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Pergunta da Sorte com Carla Chambel

Carla Chambel, atriz, é natural da Amadora. Fez formação de atores na Escola Superior de…

Texto de Andreia Monteiro

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Carla Chambel, atriz, é natural da Amadora. Fez formação de atores na Escola Superior de Teatro e Cinema, tendo-se estreado em teatro, em 1995, com A Disputa de Marivaux, uma encenação de João Perry, no Teatro da Trindade. Vencedora do prémio Sophia de Melhor Atriz Secundária pelo filme Se Eu Fosse Ladrão Roubava de Paulo Rocha, é também locutora e já participou em várias telenovelas. Desde 2014, é vice-presidente da Academia Portuguesa de Cinema, onde produz anualmente a participação portuguesa no EFA Young Audience Award. Em março de 2019, foi um dos nomes escolhidos para integrar o “passeio da fama” que homenageia nomes do teatro português, na Praça da Alegria, em Lisboa.


Numa manhã ventosa de verão, foi no Museu de Lisboa – Palácio Pimenta que me cruzei com a Carla Chambel. De sorriso no rosto, ia cumprimentando um grupo de visitantes que por ela passava e, quando me viu, não hesitou em perguntar-me se já conhecia o palácio. Respondi-lhe que não, pelo que me levou numa visita rápida pelos jardins. Mostrou-me os murais do coletivo artístico Borderlovers onde podíamos ver rostos de nomes da música, teatro ou até literatura, uma descoberta recente que a fascinou, conta-me. Eis que chegamos ao Jardim Bordallo Pinheiro, com cerâmicas do artista português. Finda a visita, escolhemos um banco onde nos sentar. Vigiadas por um grupo de pavões que por ali passeavam, comecei a montar o jogo da Pergunta da Sorte, enquanto a Carla olhava para o mural do Sérgio Godinho, que diz ser um dos seus cantores favoritos. Expliquei as regras do jogo para, sem mais demoras, ingressarmos nesta viagem da sorte. O dado rola, e avançamos uma casa, que nos revela o número 1, em que nada acontece. O dado volta a assumir o papel principal e avançamos seis casas, indo parar à casa da Carreira, em que as cartas revelam perguntas sobre a vida profissional da artista.

Carreira: O que gostavas de fazer que ainda não tiveste oportunidade de concretizar?

Carla Chambel (CC): Cheguei aos quarenta e acho que é uma fase em que as pessoas, habitualmente, fazem um balanço do sítio onde estão, com quem estão, o que estão a fazer profissionalmente e, de facto, sinto-me um bocadinho nesse momento. Estou aqui neste desejo de dar um salto para encenar, ou dirigir uma curta, ou organizar um argumento para um filme. Acho que gostava muito de dar esse salto. Estou a pré-preparar-me para isso. (risos) Ou um documentário. Tenho várias coisas na calha. É uma coisa que gostava muito de concretizar.

Andreia Monteiro (AM): Fixe! Vais conseguir!

As atenções voltam a ficar viradas para o dado. Cinco casas à frente, voltamos a cruzar-nos com uma pergunta sobre Carreira.

Carreira: Qual foi a maior peripécia que te aconteceu num dia de trabalho?

CC: Deve ter que ver com um espetáculo, porque é geralmente ao vivo que acontecem as maiores peripécias. Já tive mais do que uma branca em cena, mas tive uma em particular em que eu sabia que havia uma professora que ia assistir ao espetáculo e alguém nos bastidores disse que aquela professora de voz gostava muito dos erres à frente. Pensei logo que o meu texto só tinha erres, credo. E começo a passar o meu texto todo com os erres à frente e entro em cena. Só me lembro de que começava com qualquer coisa como “o mar revolto”. Faço “o mar rrrr…” e não me lembro de mais nada! Naqueles segundos, só pensava se podia voltar a entrar, não era nada daquilo. Mas em espetáculo não podemos fazer isso, portanto fiquei ali naquele momento de tensão a pensar no que ia fazer. A minha personagem tinha uma particularidade que era poder desmaiar, o que iria acontecer mais à frente, e havia dois funcionários de hotel que me amparavam. No meio do “rrr”, lembrei-me de desmaiar, eles apararam-me. O meu colega foi extraordinário, o João Reis, porque me deu a deixa seguinte e, a partir daí, consegui continuar a cena. Mas por que raio quis fazer aquilo de pôr os erres à frente quando não estava preparada para isso? De facto, fazer coisas assim muito em cima da hora nunca resulta bem e foi uma grande peripécia.

