fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Maria João Martins: “Algumas pessoas dizem que antigamente é que o jornalismo era livre — não estavam lá, pois não?”

Sentada numa cadeira na esplanada da Cinemateca, Maria João Martins já aguardava a entrevista. Esperava-nos…

Texto de Carolina Franco

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Sentada numa cadeira na esplanada da Cinemateca, Maria João Martins já aguardava a entrevista. Esperava-nos enquanto bebia a sua água tónica, de lábios pintados e óculos redondos. Podia ser uma personagem de um filme do Almodóvar. É uma “chica Almodóvar” da vida real. Não esconde as fragilidades, mas encara os problemas olhos nos olhos. Sabe bem o que quer, e não esquece de onde vem. Não é por acaso que “La Flor de Mi Secreto” é o seu filme favorito entre todos os que podia eleger de Pedro Almodóvar: é uma mulher decidida, eternamente enamorada pela escrita, que não consegue viver sem o encanto das palavras. As imagens eternizam as memórias, as palavras dão-lhe algum sentido. 

Maria João é uma filha da liberdade. Recorda, até hoje, o dia em que ouviu os tiros do Carmo, numa varanda da casa em que a sua avó morava na Rua dos Fanqueiros. Crescer em Lisboa foi, para si, ter uma noção histórica e política sem que precisasse de se esforçar. A História entrou-lhe pela janela — é a própria que o diz. Achava que ia ser professora, mas acabou a ser jornalista. Começou a trabalhar na redação do Diário de Lisboa no tempo em que uma nuvem de fumo pairava no ar e maior parte das pessoas na redação eram homens. Já deu aulas de Introdução ao Pensamento Contemporâneo, vai dando cursos sobre moda, já teve um programa na RDP. Escreveu a biografia de Margarida Marante e tem passado a vida a conhecer pessoas interessantes. Fez a última entrevista a Al Berto, emocionou-se com Rogério Samora, ficou amiga de São José Lapa. Escreveu algumas das entrevistas mais notáveis no jornalismo cultural, em Portugal. Reencontrou o entusiasmo pelo jornalismo no Diário de Notícias. Escreve sobre a cidade que a viu fazer-se jornalista n'A Mensagem.

Tem, desde que se lembra de ser gente, uma curiosidade muito grande e uma atenção ao mundo à sua volta. A Maria João de cabelos negros e longos não é a mesma Maria João de cabelo curto e batom vermelho, a vida mudou-a. Mas o essencial está lá — garante-nos que o que há de essencial em nós fica connosco até morrermos. É uma mulher livre, que diz o que tem para dizer. Garante que o melhor que a idade traz é a lata e a confiança. Num início de tarde de inverno, Maria João Martins viaja ao passado com o Gerador.  

Gerador (G.) - Trouxe este livro da Marguerite Duras (Outside) porque tem uma série de entrevistas com crianças que me lembram o que disse numa entrevista, uma vez: “as crianças são as figurantes da grande História”.   Que criança foi a Maria João?
Maria João Martins (M.J.M.) - Há dias aconteceu-me uma coisa engraçada. Fui fazer uma reportagem para o Diário de Notícias com crianças refugiadas que estão em Portugal e que vieram gravar um disco com músicos portugueses para fins humanitários. Entre essas crianças houve uma que me emocionou muito: olhando de relance, era igual a mim com a mesma idade. Era uma menina de cabelos compridos e sempre muito concentrada. Eu era uma criança especialmente atenta, muito atenta aos acontecimentos. Em minha casa houve sempre muitos jornais, embora a minha família não tivesse nada a ver com essa atividade, sou filha de um operário e de uma mãe doméstica, como era costume nessa época. Mas quando a minha mãe me queria pôr sossegada para fazer alguma coisa em casa, sentava-me numa cadeira com um saco cheio de jornais e revistas, porque eram os únicos brinquedos com que eu estava quieta durante muito tempo. As minhas memórias são de pedir à minha mãe para me trazer uma revista quando ia às compras, e de uma infância passada na Rua dos Fanqueiros, na baixa de Lisboa, na casa da onde trabalhava e vivia a minha avó. A 25 de abril de 1974 uma criança de 6 anos, que era eu, estava nessa casa, no coração dos acontecimentos. Tenho uma memória muito precisa, porque são momentos que nos marcam, e lembro-me desse dia como não me lembro do dia de ontem. Lembro-me de olhar para o fundo da Rua dos Fanqueiros e de ver os tanques a não deixarem que os carros passassem, de ouvir os tiros do Carmo — que hoje sabemos que foi a PIDE a disparar sobre a multidão —, e acho que nesse dia e nos meses a seguir, que foram de uma grande convulsão, nasceu uma jornalista. Estarmos no centro de onde está a acontecer a História é uma coisa que nos marca profundamente. Eu fui para a escola em outubro de 74 e não se falava de outra coisa que não de política, começaram a chegar os meninos de África, e lembro-me que nas nossas brincadeiras de roda não cantávamos as canções que se cantavam antes, era o Grândola [Vila Morena]. Tive a felicidade de me entrar a História pela janela de casa adentro. Todos aqueles meses do PREC, depois o 25 de novembro, que foi um bocadinho assustador, as histórias arrepiantes dos meninos que vinham de África a fugir com a roupa que tinham no corpo… tudo isso foi muito marcante. E eu fui essa criança. 

