Em Ilha, mais propriamente no Parque de Merendas da Ilha, no concelho de Pombal, acontece, desde 2016, um festival que se envolve na natureza, trazendo as suas gentes para dias e noites de aprendizagem, partilha, e muita diversão.
De pequenos eventos, a um festival de referência na cena de microfestivais em Portugal, a ARCUPS (Associação Recreativa, Cultural e de Promoção Social) é a entidade responsável por um festival que se estende a toda a família, mas que, acima de tudo, espelha o espírito festivo de um povo que sabe festejar e não deixa perder as suas tradições. Este ano, nos dias 22, 23 e 24 de julho, a par dos concertos, irão decorrer outras atividades como o MOV’ILHA (sessão de curtas-metragens), residências artísticas de desenho, crochê e puzzle box, uma Feira no Parque, alguns workshops sobre comida saudável, upcycling, modelação de vestuário e revelação de fotografia, conversas sobre viagens invulgares e sustentabilidade, miniconcertos, teatro, leitura de contos e lengalengas, stand-up comedy, torneio de xadrez, atividade de músicas do mundo, música para crianças, piquenique no domingo e ainda a arte do capacho, com as capacheiras da Ilha.
Em entrevista ao Gerador, Wilson Capitão, programador do festival conta como tudo surgiu, o que podemos esperar este ano, e o que faz deste um festival a não perder.
Gerador (G.) – Quem é a Ti’Milha?
Wilson Capitão (W. C.) – Todas as senhoras, a partir de uma certa idade, são ‘Ti’, sejam elas tias ou não. Particularmente, na nossa terra, as Emílias, são Ti’Milhas. Por isso, o nosso festival tem o nome de senhora.
G. – O festival nasce da ARCUPS (Associação Recreativa, Cultural e de Promoção Social), podes contar-nos um pouco como surgiu? Sempre foi vosso objetivo fazer um festival desta dimensão?
W. C. – A Associação existe há, mais ou menos, 32 anos, quem a fundou foram dois senhores da nossa terra, que há uns 11, 12 anos, decidiram que a missão deles já estava feita e então ficámos como responsáveis. Entretanto, foram-se juntando várias pessoas à associação para organizar pequenas atividades. Um dos primeiros eventos que começámos a organizar quando pegámos na Associação, tínhamos uns 20 anos, mais coisa menos coisa, e queríamos era festa, então começámos por organizar pequenas festas de verão em que tínhamos concertos, bandas mais underground a nível nacional, mais no estilo rock. O local era já este, onde atualmente organizamos o Ti’Milha, portanto sempre houve essa ambição de fazer algo neste local. Até que uma pessoa nos incentivou a dar o próximo passo, o de fazer um festival. No primeiro ano, o festival só teve dois dias, uma versão muito pequena do que é o Ti’Milha atualmente, mas tudo começou com estes pequenos concertos.
G. – E o que fez com que, desde 2016, este festival crescesse tanto?
W. C. – A primeira edição, como era só dois dias, não nos permitiu explorar tanto a tarde de sábado como agora exploramos e é um dos pontos onde nos focamos bastante. Apostamos nas tardes e finais de tarde, é isso que nos diferencia. Temos bastantes atividades e tentamos ser multiculturais, ou seja, ter várias artes representadas. A música, o teatro, a pintura, o desenho, a comédia, a arte mais artesanal, que acontece desde a primeira edição. Nesta última, são senhoras que fazem a arte do bracejo, os capachos, e o que nos diferencia e a nossa arte local, que fazemos questão de ter todos os anos. Inspirámo-nos em festivais como o Andanças em que não se focam só na música, mas nas atividades para toda a família. Este ano, por exemplo, uma das atividades que nos diferencia é a Puzzle Zone, em que o Amílcar (o criador) vai transformar o parque de merendas numa Scape Room gigante, por assim dizer, com vários desafios. Por isso, resumindo, temos várias coisas a acontecer ao mesmo tempo, das mais variadas áreas, e é isso que nos diferencia.


