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Susana Menezes (LU.CA):“Nós podemos apresentar o mundo às crianças através do teatro”

Quando os espaços culturais se viram obrigados a fechar por força da covid-19, as soluções…

Texto de Carolina Franco

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Quando os espaços culturais se viram obrigados a fechar por força da covid-19, as soluções surgiram de forma espontânea e natural. No caso do LU.CA - Teatro Luís de Camões, em Lisboa, os desafios iam além das questões logísticas para artistas e a sua equipa: afinal, o seu público-alvo são as crianças e os jovens. Com a agilidade que já lhe é característica nestes dois anos de vida, o LU.CA encontrou soluções e começou a habitar o online, enquanto preparava um regresso para “perto das crianças”, ao vivo, num espaço por elas habitado em conjunto.

Hoje, dia 9 de setembro, este teatro para pequeninos (mas não só) apresenta a programação que lhe vai dar vida até ao final do atípico ano de 2020, marcada pela primeira co-produção internacional e um ciclo sobre poder. Falar sobre poder com as crianças? Falar sobre o Mundo com as crianças. É este o caminho a desbravar num novo normal, com as descobertas dos últimos seis meses cada vez mais sedimentadas.

Susana Menezes, a capitã deste navio que convida à descoberta da vida por meio da arte, conversou com o Gerador sobre o que se avizinha. “Acho que o teatro pode ser muito agregador”, disse-nos a certa altura. E, de facto, o LU.CA tem sido uma casa para todos os que lá quiserem ir — crianças, jovens ou adultos. Juntos saem da porta do edifício na Calçada da Ajuda com novas leituras sobre o Mundo (pelo menos, com mais possibilidades). 

Gerador (G.) - Numa entrevista que deu ao Público em 2011, quando estava no serviço educativo do Maria Matos, citou Isabel Minhós Martins para falar sobre a importância do teatro: “é um espelho onde nos vemos ampliados, para assim nos vermos melhor”. Esta ideia acompanha-a na hora de pensar a programação do LU.CA? 
Susana Menezes (S.M) - Essa citação fez parte de um espetáculo com um texto da Isabel Minhós Martins que se chamava “Daqui vê-se melhor”. Chamava-se “Daqui vê-se melhor”, primeiro, porque o princípio do teatro grego era em anfiteatro para que todos pudessem ver bem, e veriam seguramente melhor, e depois, porque quando nós estamos a ver um espetáculo de teatro, muitas vezes vemo-nos representados. Vemo-nos ali apresentados, e, por isso, conseguimos ver-nos melhor a nós próprios, porque nos vemos com o distanciamento próprio de quem está a assistir. E é por isso que nós, vendo-nos representados, nos vemos melhor; é como se estivéssemos a assistir a nós próprios. Quando eu penso no programa do LU.CA, penso nessa ideia, sobretudo quando estou a tratar de programar um ciclo, dado que é um ciclo no contexto do LU.CA, que acontece porque quer chamar a atenção sobre algumas matérias que dizem respeito a todos e à nossa vida contemporânea, e que são matérias que cruzam a vida dos adultos e a vida das crianças. Às vezes, recorro a esta ideia: de que forma podemos apresentar um assunto e que formatos artísticos podemos usar para abordar um assunto, para que depois ele possa ter um entendimento e o possamos ver sobre outras perspectivas e, por isso, também vê-lo melhor. 

A programação do LU.CA, normalmente, é pensada partindo de um pressuposto de que nós temos um público-alvo: que são as crianças e os jovens, num primeiro momento; e outra coisa em que também penso é como é que podemos, por um lado, aproximar as artes das crianças e, por outro lado, aproximar os artistas das crianças através da sua arte. Por isso, partindo deste pressuposto, pensamos que conteúdos são importantes abordar, e são os conteúdos que fazem parte da nossa vida. Depois, fazemo-lo usando o teatro, a dança, a performance, a música, as exposições, o cinema, as mini-conferências, os livros… usamos uma série de formatos diferentes para falar sobre assuntos que sentimos que são importantes falar num determinado momento. 