G. - Lembra-se de se sentir incompreendida, alguma vez? Imagino-a a ser uma criança com muito para dizer.
M.J.M. - E dizia! Acho que nunca me senti incompreendida, lembro-me de sentir, sim, que queria crescer depressa. Lembro-me de um dia em que estava em casa da minha avó e pensei “nunca mais sou adulta para poder fazer as coisas que quero fazer”. Mas a sensação de ser incompreendida, acho que não.

G. - Depois começou a trabalhar muito jovem, com apenas 20 anos, no Diário de Lisboa. Havia alguns medos, nessa altura? Ou o entusiasmo era tão grande que não dava espaço ao medo?
M.J.M. - Havia um bocadinho das duas coisas. Eu achava que ia ser professora de História, só que sempre escrevi, enviava textos para jornais. Quando fui para o Diário de Lisboa, estava a meio do curso de História e disseram-me para lá ir tratar de assuntos do meu interesse — nunca me hei-de esquecer da carta que recebi. Quando lá fui e entrei na redação, percebi que era aquilo que queria fazer. Era daquilo que queria fazer parte. Tinha alguns medos, porque ao contrário do que parece hoje, eu era muito tímida, era um jornal com tanta História, e aqueles jornalistas eram nomes tão grandes que me lembro de ler os textos deles nos manuais de português, na escola. 

G. - E, de repente, eram os seus colegas de redação.
M.J.M. - E isso era muito impressionante, era uma geração que tinha lidado com a censura. Mas também era um meio muito machista. 

G. - Lembro-me de ver uma fotografia sua sentada numa mesa em que era a única mulher.
M.J.M. - Essa fotografia foi na entrega de um prémio e quem está nessa mesa é o Joaquim Letria, o Joaquim Furtado, o Fernando Farinha, que era fotógrafo do Diário de Notícias, e o Adelino Gomes. A minha geração, que tem agora 50 anos, foi a primeira que viu mulheres a chegar em massa às redações e era um meio cheio de tiques de machismo. O Diário de Lisboa era um jornal em que estavam muito habituados ao “quero, posso e mando”, era um meio muito boémio — não se saía da redação para casa, fazia-se todo aquele circuito de bares do Bairro Alto —, bebia-se muitíssimo, mesmo na redação, e havia uma linguagem mesmo para chocar. O problema era com aquelas que davam a parte fraca e começavam a chorar, estavam tramadas com eles. O truque era fazer de conta que não se passava nada. Eu nunca senti isso propriamente na pele, mas também existia algum assédio. Foi uma geração que teve de lidar com isso. 

Maria João Martins em 1974, em Lisboa

G. - E conseguia escrever sobre o que queria?
M.J.M. - Como estava na Cultura e Espetáculos, de algum modo não me sentia muito pressionada. Encomendavam-me trabalhos, mas eu também tinha a capacidade de propor as minhas coisas. Não houve esse problema. 

G. - Portanto nunca sentiu que estava a cobrir determinados assuntos só por ser mulher?
M.J.M. - Não sentia isso na redação do Diário de Lisboa, até porque era um jornal diário e precisava de despachar trabalho. O ritmo que gosto é o de jornal diário, acho que a adrenalina de ter que ser tudo muito rápido faz-me falta… e fez-me falta durante 20 anos que estive no JL (Jornal de Letras).

