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Jorge Barreto Xavier: “Vai nascer um grande auditório em Linda-a-Velha”

No seguimento de uma outra entrevista publicada na edição 32 da Revista Gerador, damos hoje…

Texto de Ricardo Gonçalves

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No seguimento de uma outra entrevista publicada na edição 32 da Revista Gerador, damos hoje a conhecer mais a fundo as premissas e projetos que definem a candidatura de Oeiras a Capital Europeia da Cultura 2027.

Depois de terem lançado, a 14 de janeiro, o projeto Oeiras 27, uma marca estratégica que irá integrar a candidatura para este desígnio, Jorge Barreto Xavier, comissário da mesma, fala-nos dos eixos em curso, que se integram num conjunto de investimentos que irão rondar os 400 milhões de euros definidos pelo município para os próximos seis anos.

Tendo a cultura como mote central, a candidatura de Oeiras tem em curso um conjunto de reabilitações de património edificado, bem como um conjunto de iniciativas planeadas, que irão funcionar como alavancagem para diversas áreas, que vão das artes à gastronomia.

Gerador (G.) – De que forma a candidatura de Oeiras a Capital Europeia da Cultura em 2027, pode mudar a cidade e a região onde se insere?
Jorge Barreto Xavier (J. B. X.) ­– Este programa estratégico pretende ser um contributo às dinâmicas de autorrepresentação e às de heterorepresentação. As pessoas que vivem em Oeiras são de contextos muito diferentes e há diferenças em termos de caracterização socioeconómica, que nós estamos a procurar mudar e gerar uma dinâmica que vá para lá dessas fraturas. Portanto, dar um contributo através da cultura. Daí que todos os espaços que vamos dinamizar localizam-se em diversos pontos do território e que por isso vão gerar circulação específica, elos de mobilidade, que eleva o concelho no seu todo no modo como se vê e como é visto. A Câmara vai concretizar também um conjunto de praças urbanas, que vão corresponder a nós de rede, contribuindo para a ideia de cidade polinucleada. Temos nós de rede que são espaços culturais, outros que são as praças, que são reforçadas pelo conjunto das três ribeiras - a ribeira da Laje, a ribeira da Barcarena e a ribeira do Jamor - que têm sido requalificadas pela Câmara. As ribeiras juntam-se a um plano que visa criar corredores verdes que permitem ligar os vários pontos do concelho, associados a corredores pedonais e cicláveis. Esta leitura do território passa, também, por uma leitura integrada da mancha verde e da linha de costa. São projetos em curso na Câmara e a que Oeiras 27 trás reforço, através da visão do contributo da Cultura como elemento integrador.

G. – Que tipo de iniciativas estão planeadas concretamente?
J. B. X. – Por um lado temos um conjunto de projetos que passam pelo desenho urbano e que estão já a ser desenvolvidos, nomeadamente a reabilitação de uma fortificação marítima que faz parte de um acordo da Câmara como o Ministério da Defesa. Estamos a falar da Bataria do Areeiro, que vai ser o coração de um novo projeto museológico. Oeiras tem o maior conjunto de fortificações marítimas do mundo, o que obviamente tem um elemento diferenciador e distintivo, e que mostra uma relevância patrimonial do concelho que nem sempre é reconhecida. É claro que essas fortalezas nem todas estão hoje em dia ativas, várias delas aliás já não existem, mas ainda existe um bom conjunto, entre elas, a maior fortaleza marítima de Portugal, o Forte de São Julião da Barra. E este conjunto fortalezas merecem de facto uma visibilidade e uma presença que não têm. Por isso nós, não só vamos projetar um programa naquele edificado como vamos gerar um mapa relacional de trabalho nos 12 quilómetros da nossa linha de costa, desde o Aquário Vasco da Gama e lançar um programa sobre a agenda marítima sobre todas as dinâmicas relacionais que a partir dai se podem construir, usando essa frente marítima.

Depois vamos ter um programa para a área das indústrias criativas que nós estamos a desenvolver e para o qual também já foi alocado um edifício, onde se vai gerar um conjunto de dinâmicas para micro e pequenas empresas criativas, num espaço com oito mil metros quadrados, que vai ser um espaço operativo muito relevante, num triângulo entre o Tagus Park, Porto Salvo e Fábrica da Pólvora. Vai ser um hub de dinâmicas empresariais de ciência, inovação e tecnologia, a partir de uma ideia de economia da cultura.