O LU.CA é um teatro à escala dos mais pequenos, mas onde todos cabem / Fotografia de Fernando Guerra disponível via LU.CA

G. - O LU.CA acaba por convocar diferentes áreas artísticas, tendo o teatro como ponto de partida. Sendo este um lugar assumidamente para os públicos mais jovens (e talvez o único no país), sentem a missão de criar um pólo artístico que crie relação com essas diferentes expressões artísticas?
S. M. - Sentimos uma enorme responsabilidade, desde logo, para com o nosso público. Programar para crianças é uma enorme responsabilidade, porque sempre que uma criança sai da sua casa ou da sua escola e vem até um sítio destes, como por exemplo o LU.CA, há toda uma energia que se organiza. Se estão com os pais, estes tomam a decisão, falam com as crianças, metem-se no carro ou no autocarro, fazem a viagem, compram o bilhete, entram na sala. Há uma série de rituais que são ativados para que esta criança assista a um espetáculo e esse é um momento importante. É um momento que, se não for positivo, não vai deixar memória. Porém, se for um momento positivo, é algo que as crianças vão querer repetir. E é esta prática de relação que, quando alimentada, vai naturalmente formar um público para uma relação continuada com as artes. Nós sabemos que crianças que desde cedo se relacionam com o teatro, com a música ou com a dança, e que crescem com uma prática de consumo com estas atividades, por consequência, quando crescem, têm uma relação também mais próxima com estas práticas culturais. Por isso, no fundo nós sentimos que, entre outras coisas, temos uma enorme responsabilidade de formar estes públicos, formar as crianças para esta relação com as artes. 

G. - Nesta programação também têm o LU.CA vai à tua escola, com a Ana Ventura. A Susana menciona a importância dessa memória afetiva desde cedo, e gostava de lhe perguntar em que medida é importante ter momentos de contacto com o teatro que não sejam apenas esporádicos, da visita de estudo que está relacionada com o livro do Plano Nacional de Leitura?
S. M. - A verdade é que, para nós, é muito importante passar esta ideia de que um espetáculo não acontece sozinho. Ou seja, acontece porque é o resultado de um encontro entre várias pessoas, de vontades, de uma série de pesquisa e de trabalho, e de um processo anterior ao de um espetáculo em palco. Muitas vezes, estes artistas, porque também são pessoas e também têm gostos, também têm desassossegos, preocupações e interesses, como qualquer uma das crianças, e como qualquer adulto, têm alguns livros que os influenciaram, que foram importantes por alguma razão, e que também os influenciaram neste espetáculo que está a ser apresentado. Por isso, pedimos sempre aos artistas que escolham cinco livros que andem na órbita dos espetáculos apresentados e que, de algum modo, foram inspiradores ou importantes. Paralelamente também temos quatro pequenos filmes que ajudam a documentar o processo, para que as crianças de facto tenham noção de que há um processo antes da obra existir. Muitas vezes, é uma entrevista que fazemos aos artistas, em alguns casos é a apresentação da banda sonora do espetáculo, e, portanto, estes são dispositivos que existem no edifício do LU.CA, para que, quando as crianças cá chegam, com os pais ou com a escola, possam ter uma relação mais próxima com elementos que foram importantes para a criação do espetáculo, e assim também se relacionarem. É uma forma também de nos aproximarmos mais; de estarmos mais perto, de sabermos mais do que o que nos está a ser dado no momento em que estamos sentados numa plateia. 

G. - São os temas que cada criação levanta que têm um espaço maior? A questão temática pesa mais no teatro para a infância, ou essa reflexão, que agrega a de que o teatro é uma ferramenta educativa, é um mito?
S.M. - Os ciclos do LU.CA agregam, normalmente, uma ideia central, e do ponto de vista temático investimos bastante nisso. Deixamos o resto da programação para abordagens mais livres, em função também do trabalho que está a ser feito pelos artistas num determinado tempo. Para lhe dar um exemplo, no fim de outubro vamos ter um ciclo dedicado ao poder, e este ciclo aconteceu porque, de facto, fomos influenciados por dois acontecimentos que, para nós, são importantes: tínhamos uma adaptação d’ A Quinta dos Animais, do Tonan Quito, pela Inês Fonseca Santos, a partir do texto original do George Orwell, que fala sobre a questão do poder; e depois, paralelamente, percebemos que um grupo de jovens garantiu publicamente ter influenciado um dos últimos comícios do Donald Trump, tendo como arma uma rede social. Isso quer dizer que, de repente, um grupo de jovens conseguiu ter mais poder do que uma das pessoas com mais poder no Mundo, que é o presidente dos Estados Unidos da América. Isto faz-nos questionar sobre o que é o poder, quem é que tem poder, quem é que pode exercer poder, e se, quem o tem, tem uma maior responsabilidade. Só tem poder quem o sabe usar? Aprende-se a exercer poder? Como esta questão é muito premente, decidimos organizar um ciclo à volta deste assunto. Isto também nos permite criar outra folga para o resto das apresentações de teatro, de dança, de música, para que elas possam ser mais livres e não estarem tão condicionadas a uma temática. É uma forma de também agregarmos uma energia à volta de um assunto. Deste modo, também achamos que chega mais facilmente às pessoas, e que conseguimos ter uma bolsa de programa mais robusta sobre um assunto. 

