto. “Neste caso são as crianças que estão ainda em formação e que se irão transformar em potenciais espectadores”.
Além disso, há ainda as pessoas que pertencem a uma faixa etária superior, a que o projeto tenta apelar, através do laboratório de artes performativas senior. “São populações muito envelhecidas que nós temos aqui nestes concelhos e, de repente são um grupo potencial e que achamos que é muito importante trabalhar”, para que “não estranhem estas linguagens que nós aqui propomos e que são muito diferentes daquilo que eles vinham a consumir em cultura”, afirma a responsável.
A proposta passa, assim, por sessões semanais que se iniciam por práticas de formação e pesquisa que depois culminam na apresentação de um espetáculo. “Este ano ainda não conseguimos começar a desenvolver o laboratório, vamos começar agora em junho. Todo o trabalho de pesquisa está muito atrasado, porque - lá está - estes projetos com a comunidade, de criação artística, são desenvolvidos em continuidade e com muito tempo, para que seja um trabalho que prime pela qualidade e também para que as pessoas desfrutem muito, sem pressões”, explica.
O Festival Y é organizado pela Quarta Parede e tem um orçamento de 90 mil euros, oriundos da Direção-Geral das Artes e da Câmara Municipal da Covilhã. O evento tem ainda o apoio da Fundação Inatel e da ADC - Águas da Covilhã, além das autarquias da Covilhã e Castelo Branco.