São várias as iniciativas promovidas pela Agência Nacional Erasmus +, no âmbito da educação e formação, contribuindo para implementar uma Europa do Conhecimento. A “Rede de Modelos Inspiradores” que surge na sequência da Declaração de Paris e adotada em março de 2015 pela União Europeia, é um projeto que se destina a promover a inclusão social, a prevenir a exclusão e a radicalização, incentivar a cidadania ativa e criar um compromisso com os valores europeus. A implementação desta iniciativa implica a envolvência de cidadãos, que, de alguma forma, se destaquem nas respetivas comunidades e que possam servir como inspiração dentro dos objetivos escolhidos para o projeto.
Na autarquia de Valongo, a dimensão explorada no âmbito do projeto foi o envelhecimento ativo, e como o mesmo poderá auxiliar a população idosa a viver em plenitude. Assim, a Câmara Municipal de Valongo, com o projeto “Acreditamos em Seniores Ativos” (ASA), decidiu integrar a Rede de Modelos Inspiradores e elegeu José Manuel Cunha, como modelo inspirador. O ASA, surgiu em 2010 e é destinado a residentes do concelho de Valongo, portadores do cartão sénior municipal. Segundo o site da Câmara Municipal de Valongo, o projeto “pretende promover o convívio da população; contrariar possíveis níveis de baixa autoestima; desenvolver o sentido de cidadania ativa; apoiar as instituições de acolhimento sénior no desenvolvimento de atividades de ocupação dos tempos livres; alertar para a necessidade de um maior envolvimento das famílias e melhorar/preservar a saúde e a qualidade de vida em geral”.
Para além disto, e como afirma Manuela Duarte, vereadora da Ação Social, Igualdade e Habitação, e responsável pela integração do município na Rede de Modelos Inspiradores, o projeto “surge devido ao isolamento dos idosos e pela necessidade de os colocar a comunicarem uns com os outros”, e também devido ao facto de o concelho de Valongo estar a tentar mudar a sua imagem, sendo que “o projeto ASA, através dos idosos, contribui para transformar o próprio conceito de Valongo”. Assim trabalha-se com diferentes disciplinas, em que os diferentes técnicos atuam em cinco freguesias do concelho, diferentes na essência e também nas pessoas, daí que o ASA surja também, como confirma Manuela Duarte, “com essa ideia de que os próprios idosos possam ajudar-nos a transformar o conceito de Valongo”.
O projeto ASA tem crescido a um ritmo impressionante e também tem contribuído de forma positiva para os seus utentes. Como revela a vereadora da Ação Social, Igualdade e Habitação, que está “neste projeto há quatro anos, quando integrou a autarquia, estavam inscritos 120 seniores, sendo que, atualmente, já contam com 840 inscritos”. Durante estes quatro anos assistiu de perto ao crescimento do ASA, tendo observado que “as atividades que são promovidas trazem felicidade aos seniores e não só, têm muitas pessoas que deixaram de tomar alguma medicação devido a frequentarem certas atividades e isso demonstra um impacto positivo também na saúde deles”.
No âmbito da integração na Rede de Modelos Inspiradores, a iniciativa foi divulgada pelos técnicos que trabalham no ASA e, segundo a responsável pela integração do município na mesma rede, “pretendia destacar seniores que se evidenciassem no meio de tantos outros, e que criassem situações novas e inspiradoras no seio do ASA”. Para concretizar este objetivo, destacaram José Manuel Cunha, sénior ativo e integrante do projeto ASA, considerado por Manuela Duarte como uma “pessoa líder”, alguém que “transmite o que pode estar a correr mal, até porque os outros seniores confiam nele”, e que, “por outro lado, traz muitas ideias para a autarquia. Ele é exatamente a pessoa que forma um elo de ligação entre os seniores e a autarquia”.
Ainda acerca deste projeto em prol do envelhecimento ativo no concelho de Valongo, a vereadora da Ação Social, Igualdade e Habitação defende que “é muito positivo tudo aquilo que se tem feito no ASA em favor da própria saúde física e mental”, e que a autarquia irá continuar a apostar “na saúde mental dos seus seniores, tendo já em mente um projeto que se dedicará a idosos que já não estão ativos, de forma a levar a casa de cada um a saúde, a fisioterapia, e tudo aquilo que o sénior necessitar, incluindo algumas atividades promovidas pelo ASA”.