Fotografia de Fábio Silva
G. – Vocês assumem-se como um festival onde as gentes da Ilha se unem para mostrar ao resto do mundo toda a sua cultura e tradição. A arte do bracejo é o que ainda resta desta tradição e que vocês procuram, de certa forma, enaltecer?
W. C. – O que nós temos, na verdade, é uma cooperativa só de senhoras, que se juntaram para dar continuidade à arte do bracejo. Já todas têm bastante idade, acho que têm mais de 70 anos. São seis senhoras, supersimpáticas, incríveis, e queremos mostrar aquilo que são capazes de fazer, queremos tentar mostrar esse bichinho do artesanato às novas gerações, essa é uma das grandes missões. Há pessoas mais novas, sim, mas trabalham de forma esporádica, e obviamente que isto serve, não só para mostrar a nossa arte externamente e dar valor a esse grupo de senhoras, mas também para dentro, para promover dentro das camadas mais jovens. Não para que façam disto vida, porque, na verdade, é a profissão delas, mas que o saibam fazer, para que a arte não se perca. Para além disso, estas senhoras tinham e têm as suas próprias músicas, e isso já inclui o resto do povo, e elas continuam a cantar, elas próprias continuam a fazer promoção da nossa própria arte musical. No domingo à tarde, por exemplo, para além de fazerem esta arte estão a cantar as suas músicas, e é isso tudo que queremos mostrar.
G. – Para além da Puzzle Zone que já falaste, que residências pudemos encontrar no festival?
W. C. – Vamos ter croché! É muito engraçado porque é uma parceria com a Joana da Banana Fields, uma parceria que vem da última edição, em que ela fez alguns workshops de croché. Em 2020, organizámos vários workshops nos quais a Joana ensinava croché a quem quisesse e as pessoas iam fazer especificamente rosetas. Começou há dois anos e reativamos o workshop em fevereiro/março, com o objetivo de chegar às 1200 rosetas. O objetivo final seria fazer um manto, uma cobertura de rosetas que vai estar sobre a zona da restauração a fazer de sombra. Vai cobrir vários metros, e era esse o plano desde o início. Durante o festival, também vai haver um workshop de croché. Depois temos o Frrio, que é um rapaz que desenha e vem trazer uma atividade que temos vindo a fazer nas outras edições, que é o desenho em tempo real. Basicamente, o artista estará a desenhar o que acontece no próprio festival, em vez de tirar fotografias, uma espécie de Urban Scketchers. Temos ainda a pintura que é com a Gabriela Coughlan. Ela faz pinturas geralmente abstratas, e para o nosso festival traz um novo conceito, que estou muito curioso para ver. Serão quadros de grandes dimensões, pintados antes do festival, e que estarão numa instalação que tentamos manter sempre até ao final do verão no parque de merendas. No dela, será uma coleção de pinturas que estarão no lago.
Para além das residências, destaco ainda algo que temos desde a última edição, que é a feira, e teve uma adesão que não esperávamos, tanto do lado dos feirantes como do público, e ainda um megapiquenique, um megainvento para a família inteira, onde temos centenas de pessoas de várias idades, e é um acontecimento muito giro.
G. – Como defines, muito resumidamente, o Ti’Milha?
W. C. – O Ti’Milha é aquilo que muitos de nós gostaríamos de ver noutros festivais, por isso fizemos o nosso próprio festival. É um festival para se divertirem, queremos que dancem, esse é o nosso grande mote desde a primeira edição. Sempre tivemos bandas para a malta dançar e divertir. Ou seja, quem se quer divertir, que venha ao Ti’Milha, pelas atividades, bandas, ambiente e pelo próprio povo, porque muitas das pessoas que vêm são locais. Nós, ilhenses, e arredores também, gostamos muito de fazer festa e de nos divertirmos, e isso passa para o festival. Se te queres divertir, vem divertir-te connosco no Ti’Milha.


Fotografia de Fábio Silva
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