Sem quaisquer peripécias no nosso caminho, a Carla volta a lançar o dado. Avançamos uma casa e somos introduzidas à casa do Pessoal, em que as cartas fazem perguntas sobre a vida pessoal da artista.

Pessoal: Qual foi a coisa que te disseram que mais te marcou até hoje?

CC: Não vou conseguir fugir dos espetáculos. Em tempos, fiz um espetáculo para escolas – o Frei Luís de Sousa – em que rodávamos o país inteiro com uma companhia pequena aqui de Lisboa, e representávamos o espetáculo para miúdos do décimo primeiro ano. Portanto, que estão com as hormonas aos saltos e que querem tudo, menos ver espetáculos do Frei Luís de Sousa. Em Lisboa, apresentávamos o espetáculo no Maria Vitória, que foi a minha experiência de fazer, não teatro de revista, mas de estar no Parque Mayer com esse espetáculo. Numa das sessões, a minha personagem era a Maria, portanto ela morre no fim, e no final, nos agradecimentos, na frisa que era mesmo em cima do palco, estava um rapazinho a abanar um papel enquanto batiam palmas. Eu reparei, mas não liguei muito. Os alunos foram-se embora e começámos a arrumar o palco, a desmontar cenário, luzes, etc., e vejo o papelinho pousado na frisa do teatro. Vou lá ver, abro e dizia assim: “Por favor, Maria não morra nunca.” Foi dos momentos mais bonitos que já vivi. É ligado ao profissional, mas é de facto das coisas mais bonitas que me disseram até hoje.

AM: Sim! É mesmo especial. Adoro bilhetinhos, por isso gostei desta história.

CC: É superespecial. Ainda tenho lá o bilhetinho guardado.

Depois da partilha de um momento tão bonito, avançamos duas casas e o jogo aumenta o ritmo. Chegamos à casa da Pergunta Rápida, em que temos cartas com perguntas de sim ou não que têm de ser respondidas sem pensar muito.

Pergunta Rápida: Doce ou salgado?

CC: Salgado. Sou mais dos salgados.

AM: Um croquete é melhor do que um pastel de nata.

CC: Sim, depende da hora do dia, mas sim. (risos) Acho que vou mais para o croquete.

De atenções voltadas para o dado, este espelha o número quatro, levando-nos para mais uma pergunta Pessoal.

Pessoal: O que mais repudias numa pessoa e o que mais gostas?

CC: O que mais repudio ultimamente, porque isto também vai por fases, é a falta de civismo. A consciência dos outros, o espaço comum e quando isso não é respeitado é uma coisa que me repudia imenso. O que mais gosto, ou que mais tenho gostado ultimamente, é de ver a disponibilidade das pessoas que querem receber, aprender, mesmo que já tenham noventa anos, mas que tenham essa sede de continuar a aprender e partilhar conhecimento e não desistirem da vida. Gosto muito disso e espero prolongar isso em mim por muito tempo. Estou a trabalhar, neste momento, muito próximo dos seniores e é uma qualidade que admiro muito: essa humildade, mesmo numa idade mais velha, de continuar a receber dos outros e a aceitar que o conhecimento não é total e que podem continuar sempre a acrescentar conhecimento à sua sabedoria.

AM: Acho que isso é uma coisa que muitos jovens não têm, essa humildade, mas ao mesmo tempo há pessoas idosas que não desistem e que procuram novos desafios, como irem para a universidade com oitenta anos. Depois, há jovens que parece terem uma urgência para que tudo aconteça agora e, se não acontece, desistem logo. Mas se uma pessoa tem apenas vinte anos, porque é que desiste logo? É engraçado ver essa diferença.

CC: Exato.

Desta vez, o dado faz-nos avançar três casas, indo parar ao número 22, em que nada acontece. Avançamos mais duas casas e chegamos ao Sê Criativo, que lança um desafio que o convidado tem de resolver de forma criativa.

Sê Criativo: Pensa no teu maior defeito. Agora desenha-o, e eu adivinho qual é.

É com uma gargalhada que a Carla recebe este desafio e, embora admita que não é boa a desenho, diz-me que vai ser fácil. Passo-lhe uma folha branca e canetas para a colorir. Passados uns minutos, chega a minha vez de adivinhar o defeito da Carla. Podes ver o seu desenho em baixo.