Num concelho envelhecido como Valongo, continua a ser muito importante a aposta em atividades que promovam diariamente o envelhecimento ativo, e Manuela Duarte acredita que “Valongo vai ser um concelho com muita resposta para os seniores” e que existirá sempre “uma articulação da ação social com o programa ASA”.
“Acima de tudo há um gosto especial por esta aprendizagem, devido também ao convívio que temos aqui”, José Manuel Cunha
No âmbito da promoção do envelhecimento ativo, o concelho de Valongo, na pessoa da vereadora da Ação Social, Igualdade e Habitação, decidiu eleger como modelo inspirador alguém que frequentasse a academia sénior e estivesse também ligado ao projeto ASA, sendo também um promotor de ideias para a autarquia. Entre a comunidade do projeto ASA, elegeu-se José Manuel Monteiro da Cunha, uma “pessoa líder” como o descreve Manuela Duarte, com 67 anos e residente de Valongo.
Devido a um problema de saúde, reformou-se antecipadamente, porém a sua experiência de vida é reveladora de proatividade. Viveu praticamente toda a sua infância no Brasil, e, mais tarde, regressou a Portugal onde começou por trabalhar no Diário do Norte, um jornal da cidade do Porto. Depois foi convidado para trabalhar na discográfica Valentim de Carvalho, onde permaneceu durante 17 anos o que lhe possibilitou conhecer muitos artistas musicais do nosso país.
Para além do jornalismo e da música, José Manuel Cunha conta que “foi guarda-redes de futebol” e, mais tarde, permaneceu no desporto como “treinador desde os 33 até aos 62 anos”. Agora, já reformado, quis manter-se ativo, e conseguiu-o depois de integrar a academia sénior e o projeto ASA. No início, ficou admirado com o facto de existirem pessoas mais velhas, que encaravam as atividades com naturalidade: “dentro das suas possibilidades participavam em várias atividades”, encarando as mesmas como se fossem jovens”.
Enquanto aluno da academia sénior de Valongo, José integra diversas atividades, tais como “karaté, ginástica, teatro, expressão musical, danças de salão, informática e inglês” e considera que “estas atividades são muito importantes para manter o corpo ativo e capaz de ter autonomia por mais tempo”, sendo que também é fundamental para “a consciência e o pensamento, uma vez que se sente que ninguém está só, porque existe uma família muito grande pronta a ajudar em tudo”.
No âmbito da Rede de Modelos Inspiradores promovida pelo programa Erasmus +, José Manuel Cunha foi convidado para representar o ASA e o município de Valongo neste projeto. Como tal promoveu diversas atividades associadas a diferentes áreas do quotidiano e ligadas à Rede de Modelos Inspiradores e ao envelhecimento ativo. Na área do desporto, realizaram “uma caminhada aberta à comunidade com um convívio, uma apresentação de danças de salão com música do cancioneiro da academia”, organizaram “uma exposição de pintura e artes decorativas, com inclusão de um espetáculo de dança e música”, um encontro de teatro e ainda duas festas temáticas, a Festa da Primavera e a Festa da Alegria, tudo isto no sentido de se providenciar o envelhecimento ativo dentro da comunidade valonguense.
Com todas estas atividades ligadas ao envelhecimento ativo e no âmbito da Rede de Modelos Inspiradores, José Manuel Cunha acredita que é assim que “as pessoas se aproximam de nós, perguntam como tudo isto funciona e ficam a conhecer a academia sénior”, e isso do ponto de vista do modelo inspirador valonguense, “é o mais valioso que tem o ASA, porque quem já aprendeu antes, relembra, e quem nunca aprendeu, aprende”.
No futuro, para além de a autarquia acreditar que existirá muita resposta para os seniores, na opinião dos mesmos e de José Manuel Cunha, também é importante que continuem a ter a capacidade para se dedicar de corpo e alma a todas as atividades, e que, enquanto academia, continuem a organizar eventos no âmbito da promoção do envelhecimento ativo, que é uma mais-valia para os valonguenses.
