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Opinião de Tiago Sigorelho

Quanto vale a cultura para o turismo?

Sempre privilegiei a manifestação humana à pureza da natureza nos meus destinos turísticos. Admiro imensamente…

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Sempre privilegiei a manifestação humana à pureza da natureza nos meus destinos turísticos. Admiro imensamente a beleza natural, claro, mas fascina-me a intervenção humana e a sua complexidade construída ao longo de dezenas, centenas ou milhares de anos.

Adoro perder-me por cidades, pela arquitetura, pelas ruas, pela arte, no fundo por toda a dimensão material; como adoro ser envolvido pela forma como as pessoas interagem, comunicam, as suas crenças, os seus costumes e os seus valores, no fundo a dimensão comportamental.  

Na eterna discussão sobre a definição de cultura, há correntes de pensamento que determinam que a cultura é o produto de qualquer manifestação humana. Outras escolas de ideias aproximam a cultura apenas das vertentes artísticas, talvez a associação mais habitual para a maioria das pessoas. Lentamente, ao longo do tempo, admito que me vou deixando conquistar pelo primeiro conceito.

A cultura é, nessa perspectiva, a principal razão pela qual escolho os locais que desejo conhecer, tanto em Portugal, como no estrangeiro. Ora, quantas pessoas pensarão como eu? Ou, pelo menos, quantas pessoas dão um valor particular à cultura na escolha do seu destino turístico, mesmo que ele tenha a praia ou a montanha como protagonista?

A vontade de responder a estas perguntas já morava na minha consciência, mas foi acelerada pelo contacto com uma campanha do Turismo de Portugal, dirigida ao mercado interno, que termina com a frase “Visita o teu património e a tua cultura”.

A interação entre o turismo e a cultura merece um conjunto de reflexões. A primeira aborda, necessariamente, essa tal importância da cultura na decisão de escolha de um local de férias.

As paisagens, a luz, o Sol, as ondas, os rios e as serras são razões mais que suficientes para que se considere Portugal como destino. Mas, no meu inocente julgamento, são incompletas, porque, verdadeiramente, ninguém desconsidera as manifestações material e comportamental humanas que mencionei há pouco.

O património, a gastronomia e arte pública são intervenções humanas inevitáveis de serem consideradas. Assim como são a simpatia, a linguagem e a forma de nos relacionarmos uns com os outros.

Outra reflexão passa pela responsabilidade da cultura como promotor indirecto de turismo. Qual é a importância da vitória do Salvador Sobral para o turismo nacional? Que relevância têm os prémios vinícolas internacionais na entrada de pessoas no nosso país? De que maneira o trabalho de artistas portugueses que se expressam fora de portas, como o Vhils ou a Joana Vasconcelos, impactam as visitas ao nosso território?

A simples expressão do trabalho cultural é, por si mesmo, impulsionador da vontade de conhecer Portugal. E é, muitas vezes, através desta expressão que se detetectam mais claramente as características que nos tornam distintos de outros.  

A terceira reflexão foca-se na relação financeira entre a cultura e o turismo. Hoje afirma-se que o turismo beneficia a cultura porque traz mais pessoas a museus, a espaços culturais, a património. Mas será mesmo assim? Não será ao contrário?

Se a cultura é responsável por, pelo menos, parte da razão da vinda das pessoas às nossas cidades e vilas, então não serão os espaços culturais, os museus, o património, que têm uma acentuada participação do dinheiro dos contribuintes, os responsáveis por trazer mais pessoas para hotéis, restaurantes, comércio e imobiliário em geral?

Por último, uma reflexão mais premente, relacionada com este intervalo pandémico que estamos a percorrer nas nossas vidas. Quando a aposta do turismo interno vai crescer, durante os próximos anos, qual será a importância da cultura nos esforços de sensibilização dos portugueses?

Para muitas localidades portuguesas, principalmente aquelas que estão situadas no interior do país, a dimensão da intervenção humana assume um maior protagonismo do que a paisagística. Muitos são os locais portugueses que se fazem de castelos e de arquitectura únicos ou de costumes e hábitos originais.

Deixo aqui algumas questões que surgem, com naturalidade, como resultados destas reflexões:

Há uma estratégia clara de promoção da cultura portuguesa, tanto em Portugal, como no exterior? A cultura portuguesa, como matéria-prima do turismo, deveria ser activamente promovida como um todo, tanto lá fora, como cá dentro.

Pode a relação entre o turismo e a cultura ajudar construir uma coesão territorial mais forte? Precisamos de olhar cada vez mais para as zonas de menor densidade populacional e a proteção da cultura desses locais, associada à promoção turística, pode ser fundamental.

Será que parte do valor recolhido pelo Estado nos impostos relacionados com o turismo deve reverter directamente para o orçamento da cultura? Quanto maior o investimento em cultura, maior a probabilidade de encontrarmos mais vantagens para atrairmos turistas, portugueses ou estrangeiros, aos locais portugueses.

Se queremos um desenvolvimento sustentável do turismo, temos de dar sustentabilidade à nossa cultura.

Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre Tiago Sigorelho-

Tiago Sigorelho é um inventor de ideias. Começou a trabalhar aos 22 anos na Telecel e, pouco depois da mudança de marca para Vodafone, resolveu ir fazer estragos iguais para a PT, onde chegou a Diretor de Estratégia de Marca. Hoje é o Presidente da Direção do Gerador, a plataforma que leva a cultura portuguesa a todos.

Fotografia de David Cachopo

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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