A Quinta dos Animais estará em cena entre 5 e 15 de novembro

G. - Quais são as narrativas que se vão poder encontrar nesta programação que desenharam?
S.M. - Para começar, já no dia 25 de setembro, temos um projeto, que é a nossa primeira co-produção internacional, “Los Protagonistas”, e que tem um dispositivo cénico que é uma grande instalação, e que funciona um pouco como um percurso, para grupos muito pequenos (entre 10 a 15 pessoas) e é uma forma de ter a nosso favor o facto de só podermos ter lotações reduzidas. Esta era uma ideia que já existia há muito tempo, de arrancarmos com uma co-produção internacional. À excepção deste caso muito particular, que funciona com grupos muito reduzidos, a seguir vamos tentar avançar com toda a segurança e com toda a confiança, do ponto de vista da higienização dos espaços e mantendo as distâncias de segurança - e nesse nível estamos a trabalhar muito para que o LU.CA seja como a nossa casa, um sítio confortável e onde as pessoas possam desfrutar confortavelmente de estar no teatro. A nossa programação terá a primeira criação da Sofia Dias e do Vitor Roriz, temos o Ciclo do Poder com este espetáculo d’ A Quinta dos Animais, temos um espetáculo do João Fazenda… portanto, no fundo, se calhar, a grande narrativa para este quadrimestre é: face aos acontecimentos recentes, com um grande confinamento e a estarmos todos fechados, nós vamos estar seguramente com as crianças. E porque foi a pensar nelas que estivemos a trabalhar este último meio ano, vamos estar em três locais diferentes, que são o LU.CA, na Calçada da Ajuda; online, no Spotify e nas redes sociais; e também a escola. Eu acho que esta é a grande narrativa: nós vamos estar contigo, seguramente, e estaremos nos sítios onde tu puderes estar. E como? Através da nossa programação regular, que cruza alguns formatos de apresentação e várias linguagens artísticas, e com um ciclo forte sobre o poder. E é muito curioso porque numa altura em que nós tivemos um poder muito limitado - nós não podíamos sair de casa, não podíamos abraçar as pessoas, não podíamos dar beijinhos, falar sobre poder é uma questão que, para nós, é muito importante — e sobretudo propor às crianças que pensem nisso connosco. 

G. - E, se calhar, desmistificar um pouco a ideia de que é cedo de mais para pensar determinados temas. 
S. M . - Eu acho que se encontrarmos a linguagem ajustada, é possível falar com as crianças sobre uma série de matérias. Naturalmente, só podemos falar com as crianças acerca de matérias sobre as quais elas conhecem o referente; eu não posso falar sobre a televisão e apresentar um conceito muito concreto sobre o que se passa na televisão, se a criança não sabe o que é a televisão, porque esta vai ser uma informação altamente incompleta. Mas eu posso ser altamente descritiva, também. Falar sobre conceitos muito abstratos sem referentes, às vezes, é mais complexo, mas nós estamos aqui também para encontrar os assuntos que devem e que podem ser discutidos num determinado tempo com as crianças e, por outro lado, encontrar os mecanismos para que elas entendam o que estamos a dizer. Posso dar o exemplo das mini-conferências sobre poder, em que vamos ter uma dada pela Sara Pereira, que é uma professora do departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho, investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, que vai falar com as crianças sobre a sua relação com a televisão. Vai haver outra conferência sobre redes sociais, que é sobre cair nelas como um peixinho vermelho ou navegá-las de bússola na mão, com a Joana Fillol, que também é investigadora do departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho. É possível falar com as crianças sobre estes assuntos. Já falámos com as crianças sobre as eleições, e elas não votavam. Mas a questão é que elas têm um lugar e ouvem falar sobre estes assuntos, em casa. É interessante terem mais ferramentas para os poderem interpretar e reagir sobre eles, dar a sua opinião esclarecida. 