G. - O que é que representou a entrada no JL?
M.J.M. - No JL eu não tinha essa liberdade de escrever o que quisesse. Em novembro de 90, o Diário de Lisboa fechou e eu fui primeiro para o Se7e, onde estive um ano a escrever só sobre cinema — o que era muito limitado para mim—, e depois fui para o JL que pertencia ao mesmo grupo, para ampliar os assuntos sobre os quais falava. No JL estive 20 anos, um bocadinho por cobardia de ir à procura de outras oportunidades, embora tivesse feito sempre outras coisas. Ainda por cima, a certa altura fui fazer uma coisa terrível que era um suplemento de educação inenarrável (ser despachada às vezes tem os seus contras), durante 15 anos, porque o jornal precisava que eu o fizesse. O que tive de bom foi o contacto impagável com os melhores escritores portugueses, os melhores atores portugueses, os grandes cenógrafos, os grandes realizadores. O Manoel de Oliveira, o Fernando Lopes, o Saramago…

G. - O Al Berto.
M.J.M. - O Al Berto, que fiz com o Ricardo Araújo Pereira, jovem estagiário. 

G. - Descobri essa entrevista no livro da Golgona Anghel, “Eis-me Acordado Muito Tempo Depois de Mim”. Quando a li tive contacto com um Al Berto que ainda não conhecia.
M.J.M. - O Al Berto morreu dois meses depois, e eu lembro-me de ficar muito chocada porque ele estava doente, com efeitos da quimioterapia, mas falava tanto de projetos, do que queria fazer... e de repente aqueles projetos já não iam acontecer. Como o Al Berto, entrevistei o José Mattoso, a Alexandra Lencastre, a São José Lapa… tudo isso foi o grande privilégio que o JL me deu. 

G. - Entrevistou também a Maria Leonor Machado de Sousa. Figuras incontornáveis da cultura portuguesa. 
M.J.M. - Completamente, algumas das quais tive o privilégio de ficar amiga. 

G. - Como é que é isso de se ficar amigo?
M.J.M. - O espaço de entrevista, e muitas vezes no JL fazíamos perfil, faz com que a pessoa esteja durante algumas horas com a outra em grandes confidências, às vezes. E isso muitas vezes cria um laço. Por exemplo, ainda hoje passa um filme dele na Cinemateca: uma entrevista que me marcou profundamente, e ficámos muito amigos até à morte dele, foi com o Rogério Samora. O Rogério, que era um extraordinário ator, não parecendo, era uma pessoa muito insegura. E eu lembro-me de achar que ele até era um bocado arrogante e quando eu lhe telefonei, ele disse: “O JL quer falar comigo? Eu sou só um ator de telenovelas”. E não era. Isso cria cumplicidades, e é fantástico. A São José Lapa é outra pessoa de quem fiquei muito amiga, assim como a Julieta Monginho. É o melhor que o JL me deu. Mas agora redescobri a grande paixão pelo jornalismo no Diário de Notícias. Para mim, a História tem muito valor e a sensação que tenho, mesmo que nada seja o que era e que já não esteja naquele edifício magnífico, cada vez que chego a um sítio e digo que sou jornalista do Diário de Notícias, é de que há ali 160 anos de vida naquela frase. E grandes nomes que passaram por aquele jornal e o fizeram. 

G. - Ao mesmo tempo, está a fazer parte dessa História. 
M.J.M. - Exatamente, e isso é muito importante e é algo que eu não tinha desde o Diário de Lisboa. Um momento que foi muito importante para mim, quando era uma jovenzinha de 20 anos, foi uma ida ao arquivo para buscar fotografias. O arquivo ficava no sótão do edifício, no Bairro Alto, e estava lá um senhor que me diz assim: “a menina sabe quem é que chegou a dormir neste quarto?”, e eu “não, não faço ideia”. Ele responde “o Fernando Pessoa”. Porque o Fernando Pessoa, a certa altura, não tinha dinheiro e o Joaquim Manso, que era o diretor do jornal, deixou-o dormir aqui durante uns meses. E isso, para mim, pesa muito. O Diário de Notícias traz-me essa sensação dos 160 anos de História. Agora está nas Torres de Lisboa, num escritório impessoal, mas quando se vai lá ao arquivo está a estátua do ardina, a estátua do fundador, e isso para mim é importante: o peso histórico da instituição.

