Com influências brasileiras, Tiago Nacarato apresenta-se na terceira pessoa como o “filho de um músico e de uma comerciante e, portanto, um desaguar desses dois rios”. Cresceu com a influência do pai e da música brasileira, sendo que o seu primeiro trabalho foi o revivalismo das obras do progenitor. “Depois desse percorrer, o Tiago é alguém que está à procura e a acordar.”
Aos 18 anos, o artista investiu na sua educação musical, inscrevendo-se na escola de música Valentim de Carvalho. Mais tarde, mostrou-se ao país através do programa The Voice e, em 2019, lançou o seu primeiro álbum, Lugar Comum, que aglomera algumas das suas maiores influências estéticas. O mais recente disco conta também com as colaborações de Ana Bacalhau, Paulo Novaes, Paulinho Moska e Salvador Sobral.
Este ano, Tiago Nacarato partiu em digressão por várias salas de espetáculos em Portugal e no Brasil. Para 2020, já foi definido um dos maiores desafios do ano: vai ser responsável pela composição de umas das 16 músicas a concurso no Festival da Canção.
Gerador (G.) – Lançaste há pouco o teu primeiro álbum, Lugar Comum. De que é que fala este disco? É inspirado em experiências pessoais?
Tiago Nacarato (T. N.) – O Lugar Comum tem duas razões de ser, falando no título. A primeira é que aglomera um punhado de canções que já foram feitas há mais tempo e outras mais recentes. Isto tudo sem pensar numa estética específica do álbum, mas sim servindo a música. Cada canção tem uma estética precisa. O Lugar Comum aglomera todas essas estéticas que orbitam no meu universo, porque as músicas são histórias pessoais.
G. – Sobre o nome Lugar Comum, se tivesses de escolher um lugar que adoras, qual escolherias e porquê?
T. N. – Isso dá azo a muitas coisas. Um lugar... Talvez a casa, porque, na verdade, a nossa casa pode ser em qualquer lugar no mundo, desde que estejamos com as pessoas certas. Por mais que a cidade tenha muitas coisas e seja bonita, só poderás ver a beleza da cidade quando tiveres uma experiência e, a partir daí, levas esse momento na tua memória. Nesse sentido, eu gostava de estar sempre em casa com as pessoas que eu gosto em qualquer lugar no mundo.
G. – Este disco contou com colaborações de outros artistas portugueses. Achas que faz falta criar estas redes entre diferentes artistas?
T. N. – Acho que faz muita falta... Aliás, não acho que faça falta, acho que é um potenciador de criatividade. Ou seja, é uma coisa que faz com que esta geração viva um momento importante na história, no sentido em que há dez anos não se ouvia música portuguesa. Estamos num momento dourado da música portuguesa. Sinceramente, acredito que o trabalho em conjunto potencia as coisas e faz com que a criatividade flua mais facilmente.
G. – Por falar em criatividade, como é que é o teu processo criativo?
T. N. – O meu processo criativo é basicamente... Tenho vários. Imagina, posso pegar na guitarra e estar a tocar acordes até que alguma ideia me agarre e, a partir daí, desenhar uma melodia por cima de uma primeira harmonia e tentar que a música me leve a algum sítio. Esse é o processo mais usado. Mas, depois, a reflexão no banho e o acordar são momentos importantes para a criatividade.
G. – Em 2019, passaste por vários locais em digressão, inclusive o Brasil. É importante para ti não esquecer as raízes?
T. N. – Acho importante, acho muito importante. É o reportório em que me sinto mais à vontade. Das duas vezes que fiz turné no Brasil fui muito bem recebido.
G. – Mostraste-te ao país através do programa The Voice. Consideras que estes concursos de talentos ainda ajudam a lançar carreiras ou é cada vez mais difícil para os artistas emergentes afirmarem-se na indústria musical?
T. N. – São duas perguntas diferentes. O facto de The Voice ser uma rampa de lançamento é óbvio que é. Isso nem deveria ser uma questão. Tudo funciona através de marketing de imagem e o programa faz com que a tua imagem chegue a um número de pessoas muito grande.
G. – Em muitos casos, os concorrentes acabam por não se conseguirem afirmar na indústria musical...
T. N. – Sim, isso é uma seleção natural. Quem realmente conseguir fazer a diferença consegue marcar o programa, seja num concurso ou noutro meio de comunicação qualquer. Ou seja, se essa pessoa participasse num programa de televisão iria conseguir fazer alguma coisa daquilo... E, às vezes, não dá nem à primeira, nem à segunda, nem à terceira. Até acho que os músicos mais a sério deveriam participar. Eu acho que o que importa é emanar amor e fazer boa música em qualquer circunstância. Se estamos a passar na televisão, então vamos fazer com que a nossa mensagem também passe.
G. – E as redes sociais também têm facilitado nesse aspeto.
T. N. – Sim, o YouTube rouba cada vez mais o público da televisão. Mas mesmo assim, acho que são públicos diferentes. Num país com 11 milhões de pessoas, há uma maioria que vê televisão. Primeiro porque os idosos não são tão desenrascados como nós. Depois, porque nas cidades menos desenvolvidas essa moda não pega tão rapidamente. Por isso acredito que a televisão ainda seja um grande meio de comunicação.
G. – Por falar em televisão, como reagiste ao convite da RTP para participares no Festival da Canção?
T. N. – Eu reagi bem. Claro que fico sempre contente por ser convidado. Eles convidaram-me no ano anterior, mas achei que seria muito cedo, ainda. Então, como este ano repetiram o convite, eu achei que era a altura certa.
G. – Já se sabe que vais ser compositor. E quanto à interpretação?
T. N. – Eu não vou ser o intérprete.
G. – E a escolha da pessoa que vai interpretar a tua canção foi ponderada ou já sabias quem ias escolher?
T. N. – Foi muito ponderada a escolha da canção. A escolha da cantora não foi assim tão ponderada. Ou seja, não demorei tanto a decidir, já tinha decido.
G. – O que achas do cartaz deste ano?
T. N. – É um cartaz fixe e muito variado. Está lá o Dino, e eu gosto muito do novo disco; está o Filipe Sambado, do qual não sou megafã, mas acho que está a fazer um bom trabalho; estou curioso também para ouvir o que vão fazer os Blasted Mechanism... Está mesmo muito variado.