O Mistério da Vida é o subtema da 33.ª edição do FIMP, que vai fechar o ciclo temático em torno das Ciências e Políticas da Matéria Animada, explorado durante as duas últimas edições. Na conferência de imprensa realizada na passada terça-feira, dia 20 de setembro, em que foi apresentada a programação completa, Igor Gandra, diretor artístico do festival, afirmou que os projetos “propõem questionamentos sobre o vivo e o não-vivo, sobre o que define o vivo e o que é estar vivo nas vidas que vivemos.”
Ao Gerador, o diretor explicou que, apesar do subtema da edição, todos os espetáculos são bastante diferentes. Ainda que sério, Igor Gandra caracteriza o subtítulo O Mistério da Vida como uma espécie de “provocação” e defende que a “marioneta e as formas animadas em geral têm essa capacidade de tocar em coisas muito densas, de certo modo insondáveis, com uma leveza e uma agilidade um bocado desarmantes”.
Este ano, o FIMP conta com workshops e masterclasses destinadas a marionetistas, artistas visuais, estudantes de artes performativas e performers, sete espetáculos nacionais e sete internacionais. Igor Gandra admite que um dos objetivos do festival é a promoção do “encontro animado entre gente muito pouco uniforme”. Nas interações entre artistas e o público geral, existe também uma preocupação com a “ideia de transmissão” e de “experiência vivida”, destaca.
O espetáculo Still Life — Nove Tentativas Para Preservar a Vida, de Tim Grabnar, da companhia Ljubljana Puppet Theatre, vai abrir o festival e é uma das sete estreias nacionais. A companhia eslovena vai transformar coelhos embalsamados em marionetas e manipulá-los entre cenários hiper-realistas. Igor Gandra afirmou que a escolha da peça para a abertura do FIMP se prende com a sua dimensão política e pela “qualidade geral muito elevada, da manipulação, da construção cenográfica e das próprias marionetas e dos cenários”. O diretor garante que quem for ao Rivoli para assistir ao espetáculo, “não vai ficar indiferente”.
Corpus, de Xavier Bobés, vai ser a segunda estreia nacional e assinala a terceira vez que o artista espanhol pisa os palcos do festival. Já Jordi Galí vai apresentar o seu trabalho pela primeira vez, em Portugal. Em conjunto com a companhia Arrangement Provisoire, o coreógrafo traz T, uma peça que explora as relações entre o corpo do performer e os objetos com os quais interage em palco. O sul-coreano Jaha Koo também se vai estrear em território português, com a apresentação de Cuckoo. A peça vai levar os espectadores numa viagem pelos últimos 20 anos da história coreana.
Com a diversidade e o pluralismo como motes, o FIMP inclui também espetáculos para os mais jovens na sua programação. Luna Park, da companhia A Tarumba, e Spirals, do belga Tim Oelbrandt, constituem duas sessões dedicadas a grupos escolares. Igor Gandra frisa que, desde a sua primeira edição, o festival se tem assumido como um “lugar de aprendizagens” e o artista confessa que o primeiro contacto que teve com o FIMP ocorreu quando ainda era estudante.
Para o encerramento do festival, foram realizadas novas parcerias internacionais: com o FIT — Festival Iberoamericano de Teatro de Cádiz e o Festival de Otoño de la Comunidad de Madrid. Através da parceria com o Teatro Nacional São João, estas entidades vão apresentar Cómo Convertirse en Piedra. Na programação, o espetáculo é descrito como uma "peça mineral que nos diz algo sobre o que podemos encontrar escrito nas pedras e o que de pedra está escrito em nós".
A descentralização geográfica e social
Portugal, Eslovénia, Espanha, Coreia do Sul, Bélgica, República Checa e Chile são os países que vão subir aos palcos do FIMP. O “interesse”, a “qualidade de cada proposta" e a sua “adequação ao desenho geral do programa que, muitas vezes, surge por contraste” são os principais critérios que pautam as parcerias estabelecidas, explica Gandra. O artista afirmou ainda que uma das preocupações da equipa é a de tornar a vinda dos artistas e das companhias a “mais eficiente económica e ecologicamente”.
A 33.ª edição é também marcada pela diversidade dos espaços utilizados. O festival vai passar por vários locais do Porto e pelo Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery. Antes do espetáculo de abertura, realizado nos dias 7 e 8 de outubro, o filme Abertura da Abertura 2022 vai ser transmitido online e nos ecrãs das estações do Metro do Porto, parceiro do FIMP desde 2010.
A descentralização geográfica e social provém da vontade de abranger o maior número de pessoas possível. “Temos a clara noção de que os que frequentam os espaços culturais são ainda uma percentagem demasiado pequena da população”, observa Gandra, “ao utilizar os espaços do Metro do Porto, por exemplo, estamos também a garantir que chegamos a um público muito mais amplo e diverso”.
A evolução do FIMP: desde a sobrevivência à estabilidade
Igor Gandra dirige o FIMP desde 2010, após a morte de Isabel Alves Costa (1946-2009), que dirigiu o festival desde a sua fundação, em 1989. O diretor artístico recorda que os primeiros anos foram muito exigentes porque coincidiram com um período marcado pela austeridade. “Ao mesmo tempo que estávamos a aprender a fazer um festival, estávamos também a lutar para que ele não desaparecesse”, salienta.
Através do trabalho desenvolvido e do estabelecimento de parcerias, foi possível “estabilizar o orçamento do festival” de forma a “afirmar o projeto artístico e recuperar relevância internacional”, refere Gandra. O artista afirma que tem sido possível criar encontros entre artistas oriundos das manifestações mais disruptivas da performance com objetos e praticantes da marioneta tradicional europeia. “A transformação do festival ao longo dos anos também é o resultado destas experiências”, declara.
Para consultares a programação completa do FIMP, podes clicar, aqui.