É inevitável nesta altura do ano. Por mais que tenhamos consciência de que a mudança de calendário é apenas mais um dia que passa, não conseguimos, enquanto sociedade, evitar análises globais sobre os últimos 365 dias. Poderíamos escolher qualquer outro momento do ano, mas sentimos esta urgência precisamente agora, quando os primeiros dias se preparam para recomeçar.
Este período é feito duas vagas: a do balanço, que ocorre nas últimas semanas de dezembro, e a das intenções, que surge nos primeiros dias de janeiro. Os acontecimentos políticos, as iniciativas artísticas e os destaques informativos do ano encaixam na primeira; as inscrições em ginásios, as resoluções alimentares e as promessas de leitura surgem na segunda.
No fundo, falamos de partidas e chegadas: dos lugares onde já não nos encontramos para os novos lugares onde queremos estar.
Em 2024, o Gerador completou dez anos de existência. Não é fácil chegar a uma década. A maioria das pequenas entidades, empresas ou associações, não sobrevive tanto tempo. Os impulsos e a dinâmica inerentes à criação e manutenção de uma organização costumam sucumbir à vontade capitalista de obter resultados rápidos e à ingenuidade de quem acredita mais numa ideia do que numa folha de Excel.
Nós tivemos a sorte de resistir. Com muitos desafios e bastante criatividade, fomos encontrando formas de nos mantermos à margem do abismo. Estamos sempre a repensar a nossa forma de trabalhar, a procurar novas possibilidades de financiamento e a tentar não perder de vista a nossa missão.
Mas esta é uma década da qual queremos partir. Este foi um ano rigoroso, o mais exigente da nossa ainda curta história. Passámos demasiado tempo a subsistir e pouco a agir; demasiado tempo a tapar buracos nas contas e não tanto a preencher os espaços vazios na sociedade.
É essencial refletir sobre por que razão este foi o ano mais complexo. Se há dez anos atrás existia algum desinteresse em discutir os temas que abordamos (informação, cultura e educação), agora parece haver uma vontade ativa de pôr tudo isso em causa. E nós sentimos esse embate diariamente.
A forma como a informação, a cultura, a educação e a ciência são atacadas hoje em dia pouco se assemelha ao que acontecia há uma década. Os movimentos populistas esforçam-se por criar as condições para que as pessoas acreditem em “verdades alternativas”, apoiando-se em insatisfações legítimas e na invenção de novos medos, capazes de abalar os sistemas em que vivemos.
Essas campanhas de desinformação vão, pouco a pouco, conquistando espaço nos media, influência no mundo empresarial e até contaminando setores políticos que, antes, se posicionavam mais ao centro.
Por isso, estamos a chegar a um novo lugar. Um sítio em que o nosso papel é ainda mais decisivo, mas para o qual não estávamos totalmente preparados. Agora, não basta ser proativo em destacar as qualidades da cultura, da informação e da educação: precisamos de ser verdadeiros ativistas.
As chegadas fazem-se, também, de novos parceiros — pessoas e organizações que acreditamos partilharem a nossa visão. Em 2025, surgirão novos projetos, desenvolvidos com entidades que admiramos, portuguesas e internacionais, com quem temos vindo a preparar esta nossa nova fase. Dessas intenções falaremos nos primeiros dias do ano.