“Oeiras tem o maior conjunto de fortificações marítimas do mundo”

G. – Portanto há um pensamento em rede muito presente na vossa candidatura, com a necessidade de se criar diálogo entre estruturas?
J. B. X. – Sim, e este mesmo palácio [Palácio Marquês de Pombal, em se situa atualmente a Câmara Municipal de Oeiras] onde estamos vai ser transformado numa unidade museológica de grande dimensão. A Câmara vai mudar de instalações para um edifício que estará pronto daqui a três / quatro anos e vai ser possível dar uma utilização de fruição pública mais forte a este local. Já temos uma equipa a trabalhar no projeto, que vai ser também um museu com dimensão internacional, agregando o Palácio, jardim e quinta, esta última onde se inclui a antiga Estação Agronómica Nacional.

G. – Em que parte do processo se encontra a transferência da Estação Agronómica Nacional para Oeiras?
J. B. X. – O edifício foi entregue pelo Estado Português à Câmara de Oeiras em outubro do ano passado e ainda bem, porque esteve décadas ao abandono. Não se percebe como é que a administração do Estado deixou chegar aquele nível de degradação um património que é muito relevante e que está neste momento a ser reabilitado. Ali vai nascer um auditório, na Casa da Pesca, que é um espaço que era uma zona de recreio do tempo do Marquês de Pombal, mas que tem uma beleza natural e uma acústica absolutamente extraordinárias e que transformado nos vai permitir desenvolver imensos projetos.

G. – Um dos eixos tem em conta, pp o reaproveitamento de um certo edificado.
J. B. X. – Sim, é uma candidatura racional. Nós olhamos para o território, valorizando-o, sendo que aquilo que estamos a fazer vai ficar para o futuro. Isso vai acontecer também com o Convento da Cartuxa que fica em Caxias, um edificado que neste momento ainda está nas mãos da administração central, mas que estamos em negociação avançada para que passe para a administração do município e para o qual temos um projeto muito forte na área da arte contemporânea. Nós estamos sempre a projetar em três layers: o layer local, tomando como referência o serviço à população; o layer nacional, dos interfaces na área metropolitana e com o país; e o layer internacional, com vista à projeção lá fora. Cada um dos projetos tem sempre estes três níveis de trabalho. Podia falar, também, da fábrica da Pólvora de Barcarena, que é a maior fábrica de pólvora portuguesa e onde estamos a preparar um projeto que ainda não vou anunciar porque não está completamente fechado.

Estamos também a criar dois grandes auditórios. Um com 1400 lugares em Linda-a-Velha, que vai estar preparado para receber grandes orquestras, óperas, dança ou teatro; e um outro que vai ser no centro de congressos em Paço de Arcos, que vai ter um espaço que pode permitir espetáculos até 7 mil pessoas e uma sala mais pequena que também irá rondar os 1200 lugares. Temos o Parque dos Poetas, a partir de onde posso destacar o parâmetro da valorização da poesia. Nós queremos ser claramente, a nível europeu, um território que valoriza a poesia de Língua Portuguesa com mais ênfase, ou seja, queremos ser uma ancora da difusão da poesia em língua portuguesa. Neste âmbito, temos um projeto de imersão da população na poesia e vamos já começar com um novo projeto que se chama Mostra das Artes da Palavra, que arranca em Fevereiro e que continuará durante o ano. É uma atividade que vai ter uma série de programas para as várias gerações e para o espaço público, onde haverá uma série de eventos e programas que nós vamos estimular na área da poesia, desenhado numa ótica de relação com a comunidade.

Outro parâmetro é na área da gastronomia, onde vamos ter vários projetos, negociando com universidades novos programas académicos nessa área que aqui vão ficar sediados. Neste contexto estamos a receber a marca de Capital Europeia da Gastronomia em 2020/21, onde temos uma série de programas que desenvolvemos dentro deste período - em dezembro, recebemos o Congresso Nacional dos Cozinheiros. Vamos fazer ainda um congresso internacional online na área da gastronomia e que também já tem a ver com a vertente da cultura imaterial. Portanto nós estamos a preparar projetos que vão acontecer todos os anos e que culminam em 2027 no contexto de uma marca que é a Capital Europeia da Cultura, mas que acontecem de qualquer maneira, independentemente de termos esse desígnio.