G. - Fala-se muito da ausência de troca intergeracional e, consequentemente, da perda de memória. Estão a ser despedidas pessoas mais velhas, há pessoas mais novas a entrar, mas não trocam conhecimentos entre si. A pandemia também veio agravar isso, ao acabar por uns tempos com a vida de redação. 
M.J.M. - O espírito de redação, no seu pleno, que já há cada vez menos, é a melhor coisa. Precisamente porque há essa troca, às vezes um bocado parva e histérica, mas que é fundamental. Para mim, foi fundamental a passagem do testemunho dos jornalistas de outras gerações. Eram muito cultos, vividos, tinham contornado a censura, alguns tinham sido presos pela PIDE, e escreviam lindamente. Eu gostava que vocês tivessem isso também, mas é cada vez mais difícil. 

G. - Numa entrevista também há uma certa passagem de testemunho. Na secção de cultura, parece cada vez mais difícil percebermos quando é que estamos a escrever para nós, para as pessoas sobre quem estamos a escrever e quando é que rompe essa bolha e se chega a pessoas que não tinham qualquer ligação com o assunto. Quando entrevista alguém, para onde é que costuma olhar? O que é que é procura?
M.J.M. - Depende da disponibilidade da pessoa, há pessoas que são distantes — seja por cálculo ou porque são mesmo assim. Temos de ter a sensibilidade para perceber o que é que nos vão dar ou não. No JL eu podia fazer esse trabalho mais intimista, de algum modo, porque à partida entrevistávamos pessoas que o público do JL já sabia quem eram. Isso pode ser interessante porque temos de tentar perceber o que é que estas pessoas, que são conhecidas do público do JL, têm para dizer que esse público não saiba. Isso obrigava a aprofundar mais a conversa. No caso do Diário de Notícias, ou do Público, de um jornal generalista, de um canal de televisão ou uma rádio, acho que o foco é mais aquilo que a pessoa está a fazer, porque é o que é notícia. A partir do que a pessoa está a fazer, pode perceber-se quem é essa pessoa, mas são abordagens diferentes quando é para um jornal ou para uma revista especializados e quando é para um generalista, que é o que eu estou a fazer neste momento. 

G. - Mas mesmo num jornal generalista não existe o desafio de ir além de um filme ou um livro que seja lançado? 
M.J.M. -  Se os conselhos fossem bons, vendiam-se, não se davam, mas há dois segredos: trabalho de casa sempre muito bem feito, ler o mais possível sobre aquela pessoa e sobre aquele trabalho, porque quanto melhor preparados estamos, mais aprofundada pode ser a entrevista; e depois, ter a intuição muito desperta durante a conversa, porque graças a essa intuição percebe-se onde é que se pode ir mais fundo. A entrevista também é um trabalho de sedução mútua. 

G. - Sair à rua para um entrevista hoje é igual a sair à rua para uma entrevista há 20 ou 30 anos? 
M.J.M. - Está lá a técnica, mas há 20 ou 30 anos eu era muito menos ousada do que sou hoje. A idade também traz algumas coisas, entre elas a lata e a segurança. Se calhar há 30 anos ficava mais recatada.

G. - Alguma vez teve de se lembrar do entusiasmo que a Maria João de 20 anos tinha pela profissão?
M.J.M. - Se eu lhe disser que quando me despedi do JL o salto foi para o vazio, já não aguentava nem mais um bocadinho, durante anos e anos tinha de me lembrar todas as segundas-feiras porque é que estava ali... era sobretudo para pagar as contas. Os últimos anos foram complicados, e houve um momento em que a administração da empresa perguntou quem queria sair, e eu saí. Vinte anos a fazer a mesma coisa não é recomendável para ninguém. Foi aí que abri a livraria, uma loucura total, mas não me arrependo.

G. - Saltar entre meios de comunicação, escrever livros, criar relações entre as suas áreas de interesse, abrir uma livraria, foram sendo formas de se lembrar do que é que está aqui a fazer?
M.J.M.- Claro que sim. A livraria foi uma grande maluqueira, uma tentativa. Gostei muito, porque é outra forma de comunicação, e eu costumo dizer que na livraria percebi aquilo que não consegui perceber em 20 anos de JL a lidar com os livros. É a tal bolha: nós falamos de livros, recebemos livros das editoras, dirigimo-nos a um público que habitualmente lê livros. Numa livraria de porta aberta, num bairro como São Domingos de Benfica, a pessoa percebe qual é a relação real dos portugueses com o livro. É uma coisa que não se tem noção sentado num jornal ou numa editora. Fazia bem a muitas pessoas nas editoras trabalharem nas livrarias durante algum tempo para perceberem como é que é e, se calhar, perceberem que não tocam nos pontos certos. Uma conclusão a que cheguei muito depressa foi que as crianças até à idade de serem pré-adolescentes têm imensa atração pelos livros, havia uma escola primária no cimo da rua onde nós estávamos e os meninos ficavam sempre a olhar para os livros. 