Desenho do maior defeito por Carla Chambel

AM: Estás sempre envolvida em muitas coisas ao mesmo tempo e falta-te tempo para ti.

CC: Sim, mas é mesmo o caos. Desorganização. Embora as pessoas me digam que pareço muito organizada, é mentira! É tão mentira! Sou muito caótica a trabalhar, tenho coisas espalhadas por todo o lado. Tento fazer estas listas de tarefas, mas isto é já uma tentativa de correção do meu caótico. Sou muito caótica, e isso, às vezes, dificulta-me a antecipação. Gostava de ser um bocadinho mais antecipada nas coisas para poder cumprir tudo com mais tempo e é o caos. Consigo, mas é tudo muito em cima. O caos, a desorganização, é um grande defeito na minha vida. Há pessoas que não vão acreditar nisto, porque aparento ser uma pessoa muito certinha, mas não sou nada.

Desta feita, o regresso ao dado é também o retorno a uma casa nossa conhecida – Carreira.

Carreira: O que menos gostas de fazer na tua profissão?

CC: Maquilhar-me, pentear-me, escolher roupa. (risos) Está respondido! Mas faz parte e, às vezes, tenho de fazê-lo.

Após uma resposta dada sem quaisquer hesitações, o dado manda-nos avançar seis casas. Vamos parar ao número 32, em que nada acontece. A Carla volta a lançar o dado e, cinco casas à frente, damos de caras com mais um Sê Criativo.

Sê Criativo: Faz o trecho de uma música com as cinco palavras que te vou dizer.

Ao ver um pato passar perto de nós, a Carla pergunta-lhe se quer cantar com ela, mas não parece ter sorte. Olho em meu redor e escrevo as primeiras cinco palavras que me vêm à cabeça: pavão, pimenta, jardim, crianças e teatro. Com a tarefa dificultada de escrever uma estrofe com palavras que parece não terem nada que ver umas com as outras, e que não rimam, a Carla avança com coragem. Ouve a composição da Carla em baixo.

Trecho de uma música a partir de cinco palavras, por Carla Chambel

AM: Muito obrigada!

CC: Pronto, é o possível.

AM: Acho que devia ser o início de um concerto, numa daquelas aberturas antes do artista principal subir a palco.

CC: OK, vou pensar nisso!

Embrenhadas pelo riso, a Carla avança seis casas, com alguma tristeza por ver o jogo aproximar-se do fim. Vamos parar ao número 43, em que nada acontece. De seguida, o dado manda-nos avançar quatro casas e a sorte não nos bate à porta. Vamos parar ao número 47, em que nada acontece. Partilho que estou triste por ainda não ter tido oportunidade de fazer uma das minhas perguntas. A Carla pede para que saia o número um, três ou seis para que possa escolher uma pergunta minha. Finalmente somos ouvidas pelo dado e, três casas à frente, temos uma Pergunta da Sorte, em que posso fazer a pergunta que escolher na altura.

Pergunta da Sorte: Lisboa já tem um Passeio da Fama, na calçada da Praça da Alegria, que homenageia 35 personalidades ligadas ao teatro em Portugal. Destes 35, fazem parte nomes como Vasco Santana, Beatriz Costa, Nicolau Breyner, Eunice Muñoz, Ruy de Carvalho, Carmen Dolores, Raul Sonaldo ou Carla Chambel. Qual foi a primeira coisa que te veio à cabeça quando soubeste que, não só eras uma das primeiras 35 pessoas escolhidas, como irias partilhar uma calçada com nomes tão importantes do teatro português?

CC: Incredibilidade, loucura. Foi muito inesperado. O Vasco Morgado, o presidente da junta, telefonou-me a mencionar isto e a pedir-me autorização e fiquei muito sensibilizada. Claro que na escolha dos nomes, há uns que são irrecusáveis, que são inevitáveis. Depois há nomes, como será o meu, por exemplo, que terão vindo de uma sensibilidade pessoal, ou de um grupo de pessoas que assim o definiu e às quais estou muito grata de ter esse reconhecimento. Poder sentir que sou parte integrante de Lisboa através do teatro é uma grande honra para mim. Enquanto a calçada existir tenho muito orgulho em saber que há de haver pessoas, ou pombinhos, ou cãezinhos a admirar, com as suas particularidades, o meu nome. Fico muito feliz.