“Estamos a criar um Centro de Congressos em Paço de Arcos com espaço para espetáculos até 7.000 pessoas.”

G. – Estamos a falar de um investimento, certamente, avultado.
J. B. X. – É um investimento grande, mas que o município está preparado para fazer e fasear ao longo dos anos. O município de Oeiras felizmente tem condições endógenas para fazer este investimento. É óbvio que se houver apoios europeus e fundos de comparticipação nós vamos aproveitá-los ao máximo. Mas se esses fundos não existirem não é por isso que nós não vamos avançar. Estes projetos que falei estão validados pelo Executivo e vão ser faseado ao longo dos próximos anos. O Presidente da Câmara, Dr. Isaltino Morais, anunciou que Oeiras 27 se integra num conjunto de investimentos que rondam os 400 milhões de euros nos próximos seis anos.

G. –A componente digital já faz parte do processo de aprendizagem da pandemia, servindo também para esta candidatura?
J. B. X. – Hoje em dia, a componente digital não só não pode ser ignorada como é um elemento absolutamente relevante. Nós estamos a construir um portal que estamos a abrir  e que é uma componente importante deste trabalho – www.oeiras27.pt.

G. – Esta ideia de projeção da cidade do futuro acaba ter a cultura como catalisador de todas as restantes valências. Mas como é que se trabalha no sentido da sua projeção internacional?
J. B. X. – Cada um destes programas que mencionei vai gerar diálogos com uma série de organizações internacionais e vai gerar outra atratividade, seja das pessoas da área, seja dos visitantes em geral. Por exemplo, Oeiras Capital do Património Marítimo é uma marca muito forte e será em todos os programas que vai criar. Nós acreditamos que quem vier fazer turismo a Lisboa não vai deixar de fazer turismo numa mancha que pertence a essa Lisboa alargada, em que Oeiras, com as suas competências, nomeadamente na área empresarial, se pode evidenciar.

G. – Mas com esta candidatura Oeiras pretende, de alguma forma, mostrar que não precisa de estar perto do Lisboa?
J. B. X. – Não, é mesmo o contrário. Nós precisamos todos uns dos outros e neste território, quanto mais cada um dos municípios se valorizar, mais toda a área metropolitana ganha em termos do seu valor. E quanto mais a área metropolitana se valorizar mais o país ganha. Portanto, são parâmetros de valorização que não são antagónicos, mas que, pelo contrário, evidenciam dinâmicas de cooperação. A candidatura de Oeiras a Capital Europeia da Cultura será necessariamente relacional com Lisboa, Amadora, Sintra, Cascais e Almada, que são os municípios que são vizinhos, mas também com os restantes municípios da área metropolitana – já estamos a trabalhar, para além dos municípios referidos, com Mafra. Os municípios da AML estão, aliás, a criar um festival metropolitano que tem a sua primeira edição em 2021, com o intuito de gerar uma dinâmica de colaboração entre os 18 municípios da área metropolitana de Lisboa.

G. – Essa é uma colaboração que vai perseguir, na eventualidade desta candidatura sair vitoriosa?
J. B. X. – Sim, nós por um lado estamos a usar o projeto como elemento relacional dentro da câmara, para pôr os serviços a falarem uns com os outros. Como acontece muito em Portugal também em Oeiras nem sempre pessoas têm o grau de colaboração que nós desejávamos. A Câmara de Oeiras, não tenho dúvida, é uma das melhores câmaras do país e os seus técnicos e colaboradores são dos melhores do país, mas temos que melhorar. Esta candidatura também está a servir para gerar dinâmicas de interação. Depois dinâmicas de interação com os cidadãos e com as empresas usando a cultura como veio de ligação. Esse trabalho está a ser feito, naturalmente pela direção municipal que dirijo como pelas outras direções municipais e os parâmetros da cultura, do desenvolvimento social e da educação obviamente estão presentes neste projeto e, acima de tudo, a partir da liderança do Presidente da Câmara, que nos dá espaço para desenvolver Oeiras 27.

Texto de Ricardo Ramos Gonçalves
Fotografias de David Cachopo

Se queres ler mais entrevistas sobre a cultura em Portugal, clica aqui.

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