Los Protagonistas é uma peça de El Conde de Torrefiel e restante equipa técnica

G. - Estando no Spotify, migrando a Biblioteca do Público para o online (com o projeto Livros ao Ouvido) e uma série de outras ações, acabam por ter diferentes meios de interação e reflexão para crianças e jovens. A pandemia ajudou a criar oportunidades de repensar formatos multimédia? Ao mesmo tempo, pode ser uma forma de chegar a jovens que já passam algum tempo no computador e no telemóvel, para encontrarem conteúdos dirigidos a si?
S.M. - Quando nós entramos em pandemia, fomos todos apanhados de surpresa. Começar a pensar no online, para nós, representou uma grande descoberta de um lugar de programação e de encontro com as artes, e a grande questão foi sempre, como continua a ser, que pensar para um formato particular é colocar os mecanismos próprios desse canal a nosso favor e a favor da criação, e não tentar que os lugares sejam uma coisa que não são. Um suporte online é um suporte online, um teatro é um teatro. Cada um tem a sua função e é muito importante que se aceite isso. 

G. - Ao mesmo tempo, a acessibilidade foi um dos grandes temas discutidos durante o período de confinamento - já o era, mas acabou por ganhar outro peso pela falta de conteúdos acessíveis a todos. Para vocês este é um tema já em reflexão, mas parece reforçar-se com iniciativas como os Livros ao Ouvido.
S.M. - O Livros ao Ouvido é um projeto que surgiu no coração da equipa, porque estávamos todos confinados e, numa das nossas muitas reuniões Zoom, surgiu esta ideia a partir da Biblioteca do Público, que tem vindo a ser construída com as sugestões dos artistas que têm vindo fazer espetáculos ou algum tipo de intervenção ao LU.CA, e que, por isso, é uma Biblioteca muito especial e particular. A nossa equipa escolheu um livro para ler, no fundo para que estes livros estivessem disponíveis, dado que agora não lhes podemos tocar e neste tempo de confinamento nem podíamos vir ao teatro. Os livros são lidos pela equipa com toda a generosidade, para que as pessoas que não podem ler ou que não têm condições de o fazer por alguma razão, ou simplesmente porque gostam muito de ouvir livros a ser lidos ao ouvido, possam ter acesso a estas obras. Acho que estamos todos muito contentes com o resultado final, sobretudo porque isto é verdadeiramente um trabalho de equipa, feito num tempo em que estávamos todos fechados, mas de algum modo quisemos continuar a estar próximos das crianças e ter um programa que pudesse chegar às crianças que, por exemplo, não podiam ter acesso a esses livros de uma outra forma. 

G. - E no LU.CA, quem têm sido os públicos, ao longo destes dois anos? 
S. M. - Quando o LU.CA abriu, nós herdámos públicos no Maria Matos, que vieram com a programação, de certa forma, e aconteceu-nos uma surpresa que foi sermos muito bem acolhidos pelas escolas da Ajuda e de Belém. Depois, sentimos que um público destes lugares foi crescendo, e eu acho que muito graças ao facto de termos uma programação que cobre várias áreas. Sabemos que há um público que vem mais ao cinema, que há um que vem mais aos espetáculos de dança, que há outro que vem mais aos espetáculos de teatro, mas o que temos sentido é que cada vez mais chegamos a outros territórios da cidade. Estamos com uma taxa de 95% das freguesias de Lisboa, e também temos escolas de fora de Lisboa que vêm cá, e por isso estamos contentes com o que tem acontecido até agora. Temos conseguido criar boas escolas vizinhas e isso deixa-nos muito contentes, por termos uma relação tão próxima com escolas que, no fundo, existem a uma distância a pé, e que numa situação de pandemia têm estado em contacto connosco e muito disponíveis para  vir aqui. Isso é muito gratificante, porque significa que confiam em nós e querem estar connosco. 