AM: Para além do teatro, também estás muito ligada ao cinema. És, nomeadamente, a vice-presidente da Academia Portuguesa de Cinema desde 2014. De que forma vês a evolução que o cinema português tem tido nos últimos anos?

CC: A maior fatia do orçamento da cultura vai para o cinema, mas ainda assim não é possível fazer tanto cinema em Portugal como seria desejável, porque a indústria é um peso financeiro muito grande. Acho que estamos a sentir nesta altura uma nova vaga de realizadores, que vêm de outras experiências, ou de outras formações, como é o caso da publicidade, da televisão, e que trazem uma outra linha de trabalho para o cinema, que acho que é de salutar porque traz outras linguagens, públicos e outros tipos de histórias. A dinâmica do cinema de autor, que era o que estava implementado no cinema português mais frequentemente começa agora a ter uma outra… não vou dizer concorrência, porque não acho que o seja, mas acho que é esta renovação que é muito boa de acontecer e que os dinheiros comecem a circular por diferentes pessoas. Ainda que o trabalho válido do cinema de autor o continue a ser, há realizadores a ficar bastante mais velhos e, portanto, naturalmente assim têm conseguido trabalhar até bastante tarde, como foi o caso do Manoel de Oliveira, o Fernando Lopes, o Paulo Rocha. E como temos ainda hoje o António Pedro Vasconcelos com oitenta anos a filmar. Acho lindíssimo e maravilhoso poder-se trabalhar, lá está, continuar a desejar, sonhar, concretizar projetos. Mas depois há esta nova vaga que acho ser muito importante para o cinema e que acho que tem aproximado o cinema do público. O cinema é, talvez, eu acho, a arte em Portugal que mais está em crise no sentido do público nas salas. Ou seja, há muita gente a ver cinema, mas vê-o de outras formas que não na sala grande de cinema. Se o teatro conseguiu revigorar-se e continua a ser uma linguagem que as pessoas têm vontade de ir ver ao vivo, o cinema já não é tanto assim. Acho que o maior desafio, neste momento, no cinema é continuar essa cultura do cinema em sala que tem um determinado ritual, e que as pessoas desaprenderam de alguma maneira, porque estão a ver cinema nas salas como veem cinema em casa e o comportamento não deveria ser o mesmo. O à-vontade que temos em casa não é o mesmo que devemos ter numa sala de cinema. Existem determinados rituais que não estão a ser muito respeitados, está-se a perder um bocadinho esse culto do cinema. Acho que o que tem mantido de alguma forma esse culto são os festivais de curtas, de cinema das várias temáticas, que têm conseguido de alguma forma segurar esse culto, mas que não chega ao público todo. Portanto, acho que esse é o maior desafio do cinema neste momento: trazer o público às salas e manter esse culto vivo.

AM: Já que falaste nas salas e neste problema de falta de público, também é importante olhar para as salas mais pequenas, não as que existem nos centros comerciais, mas as que têm uma programação diferente, fugindo aos filmes comerciais, e que muita gente não conhece. Que salas são estas que são importantes para as pessoas conhecerem de forma a não fecharem como aconteceu, por exemplo, com o Monumental?

CC: Temos vindo a acompanhar esse fecho progressivo – o King, o Saldanha, agora o Monumental. Há cinema para vários públicos e este cinema, se calhar, mais alternativo… não sei se é mais alternativo, mas tem outro tipo de linguagem, como é o caso do cinema europeu, do cinema indiano, ou de outras culturas que não a americana, que é a mais presente na nossa vida. Acho que tem que ver com uma questão de formação base das pessoas. Os miúdos, os filmes que vão ver desde pequeninos, são filmes de mainstream e, portanto, é normal que quando são jovens e começam a procurar os seus próprios filmes, continuem a ver os filmes mainstream e por aí fora. É um ciclo que se instala e que é muito difícil de se desvincular se não houver um outro tipo de investimento e acho que aí a educação é muito importante. Como temos um IndieJúnior, ou uma Monstrinha, que já promove junto das escolas alguma dinamização de um outro tipo de cinema. Eles gostam dos filmes, não sabem é onde os ir procurar, onde ir buscar. Há um plano nacional de cinema criado, mas que, segundo sei, não tem tido grandes resultados, portanto dever-se-ia repensar no plano nacional de cinema e como é que ele pode ter mais frutos. Devia existir um contínuo investimento das escolas a fazerem saídas ou terem uma programação nas próprias escolas porque, hoje em dia, as escolas já têm ótimos equipamentos para passarem filmes lá e, portanto, os próprios professores preocuparem-se em fazer uma oferta diferente. Já existem muitas plataformas onde é acessível alugar um filme por três ou quatro euros, e isso não é um grande investimento para a escola. Portanto, acho que é mesmo uma questão de educação. Só se as pessoas estiverem despertas para outras realidades é que vão perceber que têm outras escolhas. Também há uma responsabilidade das grandes distribuidoras como a NOS, o El Corte Inglés, que apesar de tudo acho que já dá uma oferta um bocadinho diferente e mais diversificada. Mas grandes empresas como a NOS também deviam de ter a responsabilidade de acolher outro tipo de filmes e não quererem só o lucro das salas. Era bom que houvesse espaço para filmes de circulação mais específica. É uma longa conversa.

