O Teatro Nacional D. Maria II vai ser intervencionado. As obras de requalificação terão um valor estimado de 9,8 milhões de euros e vão decorrer ao longo do ano de 2023. Durante este período de encerramento ao público a programação irá percorrer o país, conforme anunciado ontem, em conferência de imprensa.
As obras serão realizadas no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e do “investimento destinado à valorização, salvaguarda e dinamização do património cultural”. Segundo Cláudia Belchior, presidente do conselho de administração do Teatro Nacional D. Maria II, durante o próximo ano será lançado o concurso público e o teatro será esvaziado, para iniciar as obras em 2023. A previsão é que a reabertura aconteça no início de 2024.
Durante o período de intervenção, todo o material e espólio do Teatro será guardado em armazéns. Já a programação irá percorrer todo o território nacional, de Norte a Sul, com passagem pelas regiões autónomas da Madeira e dos Açores. A temporada irá, assim, “englobar uma programação verdadeiramente descentralizada, abrangendo vários pontos do país e dando especial atenção a zonas onde a oferta cultural não é tão regular, com o objetivo de contribuir para a correção de assimetrias regionais”, conforme anunciado.
“Esta programação fora de portas incluirá referências clássicas do repertório dramático nacional e universal, bem como espetáculos de natureza mais experimental, espetáculos internacionais, peças para famílias e público escolar, bem como ações de formação, projetos de mediação de públicos”, entre outros. Esta itinerância pelo país contará com o apoio da Direção-Geral das Artes e Ministério da Cultura. Paralelamente, serão mantidos os projetos de abrangência nacional que, à data, o Teatro já desenvolve, “como a Rede Eunice Ageas, projeto de circulação nacional de espetáculos que conta com o apoio do Grupo Ageas Portugal, e o Próxima Cena, projeto de difusão de espetáculos em zonas de baixa densidade populacional, que tem como Mecenas o BPI e a Fundação ”la Caixa”.
O projeto está a cargo do arquiteto Francisco Pólvora, da BJF Arquitectos, gabinete de arquitetura responsável pelo desenho e desenvolvimento do projeto, que está há dois anos a trabalhar com uma vasta equipa de mais de 15 especialidades. Os traços originais do edifício serão mantidos, mas estão planeadas grandes inovações, que passam por centralizar num único espaço vários serviços dispersos pelo teatro. Esta área é a antiga sala de cenografia, localizada por cima da sala principal, a sala Garrett, que, devido ao elevado pé direito, terá uma mezzanine (com escadas laterais de acesso), onde vão estar quase todas as estruturas do teatro, e um jardim de inverno. Será, então, criada uma zona de trabalho à volta do novo jardim de inverno, que será forrado a pedra lioz, “como se a fachada do edifício entrasse no jardim”, explicou o arquiteto, durante a sessão.
A zona da sala de costura vai ser completamente aberta e terá lanternins, que farão a iluminação e ventilação do espaço, sendo visíveis do exterior, a partir do largo da Igreja de São Domingos. A abertura de janelas é, de resto, uma das apostas deste projeto que pretende trazer ao teatro não só mais luz natural e ventilação, como transparência. Essa intenção está patente, por exemplo, na ideia de transformar as “zonas de arrumação” de adereços e figurinos, existentes nos caminhos de acesso à antiga sala de cenografia, em “vitrinas expositórias”, para serem visíveis por quem passa pelo teatro.
Além do sistema de iluminação cénica e de som, vão também ser intervencionados os sistemas de climatização, nomeadamente para melhor conservar o espólio guardado no arquivo e na biblioteca.
Um protocolo assinado com a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa permitiu fazer um rastreamento a laser e um levantamento cromático da sala e de outros espaços do teatro, com o objetivo de valorizar os elementos decorativos, designadamente na Sala Garrett. A livraria vai passar a integrar a bilheteira e será criado um módulo em madeira que vai forrar as paredes e o teto, permitindo assim arrumar e manter mais acessível maior quantidade de ‘stock’.
Francisco Pólvora destacou ainda a recuperação que será feita da fachada do edifício e uma nova intervenção na iluminação com vista a uma maior eficiência energética.