A pergunta mais incrível que alguém já me fez foi feita por uma senhora muito modesta, que era nossa cliente, empregada de limpeza na casa que ficava por cima da livraria. Essa senhora era do interior, ainda tinha o seu sotaque, e todas as semanas, quando lá ia, perguntava se havia livros românticos. Ela confiava no meu critério e depois vinha dizer se tinha gostado ou não, e um dia ela entra na livraria e diz assim “boa tarde, a Anna Karenina costuma aparecer?”. Lá lhe arranjei a Anna Karenina em dois volumes. Há sítios por onde se pode pegar, e as editoras estão a fazer tudo mal.

G. - Porque se dirigem apenas a determinados leitores?
M.J.M. - Não, porque continuam a insistir cada vez mais nos livros de auto-ajuda, e as pessoas até compram, mas é porque passam disso para coisas muito elitistas e não fazem trabalho nenhum de promoção. Já tenho tido esta conversa com colegas jornalistas que falam sobre livros, que me dizem que parece que as editoras não querem vender, tem que se estar a puxar as informações. Há tanta coisa que se pode fazer. Trabalhem com as televisões, apostem nas redes sociais como deve ser. Qual é a editora que tem um Instagram como deve ser?

G. - Ou que tem e não se dirija a um público de nicho (?)
M.J.M. - Os públicos de nicho não precisam de saber que os livros saem pelas redes sociais.

G. - A Maria João já escreveu alguns livros, acredito que esse lado também traga um outro olhar. 
M.J.M. - Mas como autora nunca saía da bolha. Portugal é um país pequeno, toda a gente se conhece, e a bolha ainda é mais pequena. E eu acho que os autores e editores portugueses acham que são muito importantes porque não saem da bolha. Por exemplo, o Plano Nacional de Leitura funciona muito bem e os autores do infanto-juvenil têm essa real dimensão do que é o livro porque vão às escolas. A Alice Vieira tem corrido o país, contacta com o que pode o livro representar ou não, mas quem faz a promoção dos livros não faz este trabalho. O audiovisual, é completamente diferente — Portugal já percebeu, e está a fazer uma série de co-produções entre a RTP e a TVE, que estão a funcionar lindamente. Estão a ser promovidas em Espanha, o que significa um mercado muito maior, e só temos a ganhar com isso. 

G. - Em Espanha há muitas livrarias especializadas e muito mais traduções do que em Portugal.
M.J.M. - Tudo é traduzido para espanhol. Nós temos uma coisa terrível: os nossos acordos com o Brasil dizem que apesar de falarmos a mesma língua, as nossas editoras não podem vender livros do Brasil, e lá não podem vender livros de Portugal — a não ser ali na Livraria da Travessa. Isso em Espanha não se passa, as editoras espanholas podem vender aqueles livros em 26 países, alguns da dimensão do México. Esse voltar para Espanha seria muito importante. Espanha é o país mais próximo que temos cultural e historicamente, não é nossa inimiga, e abrir aquela porta (que não é fácil de abrir, mas que os audiovisuais estão a conseguir), é abrir um mercado imenso. O Saramago percebeu isso; eu gosto do Saramago por várias razões e essa é uma delas, ele percebeu a potencialidade da Jangada de Pedra. Mas percebo que cada vez que falo de Espanha no Facebook, são os posts que têm menos likes. [risos] 

G. - Escreveu a biografia da Margarida Marante, e conta diariamente histórias de pessoas. Como é que se estabelece os limites do privado, quando se conta a história de alguém? 
M.J.M. - É um bocadinho o nosso sentido de pudor, no caso da Margarida Marante. O meu limite foi perceber até onde é que estava a pisar o risco dos filhos ou não. Quando percebi que estava a pisar esse risco, recuei. Não estando a pessoa viva, temos que perceber a partir de que momento é que estamos a ser violentos. Não gostaria que mo fizessem a mim ou a alguém muito próximo. E acho que informação não é isso, não é violentar quem está connosco. Esses são os meus limites. 