G. - Lembro-me de que no período de confinamento vocês tiveram um projeto que continuaram à distância, o Labor.
S. M. - O Labor só foi possível porque houve uma imensa vontade por parte dos artistas e um trabalho muito dedicado juntamente com os adolescentes que faziam parte deste projeto. Foi muito experimental, mas acho que foi muito interessante. Fizemos uma reunião de avaliação com professores, pais e alguns alunos que estavam envolvidos, e o balanço foi muito positivo. Foi arriscado, porque estávamos todos a experimentar algo totalmente novo para nós, num formato para o qual o projeto não tinha sido pensado inicialmente, mas foi muito positivo e tivemos inclusive pais que nos sugeriram continuarmos a fazer no mesmo modelo online para este ano. Mas eu acho que tudo isto foi uma grande aventura [risos]. 

G. - A relação intergeracional é uma constante para vocês - entre artistas, crianças, adolescentes, adultos dos públicos. Também pode ser a função do teatro aproximar, quebrar algumas barreiras desse tipo? 
S. M. - Eu acho que o teatro pode ser muito agregador. Acho, desde logo, que é uma forma de nós adultos também nos aproximarmos das crianças. Nós podemos apresentar o mundo às crianças através do teatro, e eu acho que isso pode ser bastante enriquecedor. Desde logo, nós existimos em muitas situações, porque o programa dos adultos virem ao teatro com as crianças ao fim de semana, que é uma prática que estimulamos, é uma forma de, muitas vezes, os adultos irem ao teatro. Curiosamente, muitas vezes os adultos vão com as crianças ao teatro, mas eles sozinhos não vão. Penso que, de algum modo, o teatro pode servir para fazer com que mais adultos possam ir ao teatro, além das crianças, que são o nosso público-alvo. Eu acredito que para os avós, se calhar, é mais fácil fazer um programa com os seus netos de vir ao teatro do que, por exemplo, de ir andar de bicicleta. E, portanto, acho que este formato pode ser favorável a este tipo de programas, porque do ponto de vista físico é mais cómodo.

G. - Há sempre livros, peças de teatro, filmes ou outro tipo de criações artísticas para crianças e jovens, mas que também relembram aos adultos o essencial. O LU.CA pode ocupar esse lugar?
S. M. - As Fábulas de Esopo, quando o Esopo as inventa, têm animais porque ele acha que os adultos não vão conseguir ouvir e assimilar uma história onde eles próprios são as personagens centrais. E, portanto, era muito mais fácil ver à distância e usar os animais para isso. Efetivamente, talvez, porque às vezes temos que usar um discurso um pouco mais simplificador de conceitos mais complexos, possa relembrar aos adultos algumas coisas que eles já se esqueceram. Lembro-me de, quando abrimos o LU.CA, haver um casal aqui da Ajuda, um senhor e uma senhora já com cerca de 80 anos, que vinham regularmente aos espetáculos de domingo à tarde. Não sei se para replicar uma prática que tinham com o antigo edifício, ou se porque se sentiam confortáveis. Há uma coisa muito curiosa: durante a semana estes espetáculos acontecem quando as pessoas com uma certa idade estão disponíveis. Muitas vezes, acredito que possa ser mais difícil ir a um espetáculo à noite, porque as pessoas estão mais cansadas, porém um espetáculo no LU.CA acontece sempre durante o dia. Não me espanta que as pessoas mais velhas venham assistir a estes espetáculos.

G. - No fundo, o LU.CA acaba por ser uma casa onde toda a gente cabe, não é?
S. M. - Cabe toda a gente até porque todos os adultos são, em potência, educadores— educadores, formadores, cuidadores. E por isso é que também temos programas de formação para professores, porque sentimos que é importante dar formação aos professores nestes enquadramentos para que eles depois, nas suas escolas e nas suas aulas, possam fazer abordagens aos espetáculos, e porque estarão em contacto com as crianças e lhes irão passar esta mensagem. 

G. - E o que podemos esperar do LU.CA nos próximos tempos?
S. M. - O LU.CA está a trabalhar para se manter sempre próximo das crianças, porque muitas vezes, mesmo sem nos tocarmos, podemos estar muito perto. E é isso que nós queremos fazer: continuar perto das crianças, usando os canais que temos ao nosso dispor para podermos estar lá. E, ao mesmo tempo, continuar a ajudar os artistas a criarem objetos artísticos de que as pessoas possam usufruir, seja em que formato for, mas sempre com o cuidado e a excelência que as crianças merecem.

Ainda podes dançar ao som da Playlist para acompanhar os refrescos de verão
Texto de Carolina Franco
Fotografia de Alípio Padilha da cortesia de LU.CA
O Gerador é parceiro do LU.CA

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