fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Ana Catarina Correia

Ativismo e capacitismo: poderão andar de mãos dadas?

Há algum tempo que penso trazer-vos esta reflexão. Não será difícil aceitar que a mudança…

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Há algum tempo que penso trazer-vos esta reflexão. Não será difícil aceitar que a mudança social – seja de que natureza – deve estar acompanhada de ativismo e movimentos sociais. Temos, aliás, ao longo de toda a História humana, provas irrefutáveis deste casamento. Podemos até assumir, grosso modo, que o ativismo é o grande gatilho para a mudança social.

Quero falar-vos de uma ausência quase impercetível que continua a trazer dificuldades acrescidas, em particular, para as pessoas com deficiência.

Sabemos que existem várias minorias/grupos de pessoas marginalizados nas sociedades. Os exemplos mais conhecidos serão as comunidades negras e LGBTQI+. Para ambas, apesar das mudanças sociais estarem aquém do que seria desejável, conseguimos associar termos de identificação de opressão como racismo, homofobia, transfobia (ou no caso das mulheres misoginia, por exemplo), entre outros.

A História e a vida humana demonstram-nos que a linguagem é importante, que as palavras fazem a diferença (seja qual for o sentido em que as queiramos utilizar) e que devemos ser claros nas mensagens que pretendemos transmitir.

E eis a minha questão: onde caberá a realidade das pessoas com deficiência, falando concretamente do caso português?

A tradução mais consensual que existe do inglês sobre estes assuntos chama-se “capacitismo”. O capacitismo traduz-se em formas de opressão baseadas em características humanas não normativas e que se referem a diferentes capacidades e habilidades (de natureza intelectual, mental, auditiva, visual ou física).

O capacitismo existe vincado a um conjunto de crenças fixas sobre corpo perfeito, corpo normal e capacidades esperadas e vistas como humanamente desejáveis (como ver e ouvir, por exemplo). Portanto, todas e todos aquelas e aqueles que não satisfizerem estas expectativas entram numa espécie de caixa específica e não desejada... Onde cabem termos como “deficiente”, “incapaz” “aleijada/o”. Onde impera um desconforto e uma crença partilhada de que aquela vida é menos válida, não é tão relevante quanto as “não deficientes”. Onde se associa a existência a sofrimento, a dor, a desgraça, a dificuldade.

Estas crenças pouco maleáveis, como poderão compreender, em nada trazem vantagem à luta pela inclusão das pessoas com deficiência. E, inevitavelmente, as próprias pessoas com deficiência acabam por as interiorizar.

Como poderemos enquadrar o ativismo, tão necessário, sobre e contra o capacitismo? Na verdade, creio que este casamento está ainda numa fase muito prematura em Portugal. O ativismo na deficiência é ainda bem tímido e não consegue alcançar as “grandes massas”. Infelizmente, as portuguesas e portugueses com deficiência continuam tão arredados da vida pública e da vida em sociedade nas suas múltiplas dimensões, que lhes é impossível tomar esta consciência de opressão e de necessidade urgente de espírito coletivo.

Continuam ainda tão preocupadas em tentar satisfazer dimensões elementares do seu dia a dia (como ter rendimento, acesso a produtos de apoio, acesso à educação e emprego, entre tantos outros entraves a dimensões de justiça social) que seria insano, até, esperar que agucem, a curto prazo, a consciência crítica e o sentimento de identidade coletiva.

No entanto, acredito que apesar da demora compreensível, estamos e vamos traçar esse caminho. Temos hoje mais recursos do que os que alguma vez existiram (como as redes sociais, o acesso à informação, etc) e que têm sido grandes aliados...

É esta a esperança que me acalenta os dias (e a várias pessoas que conheço, na verdade) e me faz escrever este texto. Porque, acreditem, este casamento vai chegar. E precisamos muito dele!

-Sobre a Ana Catarina Correia-

Licenciada e mestre em Sociologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto com interesse particular na problemática da deficiência. Foi doutoranda na mesma escola e área disciplinar, num projeto de investigação que versa sobre as políticas para a deficiência em Portugal e na Europa e que dá enfoque à filosofia da Vida Independente e que ainda não foi finalizado.
Atualmente, é técnica no Centro de Apoio à Vida Independente Norte da Associação Centro de Vida Independente. Na mesma organização é dirigente e coordena a delegação do Porto. Colabora, ainda, com outras organizações representativas de pessoas com deficiência. É ainda atleta federada de Boccia pelo Sporting Clube de Espinho e membro da seleção nacional da modalidade desde 2016.
Grande motivação na vida: a crença de que a construção de sociedades justas e inclusivas depende de cada um de nós e que esse será um dos grandes sinais de desenvolvimento humano. E qual é uma das grandes bases para este desenvolvimento? A educação e uma consciência global de Direitos Humanos.

Texto de Ana Catarina Correia
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

29 Outubro 2025

Catarina e a beleza de criar desconforto

22 Outubro 2025

O que tem a imigração de tão extraordinário?

15 Outubro 2025

Proximidade e política

7 Outubro 2025

Fronteira

24 Setembro 2025

Partir

17 Setembro 2025

Quando a polícia bate à porta

10 Setembro 2025

No Gerador ainda acreditamos no poder do coletivo

3 Setembro 2025

Viver como se fosse música

27 Agosto 2025

A lição do Dino no Couraíso

13 Agosto 2025

As mãos que me levantam

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e Manutenção de Associações Culturais

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

27 outubro 2025

Inseminação caseira: engravidar fora do sistema

Perante as falhas do serviço público e os preços altos do privado, procuram-se alternativas. Com kits comprados pela Internet, a inseminação caseira é feita de forma improvisada e longe de qualquer vigilância médica. Redes sociais facilitam o encontro de dadores e tentantes, gerando um ambiente complexo, onde o risco convive com a boa vontade. Entidades de saúde alertam para o perigo de transmissão de doenças, lesões e até problemas legais de uma prática sem regulação.

29 SETEMBRO 2025

A Idade da incerteza: ser jovem é cada vez mais lidar com instabilidade futura

Ser jovem hoje é substancialmente diferente do que era há algumas décadas. O conceito de juventude não é estanque e está ligado à própria dinâmica social e cultural envolvente. Aspetos como a demografia, a geografia, a educação e o contexto familiar influenciam a vida atual e futura. Esta última tem vindo a ser cada vez mais condicionada pela crise da habitação e precariedade laboral, agravando as desigualdades, o que preocupa os especialistas.

Carrinho de compras0
There are no products in the cart!
Continuar na loja
0