G. - Algumas notícias falavam do livro como sendo polémico, mas percebi pelas declarações dos filhos que não foi assim para as pessoas mais próximas. Mas tanto a Margarida Marante, como Maria Antonia Palla e a Maria Elisa fizeram parte de um grupo que foi despedido de forma polémica da RTP — esse sim, consensualmente polémico. Estes eram tempos diferentes no jornalismo? Quais são os desafios de ser jornalista mulher, hoje? 
M.J.M. - Esse despedimento aconteceu por parte da direção de informação liderada pelo José Eduardo Moniz, no tempo do Cavaco, por considerarem que elas estavam a fazer “concorrência desleal” porque estavam a dirigir revistas femininas e eram da redação da RTP. Isto não tinha ponta por onde se lhe pegasse. No caso da Diana Andringa, que era diretora do Diário de Lisboa e que também fazia parte do grupo, é evidente que um jornal diário podia ser considerado concorrência da RTP... mas revistas femininas? Estavam na Máxima, na Marie Claire e na Elle e, na verdade, todas elas ganharam o processo e foram reintegradas, excepto a Margarida Marante porque não quis. Essa foi claramente uma situação de machismo.

G. - Acha que hoje seria diferente?
M.J.M. - Completamente. Temos várias mulheres diretoras: a Rosália Amorim no Diário de Notícias, a Mafalda Anjos na Visão, a Catarina Carvalho n'A Mensagem. E há muitas editoras, as redações estão cheias de mulheres, só há um último reduto que é a fotografia. 

G. - Faz diferença ser uma mulher a escrever uma história?
M.J.M. - Não sei. Poderíamos dizer que é mais sensível, mas não acho que seja por aí. Pode é haver uma outra sensibilidade relativamente a temas relacionados com desigualdades, que eram temas de que não se falava sequer no Diário de Lisboa dos anos 90. Eu trabalhei um ano no Se7e e adorei, mas não havia capa que não tivesse a chamada “gaja nua”, o que era impensável hoje. A escolha das capas e dos temas hoje é diferente, mesmo sendo jornais dirigidos por homens. Hoje, sabemos que são mais as mulheres que lêem do que os homens.

G. - Quando o #MeToo surgiu em Portugal houve várias mulheres jornalistas, como a Helena Ferro Gouveia, a contar histórias de machismo em contexto de trabalho.
M.J.M. - O facto de ter 54 anos também impõe algum respeito, as pessoas não fazem certos comentários. Não sei como é com as gerações mais novas, pode ser diferente. Mas por exemplo, no Facebook vejo homens que não acham normal uma mulher estar a comentar assuntos de política internacional e falam disso com um ar paternalista. O mesmo com uma mulher a falar sobre futebol, mesmo que haja cada vez mais mulheres a trabalhar em jornalismo desportivo.

G. - Falávamos em off sobre as formas de vestir na televisão e como isso tem mudado. Mas acha que existem códigos de beleza para se ser repórter ou pivô?
M.J.M. - Para quem aparece, continua a existir um código de beleza padronizado. Cada vez mais. Agora é a estética do Instagram

G. - Há uma lógica de rede social que passa para a televisão? O que é que se perde? Também vemos pivôs cada vez mais novos, e há quem acredite que para se chegar a esse lugar tem de se fazer um percurso como repórter. 
M.J.M.-  Eu acho que devia. Aquilo que acontece muito nos Estados Unidos, e que é uma tradição, é termos pessoas mais velhas no lugar de pivô, porque há aquela ideia de que são os que despertam um sentimento de credibilidade junto do público, e os repórteres são os mais novos. Essa não é uma ideia que me desagrade — e não tem que ter 60 anos. Mas a televisão tem uma lógica própria de aparências que me parece difícil de contornar, é muito diferente da imprensa ou da rádio. Para mulheres e para homens, que têm de estar de fato e gravata mesmo que esteja muito calor. Ontem reparei que estavam uma jornalista e uma comentadora a vestir verde e rosa, e não é habitual, há coisas que vão mudando. Onde há um avanço é que temos pivôs e repórteres negros, que há 10 anos não tínhamos, como é o caso do Cláudio França, da SIC.

G. - E que diferença faz ter redações mais diversas, afinal? Quando a Maria João entrou no Diário de Lisboa, a figura do jornalista era a de um homem branco de meia idade. As coisas têm vindo a mudar. Redações mais diversas trazem um jornalismo mais plural e democrático?
M.J.M. - Claro que sim. As pressões é que existirão sempre, mas sempre existiram. Algumas pessoas dizem que antigamente é que o jornalismo era livre — não estavam lá, pois não? Houve sempre pressões. Como era o tempo do Cavaco e do Sócrates, na área da política?!

