No ano passado, a fotografia de um ferro de engomar a flutuar sobre o mar, em Cascais, tornava-se viral no Brasil. O seu autor? Hugo Suíssas. Este iate reinventado, popular nos memes do 9GAG, é apenas um dos exemplos da sua linguagem estética como instagrammer. Atualmente, com 62.7K seguidores, não sente necessidade de fazer publicações regulares. Acredita que a sua verdadeira responsabilidade enquanto instagrammer é a de esperar por uma fotografia que realmente surpreenda a si e aos outros. No fundo, uma imagem que consiga inspirar o dia daqueles que fazem o seu scroll diário e infinito no Instagram.
Hugo Suíssas é instagrammer há cerca de sete anos. Estudou Design no Instituto de Arte, Design e Empresa (IADE) e tem trabalhado em agências de publicidade. Contudo, esta é uma parte da sua vida que separa do Instagram, porque «ambos são criativos mas não se complementam». Neste momento, não tem os pés assentes em Portugal. Trabalha cá dentro e lá fora, entre colaborações com marcas nacionais (Casal Garcia, Dr. Bayard, Super Bock) e internacionais (Asus, BMW, Heineken) – algumas delas associadas ao mundo da fotografia, como a Fujifilm e a Canon. Nas suas imagens, procura inverter o expectável da realidade, através do jogo de perspetivas e da utilização de objetos revestidos de humor e improviso estético. As suas fotografias surgem frequentemente ao ar livre, em espaços abertos compostos por fundos e paisagens.
Num mundo onde a comunicação é cada vez mais visual, torna-se um desafio criar conteúdos digitais verdadeiramente surpreendentes. Nos últimos anos, os seus critérios de publicação tornaram-se mais exigentes. Se no início a espontaneidade do enquadramento criativo parecia suficiente para fazer uma publicação, hoje o discurso é outro: «Não se trata só de ser criativo e criar imagens giras e invertidas. O meu perfil consiste em criar imagens inesperadas, bem pensadas, nunca antes criadas, frescas e que façam as pessoas rir ao fim de um dia menos bom.»
Esta «responsabilidade inspiracional», como lhe chama, exige arquitetar as suas imagens com novas abordagens. Hugo Suíssas não se importa nada com este exercício, porque adora «suar por uma boa imagem» e prefere agir desta forma do que partilhar algo «só para manter os likes»: «Eu partilho uma imagem quando acho que nunca foi antes feita, quando é diferente o suficiente para inspirar alguém. Resumidamente, o critério é a palavra-chave.»
Com o #headownproject, procura revelar o que vai, quase literalmente, na sua cabeça.
Em todas as fotografias, no lugar de uma cabeça habita algo imprevisto: uma torre, um sinal de trânsito, uma nuvem, um candeeiro, uma boia, um ananás, uma fonte e outros por descobrir. «A verdade é que quem anda nesta vida de instagrammer está constantemente cheio de coisas na cabeça. Sejam perspetivas diferentes, cenários que nos inspiram, objetos adulterados ou ângulos invertidos. O resultado está à vista com várias fotos publicadas e vários torcicolos.» Neste momento, o hashtag do projeto conta com a participação de perfis internacionais a aplicarem a técnica do headown.
Em 2018, quando viu uma das suas partilhas tornar-se viral compreendeu que estava no caminho certo: «Sou capaz de influenciar, criar uma imagem e fazê-la chegar a outras comunidades e países. Mais importante que tudo, percebi que as pessoas se interessam pelo que eu crio e tento transmitir.» Neste momento, Hugo Suíssas não tem planos concretos para o futuro. Gosta de «deixar as coisas fluírem» da mesma forma que acontece no seu Instagram. Contudo, se puder escolher, quer estar mais próximo de projetos ambientalmente conscientes: «Eu preocupo-me com o nosso mundo e gostava de poder ajudá-lo ou honrá-lo através das minhas imagens.»
*Este artigo foi publicado na íntegra na Revista Gerador de março.