“Máscaras de Azulejo” é a primeira faixa de Elxs Não Sabem a Minha Língua, o mais recente disco do rapper brasileiro Vinicius Terra, e resulta de uma parceria com a dupla portuguesa Lavoisier. O vídeo, dirigido e produzido or Victor Fiúza, saiu agora mesmo, e o Gerador mostra-te em primeira mão.
Depois de se terem juntado em “Versos Que Atravessam O Atlântico”, em 2013, Vinicius Terra e Lavoisier, o duo composto por Patrícia Relvas na voz e Roberto Afonso na guitarra elétrica, junta olhares e sensibilidades para, mais uma vez, repensar a noção de lusofonia. Desta vez, partem da história da travessia e a invenção do Brasil a partir das mulheres.
Elxs Não Sabem a Minha Língua pretende descolonizar, pelas palavras, a lusofonia, e o tema de abertura começa pelas pessoas mais silenciadas neste processo: as mulheres. “Não havia como silenciar o fato de as mulheres não serem citadas e, sobretudo, abrir a narrativa da obra. É o que há por trás das máscaras de azulejo que cobrem as casas e sobrados dos centros urbanos lusófonos. É preciso limpar a maquilhagem e descobrirmos o véu do retrocesso e do silenciamento. Já não há mais espaço para um mundo sem respostas.”, afirma Vinicius Terra no comunicado de imprensa.
Victor Fiúza, que também assina o vídeo de “Ok Ok Ok” de Gilberto Gil e o documentário “Racionários MC’s: Uma História Musical”, reuniu imagens colaboravas de vários artistas um pouco por todo o mundo, como resposta aos desafios da pandemia. Segundo o mesmo comunicado, “a ideia foi procurar a essência do silêncio da mulher por intermédio da primeira imagem que há na cabeça de uma sociedade ainda patriarcal: o corpo”.
Sobre a participação dos Lavoisier, Vinicius diz que “a guitarra do Roberto e a voz da Patrícia trouxeram o canto raivoso de uma sereia sufocada pelo lixo plástico nas profundezas do Atlântico. É desesperante e ao mesmo tempo lindo”. Além de Terra e Lavoisier, a faixa tem a participação do beatmaker 2F U-Flow, que participou na sua produção, e do músico Gabriel Marinho, que assina a direção musical do disco.
Apesar de “Máscaras de Azulejo” ser a faixa inicial do disco, Terra já tinha partilhado antes o videoclipe de “Adamastor”, a música que evoca o mito de Luís de Camões em Os Lusíadas, relacionando-o com a ideia de pós-verdade e o poder de fake news.
“Temos escolhido uma sequência de músicas (desconstruindo a ordem oficial do disco nas plataformas digitais) justamente para debater os temas cruciais e que possuam elo com este momento de isolamento social. A todo momento há um caso de feminicídio no Brasil. Sou homem cis e sinto-me na obrigação também de falar com a parcela do público que alcanço; de que essas feridas precisam de cura e prevenção, para que não continue a acontecer de maneira normativa e banal.”, acrescenta Vinicius Terra.
Uma nova versão remasterizada de “Máscaras de Azulejo” já está disponível nas plataformas de streaming. Podes encontrá-la aqui.