G. - No tempo do Cavaco surgiram projetos na contra-esfera, como foi o caso do Independente.
M.J.M. - O Independente foi um dos projetos mais incríveis que houve na imprensa portuguesa. Estive quase a ir trabalhar para lá, arrependo-me de não ter ido. Por causa de um trabalho de arquivo que estou a fazer para o DN, estive a consultar os primeiros números e aquilo era extremamente ousado, para hoje. Aliás, houve um período de ouro da imprensa portuguesa, nos anos 80, até por resposta ao Cavaco — mas não só, é importante ter sentido histórico e perceber que quando o Cavaco chega ao poder, em 1985, a maior parte dos Órgãos de Comunicação Social eram todos do Estado, e é ele que vai criar as condições legislativas para que os jornais sejam reprivatizados. O único que não era do Estado, se não me engano, era o Diário de Lisboa, que era de uma família. Isso também tem importância. E essa época de ouro do jornalismo português, e da própria sociedade lisboeta e do Porto, chega quando começa a haver vida noturna. Surge o Independente, a revista K, as revistas femininas. O Independente cria de tal maneira um discurso próprio que se vê jornais como o Se7e, onde eu trabalhava, a tentar imitar, sem a mesma graça. O caderno 3 tinha grandes nomes da cultura e da reportagem, lançou grandes nomes da fotografia.

G. - Falando de jornais ou revistas mais especializados em cultura, o que é que está diferente hoje? Temos o Ípsilon, que acaba por ser a grande referência, a revista do Expresso. Acha que continuam a funcionar como lugares de validação de uma certa cultura?
M.J.M. - Não sei se tanto de validação, mas de divulgação, porque são os canais possíveis. No caso do Expresso e do Ípsilon, um bocadinho menos do JL mas também chega ao seu público, são os canais de chegar ao público que consome aquilo que por lá se divulga. Não é apenas responsabilidade minha, mas no DN começou a haver um bocadinho mais atenção à cultura, antes era um total deserto. Havia os livros pelo João Céu e Silva, sim, mas depois teatro, cinema, artes plásticas eram menos representadas. Há muito pouca coisa, precisava de haver muito mais, porque os jornais apesar de tudo vão fazendo o seu papel, só que o seu papel é limitado, porque sabemos que as pessoas compram cada vez menos jornais. Era importante que os canais de televisão tivessem outra atenção.

G. - Houve programas de televisão que foram importantíssimos para a cultura.
M.J.M. - Agora a televisão é quase a negação da cultura, mas há aquele programa da Ana Daniela Soares na RTP3, a Teresa Nicolau também faz um bom trabalho, vai havendo algumas coisas. Era importante que voltasse a haver uma coisa, que pode não se gostar do estilo mas era muito importante nos anos 90 e no início deste século, que era um Magazine Diário como o Carlos Pinto Coelho fazia. Ainda por cima depois passava em não sei quantas rádios locais, e esse papel de noticiário cultural era importante. A RTP tem que ter esse papel de serviço púbico, se não o fizesse seria o descalabro. Há uma grande parte do orçamento da cultura, que já é irrisório, que vai para a RTP, por isso não faz mais do que aquilo que tem de fazer. Os jornais fazem o que podem; podiam fazer muito mais, mas não estão ao alcance da televisão. 

G. - As revistas de moda foram, ao longo dos anos, sendo tanto um espaço de perpetuação dos papéis de género socialmente atribuídos às mulheres, como foram também o espaço para escritoras que os questionavam começarem a escrever - como Sylvia Plath ou Joan Didion. O que é que a inquieta, hoje, nas revistas de moda em Portugal?
M.J.M. - Inquieta-me que sejam muito poucas. A Máxima continua a fazer o seu papel sendo online, e eu colaboro com muito gosto, mas talvez por defeito de geração, para mim revistas de moda têm de ser em papel, para mexer, às vezes para guardar. E neste momento o panorama não é muito animador. A Elle desapareceu, a Vogue de vez em quando traz umas coisas engraçadas mas é cara e não se percebe muito bem para onde vai, e depois não há muito mais. Estamos numa zona um bocadinho cinzenta, comparando com outras alturas. Eu tenho aquele workshop anual sobre a História da Imprensa de Moda em Portugal e houve momentos muito bons, com revistas muito boas. Como, de algum modo, a censura e o regime achavam que as mulheres eram tontas, as revistas de moda passavam um bocado nos pingos da chuva, acabavam por conseguir passar algumas mensagens que os jornais diários, por exemplo, não conseguiam. E também foi, como diz, o sítio onde muitas mulheres puderam escrever, e grandes nomes se revelaram ali. Estou-me a lembrar, por exemplo, da Maria Lamas. A Marie Claire, dirigida pela Maria Elisa, era uma revista notável: tinha colaboração da Lídia Jorge, a Maria Isabel Barreno chegou a ser sub-diretora, o António Lobo Antunes também chegou a escrever para lá. A Moda Lisboa beneficiou da imprensa de moda que existia na altura em que surgiu. Grandes fotógrafos como o Daniel Blaufuks, ou até ilustradores, começam a trabalhar em moda, na Marie Claire. Há uma fase das revistas de moda que acaba por ser uma forja de criatividade que foi extremamente importante, e isso perdeu-se. 

