Segundo os dados do Eurostat, o termo jovem ou juventude é utilizado para designar a população inserida na faixa etária entre os 15 e os 29 anos. O limite de idade do conceito é variável e dependente de factores societais como a frequência no sistema de ensino, a empregabilidade, a saúde, a situação habitacional, entre outros.
Perante a realidade actual, a idade máxima na qual se enquadram as pessoas jovens tem tido a tendência a aumentar. Em Portugal, entre os apoios à empregabilidade, habitação e empreendedorismo que têm como público alvo as pessoas jovens, em vários casos, o limite etário máximo de elegibilidade não se mantém nos 30 anos, mas chega aos 35 anos. Na definição estatística somos jovens até cada vez mais tarde, uma vez que é com uma idade superior que temos a possibilidade de sair de casa dos nossos pais, de começar a nossa família ou até ter um emprego estável.
Na Europa temos algumas discrepâncias e recorro ao exemplo da Dinamarca, onde estive a viver e trabalhar numa organização com jovens voluntários entre os 16 e 22 anos. Entre estes jovens havia uma variedade de perfis, mas todos eles tinham empregos mesmo que estivessem a estudar no ensino secundário ou na universidade ou até a tirar um ano sabático. Entre eles ninguém tinha receio de ficar desempregado e de não ter independência financeira, pois todos tinham a possibilidade de a conquistar antes de terem 18 anos. Neste país fazer uma Licenciatura ou Mestrado não é o mais comum, porque mesmo sem estes níveis de escolaridade, os empregos são bem remunerados e os jovens têm possibilidade de progredir na carreira.
Escusado será dizer que a realidade em Portugal é bastante diferente. Estamos num país onde estudar e trabalhar ao mesmo tempo são duas realidades difíceis de conciliar. Estamos convencidos que precisamos de um Mestrado, porque hoje em dia, uma Licenciatura não chega. Na verdade, continuar a estudar é uma oportunidade para adiar o desemprego ou um trabalho precário, pois já sabemos que quando tentarmos entrar no mercado de trabalho, o mais provável é encontrarmos más condições e instabilidade laboral.
Neste contexto, ser jovem não é sempre sobre os benefícios, mas muito mais sobre aceitar melhor o lado negativo de ser jovem. Constantemente ouvimos que ainda temos a vida toda pela frente, que mudar de trabalho como quem muda roupa é sobre adquirir experiência e mais vale um emprego que dê para juntar um bocadinho dinheiro do que nada.
Para além deste domínio estatístico do termo juventude, ser jovem também tem uma carga emocional, ou seja, nós podemos ser jovens enquanto nos sentimos jovens. Ao fazermos 30 anos não recebemos um atestado e estamos condenados a ser adultos. Quantos de nós chegam a este patamar e não sentem que algo tenha mudado? Quantas vezes já ouvimos pessoas com mais de 30 ou 35 anos dizer que ainda se sentem jovens? E quantos de nós se deixam de sentir jovens pelo peso das responsabilidades muito antes dos 30 anos?
Em muitos casos há uma disparidade entre a definição e a realidade do que é ser jovem, mas acima de tudo, todos devemos ter a liberdade de sermos quem somos. Mas, que ser jovem, não seja uma desculpa para a precariedade laboral, para não termos a possibilidade de ter casa própria ou para termos que adiar os nossos sonhos por tempo indeterminado. Que sejamos jovens pelo sentimento de liberdade, aventura e independência, mas com condições para o sermos.
-Sobre a Margarida Freitas-
Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, queria mudar o mundo pela diplomacia, mas depressa percebeu que o seu caminho era junto das pessoas a fazer voluntariado nos mais variados contextos, logo adoptou o lema do ano sabático para a sua vida e já andou um bocadinho pelo mundo. Com um desejo de trabalhar em intervenção humanitária, mas com um grande cepticismo sobre as práticas das grandes organizações no Sul Global está a concluir o Mestrado em Estudos de Desenvolvimento no ISCTE.
Em 2020, juntou 9 amigos e fundou a Associação Youth Cluster com o objetivo de dar as mesmas oportunidades que já teve a outras pessoas jovens residentes em Portugal. Através do seu trabalho na Youth Cluster e, em cooperação com outras organizações, tem reivindicado por igualdade de oportunidades e melhores políticas para a juventude.
Nos tempos livres adora googlar sobre coisas improváveis.