Após uma primeira edição dedicada, em parte, à memória colonial portuguesa, o ciclo Afro-Portugal 2024, a decorrer entre 1 a 15 de novembro, passa a focar-se no presente e na reflexão sobre possíveis futuros. As complexidades dos movimentos memorialísticos, a circulação de culturas e as identidades africanas e afrodescendentes têm sido alguns dos temas explorados através das iniciativas programadas.
“Interrogar-se-á a própria questão da negritude e da afrodescendência, a partir de trabalhos artísticos que partem dos ‘passados para futuros mais que perfeitos’”, lê-se no documento de apresentação do programa. Em entrevista ao Gerador, Catarina Martins, curadora do evento e docente na Universidade de Coimbra (UC), explica que um dos objetivos do ciclo passa por evidenciar as “várias camadas e ramificações” destas problemáticas, através de áreas artísticas como o teatro, a música, a literatura, a performance e as artes visuais.
No dia 7 de novembro, o Café TAGV vai receber a conversa-debate “Panorama das Artes Africanas e Afrodescendentes em Portugal”. O evento junta Carlos Antunes, diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra e da Bienal Anozero, José Miguel Pereira, diretor artístico do Jazz ao Centro Clube, e Raja Litwinoff, responsável pelo projeto editorial Falas Afrikanas, centrado em torno de obras de autoras e autores africanos.
Já o Colóquio Afro-Portugal 2024, organizado por estudantes de doutoramento da Faculdade de Letras e da Faculdade de Economia da UC, vai ter lugar no Teatro Paulo Quintela, na Faculdade de Letras, e no Centro de Estudos Sociais. “Pensar para melhor agir e agir para melhor pensar” é o mote do evento, que conta com duas conversas e um momento de confraternização.
O mote corresponde a uma frase de Amílcar Cabral que os estudantes dividiram em duas partes. “A primeira parte é mais académica: estudantes e convidados vão apresentar ideias trazidas por vários pensadores e pensadoras africanas. A parte da tarde vai ser mais interativa e artística: em conjunto, vai pensar-se nas lutas contra o racismo e nas lutas pan-africanistas”, explica Catarina Martins. No final das conversas vai ser feita uma visita à exposição Novos Territórios, que reúne obras de pintura e fotografia de jovens artistas afrodescendentes e que está disponível até ao fim do ciclo.
No dia 9 de novembro, Vânia Andrade Puma apresenta a performance A’KUBATA, em colaboração com as Mulheres Negras Escurecidas e as Batucadeiras Bandeirinha. Na performance, as mulheres participantes “emprestam as suas vozes aos pensamentos identitários, dando forma ao espaço e questionando os limites entre o ser e o não ser”, lê-se no documento de apresentação do ciclo.
No mesmo dia, o Teatro Griot apresenta Ventos do Apocalipse, com texto, adaptação e encenação de Noé João. A peça parte do romance homónimo da escritora moçambicana Paulina Chiziane, a primeira mulher africana distinguida com o Prémio Camões (2021). “Cada cena, cada momento, leva-nos a lugares de memória: guerra, destruição, miséria, sofrimento, humilhação, ódio, superstição e morte, onde a fuga e os desvios são estratégias de sobrevivência, salvação e esperança […]”, declara o encenador.
O ciclo Afro-Portugal é apoiado pela Cena Lusófona, Casa da Esquina, Casa da Cultura da Guiné-Bissau, Faculdade de Letras da UC, Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas (FLUC) e pelo Centro de Arqueologia e Artes (FLUC).
Para consultares toda a programação, podes clicar, aqui.