AM: Sem dúvida.

Cada vez mais perto da casa final do jogo, temos ainda oportunidade, duas casas à frente, de ver respondida mais uma Pergunta da Sorte.

Pergunta da Sorte: Na tua página de Facebook, referiste-te a uma sessão de leitura de poesia como um alimento para a alma. Quando se lê poesia, que cuidados principais se deve ter para não se cair em excesso ou defeito?

CC: Bom, acho que quem diz poesia, mais do que um intérprete é um transmissor do poeta. Estou a falar e não tenho bem a certeza do que estou a dizer, mas vou fazer assim. É um transmissor do poeta e cada poeta tem a sua particularidade e essência. Há poetas que são mais exagerados, há poetas que são mais simples, mas também nós enquanto intérpretes podemos fazer exatamente o contrário, portanto acho que não há propriamente uma regra. É uma questão de sensibilidade de nos ajustarmos às palavras e de as fazermos passar por nós de uma forma entendível, correta no sentido da mensagem, da construção frásica, e depois o sentimento acho que vai de acordo com a sensibilidade do ator de forma a tocar o público. Acho que há poetas excessivos e é lindíssimo quando o ator tem esse rasgo e loucura de conseguir passar com esse excesso e depois há autores que são supersimples. Não é preciso fazer muita coisa e a mensagem está lá. Não acho que haja uma regra específica. É mesmo uma questão de sensibilidade, de entrega, de disponibilidade para nos ouvirmos nas palavras.

AM: Um bocadinho como acontece na música, não é? O ser intérprete de uma música. Há quem cante e o resultado seja apenas um conjunto de notas afinadas, e quem cante e consiga transformar a canção numa história que nos leva para outro sítio.

CC: Sim, acho que é isso. Como levamos o público connosco de forma a que não fique uma monocordia de palavras, que não fique leituras sem sentido. Se nós conseguirmos ultrapassar estas duas barreiras, já vai ser um desfrutar da poesia com alguma qualidade. Depois, se acrescentarmos a isso alguma sensibilidade criativa… também acho que vai depender do dia, do público que tivermos à frente, não é só uma fórmula.

AM: É uma reação do que também estás a ver no momento.

CC: Com certeza, sim.

Por fim, chegamos à Casa Gerador, a casa final do jogo, em que o entrevistado irá responder a uma pergunta do convidado anterior e deixar uma pergunta para o próximo. Ainda se lembram da pergunta dos Cordel? “Cara ou Coroa?” Podes rever a pergunta dos Cordel aqui. Vê o vídeo em baixo para saberes qual a resposta da Carla e a pergunta que deixou para o próximo convidado da Pergunta da Sorte. Vemo-nos em breve!

O mural que aparece na foto de capa deste artigo faz parte da exposição temporária "Sempre que chegamos ao sítio aonde nos esperam (autores em Lisboa)" do coletivo artístico Borderlovers. Até dia 28 de julho as paredes dos jardins do Museu de Lisboa - Palácio Pimenta estão coloridas com colagens de abundantes pinturas de grande formato, alusivas a autores, cenas e locais de Lisboa, em que os artistas Pedro Amaral e Ivo Bassanti traçam uma viagem iconográfica pessoal pela história das personalidades da cultura erudita e popular da cidade.
Entrevista por Andreia Monteiro

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