G. - Falta um pensamento interseccional, quando pensamos numa publicação de moda? No sentido de ir além do óbvio.
M.J.M. - Tem que ir além. Neste momento tem que ir além do óbvio, porque se ficar pela moda tem a concorrência do Instagram. Nos perfis daquelas influencers com milhões de seguidores há só moda, e uma revista, se se quiser impor, tem de ir além. Aquilo que dizia a Diana Vreeland, naquele documentário absolutamente maravilhoso: "o olhar tem que viajar". Não é só a moda, mas também é a pintura, a escultura, as artes performativas, o cinema, a literatura. E os grandes criadores de moda sabem disso, é bom que o jornalismo de moda também se aperceba. 

G. - A Maria João nunca pensou em gerir uma publicação?
M.J.M. - Já sou suficientemente louca para ter uma livraria, publicação não [risos]. Envolve outros custos e a responsabilidade… eu gosto muito de ser muito livre. O regime de freelancer, no jornalismo, cai-me muito bem, mas também é porque não tenho filhos. 

G. - Às vezes há esta ideia de que o ponto alto da carreira de uma jornalista será a gerir um jornal ou uma revista.
M.J.M. - Para a maior parte, para mim não. Se calhar também já tive esse objetivo, a vida dá muitas voltas. Mas, neste momento da minha vida, por razões várias, a única coisa de que quero ter controlo é da minha própria vida. Mais nada. Porque isso proporciona-me uma liberdade que eu não vejo os meus colegas, que eu adoro, a terem. Não os vejo a serem felizes. Para se ser diretor e ser feliz, tem de se ser muito bem pago. Qualquer pessoa ganha mais do que um diretor de jornal ou de revista, portanto não vale a pena. Até porque a partir do momento em que se vai para a direção de um jornal ou de uma revista, nunca mais se vai para a rua fazer uma reportagem. E isso, não. 

G. - Porque é na rua que gosta de estar, a ouvir as pessoas.
M.J.M. - Continuo a ser aquela criança que estava sempre muito atenta. 

G. - Ao mesmo tempo, é importante aceitarmos que as nossas vontades ou que a forma como olhávamos para as coisas pode mudar?
M.J.M. - Muda completamente. A vida muda-nos, o que nos vai acontecendo muda-nos. E temos que aceitar isso. Se calhar o essencial fica, que é ser ou não atento, ter ou não empatia com os outros… se não se nasce assim, é muito difícil que se mude. Quando se tem essas características, é provável que se morra assim. 

Texto de Carolina Franco
Fotografias da cortesia de Maria João Martins

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

9 Junho 2025

Hugo Cruz: “A cultura e a arte dão um contributo muito importante para fortalecer as democracias”

29 Maio 2025

Maribel López: “Temos de tentar garantir que os artistas possam dar forma às suas ideias”

21 Abril 2025

Ricardo Paes Mamede: “As tecnologias digitais estão a causar alterações estruturais nas economias”

17 Fevereiro 2025

Nuno Costa: “Vamos excluir as pessoas que não têm conversas guiadas por factos?”

6 Janeiro 2025

Joana Meneses Fernandes: “Os projetos servem para desinquietar um bocadinho.”

11 Dezembro 2024

Maria Caetano Vilalobos: “Acho que nunca escrevi poesia que não tivesse uma parte biográfica”

16 Outubro 2024

O Teatro Académico de Gil Vicente vai aprofundar a ligação a Coimbra com programação de outono

9 Outubro 2024

O Festival Iminente vai afirmar-se como plataforma de criação este ano

12 Junho 2024

Haris Pašović: “Não acredito que a arte deva estar desligada da realidade”

10 Junho 2024

Matilde Travassos: “A intuição é a minha única verdade”

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

Shopping cart0
There are no products in the cart!
Continue shopping
0