Junho é sinónimo do início dos dias de verão, da maresia e das esplanadas que preenchem estados de espírito. Mas, para muitos estudantes, é também sinónimo dos exames nacionais do Ensino Secundário, que têm sido um fardo pesado e injusto, subvertendo a verdadeira missão da educação.
Ao converterem-se no principal critério de acesso ao Ensino Superior, estes exames retiram à escola a sua capacidade primordial de educar e formar para uma participação ativa e consciente na sociedade. A pressão desmedida, a ansiedade crescente, a competição desenfreada — tudo isto em nome de um sistema que não serve os interesses dos estudantes, mas sim a perpetuação de desigualdades históricas e socioeconómicas.
As promessas de igualdade que os exames nacionais deveriam cumprir são uma miragem. Em vez de servirem as promessas de “nivelar o campo de jogo”, apenas acentuam as disparidades, disparidades essas que não deviam caber numa escola pública de Abril: basta pensarmos no mercado de explicações e ao acesso aos recursos extras que outras camadas sociais nem sonham, e assim, a educação transforma-se numa corrida onde nem todos temos o mesmo ponto de partida.
Não só esse sistema perverso coloca os estudantes num clima de competitividade e num clima de desigualdade social, em condições por vezes subumanas ao desvalorizar-se o direito a uma avaliação contínua e integrada, que respeite os seus ritmos e modos de aprendizagem, e que reconheça o valor do seu desenvolvimento ao longo do tempo, este sistema acaba também por desmantelar as funções principais do que almejamos e sonhámos para um projeto educativo em liberdade.
Em vez de cultivar o pensamento crítico, a criatividade e o trabalho colaborativo, escolas e professores são compelidos a focar-se em rankings e resultados de exames. A aprendizagem torna-se mecânica, a descoberta é sacrificada em prol da memorização, e o sentido mais profundo da educação — o de formar seres humanos completos e conscientes — é esmagado. Testemunhamos uma desvalorização progressiva da educação para a democracia e do trabalho de projeto, elementos fundamentais para uma cidadania plena. Da construção de projetos de vida e de investigação, de definição do que queremos enquanto sociedade, da formação plena.
Urge, portanto, iniciar-se o debate sobre a criação de um novo modelo de acesso ao Ensino Superior, que transcenda os exames nacionais e os numerus clausus: precisamos de instrumentos de avaliação que sejam justos e inclusivos, e uma escola pública que não se renda à pressão do imediatismo contra a avaliação contínua. Só assim poderemos garantir que a educação cumpre o seu verdadeiro propósito: emancipar mentes, igualar oportunidades e construir uma sociedade mais justa e democrática.
Nos 50 anos de Abril, já era mais que tempo de começar a lançar as bases de uma nova era educativa, sem as amarras de um modelo que prova estar falido diariamente. Porque a luta pela educação também é a luta pela liberdade e pela igualdade. Não se estar a iniciar esse debate, é sinal de que iremos continuar - infelizmente - a falhar a toda uma geração.