fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Francisco Ferreira | Zero

A cultura como consciência coletiva para a sustentabilidade

Olhando para o ecrã vazio para iniciar esta crónica perguntei-me, que vou escrever? Da grande…

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Olhando para o ecrã vazio para iniciar esta crónica perguntei-me, que vou escrever? Da grande ligação entre a cultura e o ambiente? De pequenas e melhores práticas ambientais no dia a dia da cultura ou no papel da cultura como mudança de mentalidades? Boas práticas na cultura ou a cultura como consciência coletiva?

Numa crónica mensal cabem todos os temas e, pouco a pouco, por lá iremos passar. Mas, para começar, devemos abordar o básico, discernir definições e de que forma a cultura e o ambiente podem trabalhar juntos para uma sociedade em que o desenvolvimento sustentável seja a norma.

Para falar de cultura e desenvolvimento sustentável devemos estar todos de acordo com o significado destes conceitos. Mas será que existe acordo? Definir o conceito de cultura e desenvolvimento sustentável é mais complicado do que parece à primeira vista, mesmo para cientistas e políticos dessas áreas. São conceitos complexos e abrangentes. São ambíguos e vagos. Aqui terei de me socorrer de outros.

Raymond Williams definiu cultura como três ideias gerais e diferentes entre si: cultura como processo de desenvolvimento geral intelectual, espiritual ou estético; cultura como modo de vida particular, seja de pessoas, de um período ou de um grupo; ou cultura como conjunto dos trabalhos e da atividade intelectual artística. Estas ideias permitem-nos ver a cultura num sentido mais alargado ou mais restrito, mas podemos, sem dúvida, afirmar que a cultura abrange todos os domínios da vida humana. E, olhando para a cultura desta forma, então a maioria, senão todos, os problemas ambientais, sociais e económicos têm como base atividades e decisões culturais, uma vez que têm por base pessoas e ações humanas.

E a definição de desenvolvimento sustentável? Aqui temos de nos socorrer da famosa definição do relatório Brundtland, apresentado em 1987 - “Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Uma definição extremamente abrangente e, se calhar, idealista, que juntou, originalmente, as vertentes ambiental, social e económica. Rapidamente foi integrado nesta definição o pilar da cultura, das ideias humanas. Claramente, a cultura constrói a sociedade e a sociedade também muda a cultura. 

É assim que a cultura pode associar-se ao desenvolvimento sustentável, como mais um eixo de suporte numa sociedade que não quer hipotecar o futuro. Mas falar da cultura como mais um círculo que complementa os outros domínios não deve esconder a relação da cultura com a natureza, nem minimizar a sua relação com os problemas maiores da sociedade, embora seja fácil ter uma visão mais estreita da cultura como o domínio limitado das artes e do setor cultural e criativo, ou como contributo sócio-económico de uma nação.

Podemos pensar mais além, e discutir a cultura para o desenvolvimento sustentável. Se o ser humano apresenta uma panóplia de culturas e uma grande diversidade de valores, então a cultura representa a componente base das sociedades e das comunidades humanas. Neste papel, a cultura é o ponto de contacto entre os três pilares do desenvolvimento sustentável. Este papel pouco explorado da cultura como mediador entre a sociedade real e o ambiente é muito exigente, mas pode claramente ser decisivo. Infelizmente, nunca foi um papel que tenha sido explorado a fundo.

E se formos mais ambiciosos? Pensar na cultura como o desenvolvimento sustentável, em que existimos como uma civilização de base cultural ecológica que tenta perceber o lugar dos seres humanos no planeta e que reconhece os humanos como uma parte inseparável, mas não “dona” do mundo natural. Quando encararmos a cultura deste modo vemos um sistema cultural guiado por um desígnio, explicações de motivos, regras de conduta e por questões morais, que pensa no desenvolvimento sustentável como um processo, sempre em aperfeiçoamento e permanente transformação.

Quando olhamos para estes três papéis da cultura no desenvolvimento sustentável e pensamos nas gerações vindouras, então somos todos, verdadeiramente, cultura. Os intervenientes  mais envolvidos, os que lêem esta e outras crónicas, podem ser as personagens principais na mudança de paradigma, pela sua relação com a sociedade e podem imprimir dinamismo, abordar a controvérsia, fazer o contraditório, promover o debate para ajudar a criar uma narrativa estruturada e devidamente fundamentada que nos permita alterar a maneira como pensamos e atuamos com, e no mundo em que vivemos e que queremos salvaguardar.

É precisamente neste ponto que a ZERO e todos os atores da cultura se tocam. É aqui que surge o tema do ativismo individual e coletivo, na defesa do mundo natural, na alteração do comportamento da sociedade como um todo e da perceção do indivíduo como ser único, perante a realidade inevitável das ameaças ao ambiente em que vivemos. Porque aquilo que todos queremos é que o futuro das gerações vindouras não comece hipotecado à nascença. Queremos um desenvolvimento sustentável!

-Sobre Francisco Ferreira-

Francisco Ferreira é Professor Associado no Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-NOVA) e investigador do CENSE (Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade). É licenciado em Engenharia do Ambiente pela FCT-NOVA, mestre por Virginia Tech nos EUA e doutorado pela Universidade Nova de Lisboa. Tem um significativo conjunto de publicações nas áreas da qualidade do ar, alterações climáticas e desenvolvimento sustentável. Foi Presidente da Quercus de 1996 a 2001 e Vice-Presidente entre 2007 e 2011. Foi membro do Conselho Nacional da Água e do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Atualmente é o Presidente da “ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável”, uma organização não-governamental de ambiente com atividade nacional.

Texto de Francisco Ferreira | Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável
Fotografia da cortesia de Francisco Ferreira

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

7 Maio 2025

Chimamanda p’ra branco ver…mas não ler! 

23 Abril 2025

É por isto que dançamos

16 Abril 2025

Quem define o que é terrorismo?

9 Abril 2025

Defesa, Europa e Autonomia

2 Abril 2025

As coisas que temos de voltar a fazer

19 Março 2025

A preguiça de sermos “todos iguais”

12 Março 2025

Fantasmas, violências e ruínas coloniais

19 Fevereiro 2025

No meu carro encostada à parede

12 Fevereiro 2025

Sara Bichão

5 Fevereiro 2025

O inimigo que vem de dentro

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

3 MARÇO 2025

Onde a mina rasga a montanha

Há sete anos, ao mesmo tempo que se tornava Património Agrícola Mundial, pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), o Barroso viu-se no epicentro da corrida europeia pelo lítio, considerado um metal precioso no movimento de descarbonização das sociedades contemporâneas. “Onde a mina rasga a montanha” é uma investigação em 3 partes dedicada à problemática da exploração de lítio em Covas do Barroso.

20 JANEIRO 2025

A letra L da comunidade LGBTQIAP+: os desafios da visibilidade lésbica em Portugal

Para as lésbicas em Portugal, a sua visibilidade é um ato de resistência e de normalização das suas identidades. Contudo, o significado da palavra “lésbica” mudou nos últimos anos e continua a transformar-se.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0